sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

A PROPÓSITO DE BETONEIRAS

David Batchelor’s outlining of a encrusted, time-worn concrete mixer with garish green neon transforms a utilitarian object into a magical thing, highlighting its shapely form and drawing attention to its battered material form. Green Pimp, from 2006, also captures something of Blackpool itself in its combination of the earthy and the glamorous. It also reminds us of the labouring bodies and industrial machinery that typified the working worlds  of the places from which millions of tourists flocked to the resort in search of thrills and glitter.

in http://www.lightresearch.mmu.ac.uk/author/tim_edensor


A chegada de equipamentos à Câmara de Moura (e a compilação que ontem comecei a preparar) levou-me a esta obra de David Batchelor (n. 1955). Mais uma vez, a ligação entre o quotidiano e a sua transformação. A técnica no quotidiano que nos rodeia. Recordando Álvaro de Campos: "Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. / Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo". 

Lisbon Revisited (1923)


NÃO: Não quero nada. 
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 

Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 

Que mal fiz eu aos deuses todos? 

Se têm a verdade, guardem-na! 

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 

Não me macem, por amor de Deus! 

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 

Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. 
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 

Ó céu azul — o mesmo da minha infância — 
Eterna verdade vazia e perfeita! 
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflete! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

(Álvaro de Campos)

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