sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

REIS MAGOS

Sem vergonha!, é o que muitos dos poemas de Olavo Bilac me fazem pensar. Não é o caso do inocente texto que hoje reproduzo. E que é literariamente falando, muito inferior "aos outros". Mas é Dia de Reis e é adequado adequar.


Hoje, logo pela manhã, ri com gosto ao ver a página do facebook da minha amiga Paloma Canivet. As imagens pertencem à arte medieval britânica e reportam-se ao sonho dos Reis Magos. Dificuldades na representação plástica, ou falta de camas turísticas naqueles tempos, só podem ser essas as explicações. As iluminuras têm um toque racista: o rei Baltasar "empalideceu". Estas iluminuras são todo um manancial de hipóteses.


Do Taymouth Hours - c.1325–35 (British Library)

The Queen Mary Psalter - c.1310–20 (British Library)

Os Reis Magos, por Olavo Bilac



Diz a Sagrada Escritura
Que, quando Jesus nasceu,
No céu, fulgurante e pura,
Uma estrela apareceu.


Estrela nova … Brilhava
Mais do que as outras; porém
Caminhava, caminhava
Para os lados de Belém.


Avistando-a, os três Reis Magos
Disseram: “Nasceu Jesus!”
Olharam-na com afagos,
Seguiram a sua luz.


E foram andando, andando,
Dia e noite a caminhar;
Viam a estrela brilhando,
sempre o caminho a indicar.


Ora, dos três caminhantes,
Dois eram brancos: o sol
Não lhes tisnara os semblantes
Tão claros como o arrebol


Era o terceiro somente
Escuro de fazer dó …
Os outros iam na frente;
Ele ia afastado e só.


Nascera assim negro, e tinha
A cor da noite na tez :
Por isso tão triste vinha …
Era o mais feio dos três !


Andaram. E, um belo dia,
Da jornada o fim chegou;
E, sobre uma estrebaria,
A estrela errante parou.


E os Magos viram que, ao fundo
Do presépio, vendo-os vir,
O Salvador deste mundo
Estava, lindo, a sorrir


Ajoelharam-se, rezaram
Humildes, postos no chão;
E ao Deus-Menino beijaram
A alava e pequenina mão.


E Jesus os contemplava
A todos com o mesmo amor,
Porque, olhando-os, não olhava
A diferença da cor …

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