Bucolismo a dobrar em tarde fria. Várias vezes pensei em deixar aqui este poema de um autor de Alcabideche. Reparei há pouco que nunca o fizera. As palavras deste letrado da região lisboeta, que ali viveu há quase mil anos, são uma verdadeira declaração de amor à terra que o viu nascer. É coisa a que dificilmente se resiste e que se pode manifestar de muitas formas...
Os moinhos de outrora eram muito semelhantes aos dos tempos de Ibn Muqana. Temos o registo graças ao trabalho de Artur Pastor.
POEMA DE ALCABIDECHE
Ó tu que habitas Alcabideche!
Oxalá nunca te faltem cereais
para semear
nem cebolas nem abóboras!
Se és homem resolvido precisas
de um moinho
que trabalhe com as nuvens
sem dependeres dos regatos.
Quando o ano é bom
a terra de Alcabideche não vai
além de vinte cargas de cereais.
Se rende mais, então sucedem-se,
ininterruptamente e em grupos
compactos,
os javalis dos descampados.
Alcabideche pouco tem do que é
bom e útil,
como eu próprio quase surdo como
sabes.
Deixei os reis cobertos com seus
mantos
e renunciei a acompanhá-los nos
cortejos ...
Eis-me em Alcabideche colhendo
silvas
com uma podoa ágil e cortante.
Se te disserem: gostas deste
trabalho?,
responde: sim.
O amor da liberdade é o timbre
de um carácter nobre.
Tão bem me governaram o amor
e os benefícios de Abu Bacre
Almodafar
que parti para um campo
primaveril.
Ibn Muqana al-Qabdaqi, poeta nascido em 1042 d.C.
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