segunda-feira, 13 de novembro de 2017

TERCEIRO FILME: O ELO PERDIDO

No meio de infindáveis arrumações, o passado salta a cada momento. Retoma-se um estudo antigo (105 páginas para um primeiro rascunho, tenho de tentar ser mais contido...) e prepara-se um projeto de investigação sobre o urbanismo tardo-medieval da região alentejana). Coisas que as prioridades autárquicas tinham deixado para trás.

Às tantas, e no meio de dossiês antiquíssimos, dou com duas pranchas, que serviram de base ao genérico de uma curta-metragem. Uma obra-prima do design gráfico... Já quase tinha esquecido o assunto.

Frequentei, em 1980, um curso de cinema ministrado num clube que existia na Av. Columbano Bordalo Pinheiro: o Clube Micro-Cine. Era um grupo de entusiastas, que usava películas em super-8 (um formato hoje do domínio pré-histórico). Havia ali gente talentosa. Um dos melhores cineastas era um jovem médico, Nuno Monteiro Pereira, hoje um nome de referência na área da urologia.

Éramos convidados a desenvolver um projeto. Sem máquina, "colei-me" a um senhor que morava em Queluz. O senhor Sérgio Soares que, salvo erro, era bancário e teve a paciência e a simpatia de deixar que um puto de 17 anos lhe sugerisse um argumento. Era algo bastante pueril sobre o avanço da cidade sobre a Natureza.

O final incluía o filho do sr. Sérgio, numa tirada bastante demagógica e primária sobre o futuro. Foi o mehor que consegui e eu não sou propriamente o Orson Welles... Anos mais tarde, fiquei bastante aliviado ao ver que Grigori Alexandrov fez uma patacoada do género na remontagem do "Que viva México!". Dei um par de gargalhadas numa sessão da Cinemateca e as pessoas que estavam perto ficaram a olhar para mim naquela do "este gajo deve ser anormal".

Com a máquina do tempo ontem a funcionar consegui lembrar-me que a banda sonora de "Quadros de uma cidade" incluía Carlos Paredes e Mike Olfield (sugestões de Paulo Amorim, consultor da película)... Os filmes erma gravados sem som, depois era colocada uma banda, onde se fazia depois uma pós-sonorização. Isto foi há 37 anos. Do filme, visionado uma vez não voltei a ter notícias. O sr. Sérgio Soares deverá andar pelos 70 ou um pouco mais. É pouco provável que ele saiba deste blogue ou se lembre de mim. Daqui lhe deixo um abraço de agradecimento, pela solidariedade e bonomia que teve para com um rapazola atrevido e assertivo.



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