Durante a
reunião, não pude deixar de reparar em dois quadros: um à minha frente, que não consegui identificar, ainda que o estilo me seja familiar; outro
à esquerda, de pendor pop. Afinal, constatei no final, era uma obra de Artur Bual (1926-1999). Menos gestualista
do que seria de esperar, algo warholiana na repetição de temas. Um pouco na onda deste Alfama. Não sei o que pensaria Bual ao ver-se em ambientes ministeriais... Logo ele, tão pouco formal e tão pouco reverente... Em pano de fundo estiveram diferentes conceções de vida e distintas formas de perceber a sociedade. São, não tenhamos dúvidas, dois países num só.
Ao sair, para o ar frio e húmido do Terreiro do Paço, lembrei-me de um poema de José Gomes Ferreira. Um poeta de quem não gosto especialmente. Mas este poema é um pouco diferente de todos os outros.
Nunca ouvi um alentejano cantar sozinho
com egoísmo de fonte.
com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.
Não me parece pois necessária
outra razão
– ou desejo
de arrancar o sol do chão –
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.
outra razão
– ou desejo
de arrancar o sol do chão –
para explicar
a reforma agrária
no Alentejo.
É apenas uma certa maneira de cantar.
Sem comentários:
Enviar um comentário