As crónicas que tenho assinado em “A Planície”, e que reproduzo no meu blogue pessoal, onde são lidas por centenas de pessoas (o que registo e agradeço), têm ultimamente sido dedicadas a temas alheios à política local. Não estou agarrado ao passado e não me parece adequado, como anterior presidente, estar permanentemente a fazer observações sobre o que se faz ou deixa de fazer.
Como nota prévia adicional direi que não vale ao atual presidente da câmara usar o velho (e nele muito usual) estratagema de se fazer de vítima, apontando o dedo aos que ousam criticar o estado das coisas. E o estado das coisas, no concelho de Moura, obriga-me a quebrar o silêncio e a falar claro.
Em 2017, houve um claro desejo de mudança. Isso ficou bem refletido nas urnas. O discurso vencedor foi doce e de sereia. Ele eram as portas abertas, mais a participação, mais o social, mais um sem número de obras que iriam surgir como cogumelos, mais o turismo, mais os braços abertos a todos.
Nada disso aconteceu. Rigorosamente nada. E quero deixar claro que não me entusiasma aquele discurso de “isto são obras começadas no teu tempo” ou “isto são projetos que a tua equipa deixou”. Porque o tempo da nossa terra, e o que nela se faz, não é o dos autarcas X ou Y. O tempo da nossa terra é de todos nós. Tal como o futuro a todos nós pertence. E a responsabilidade é de todos, de cada um individualmente e de todos, enquanto comunidade.
Foi justamente isso que me levou a escrever este artigo. O sentido da responsabilidade e o facto de ter tido, durante doze anos, funções em equipas que tinham como prática princípios de trabalho e de responsabilidade. Não me incomoda ver outros a terminar, ainda que sem mérito, obras antes começadas. Essa é uma questão menor. Mas por ver que a falsidade se tornou regra e que a política camarária, em Moura, se faz de fachadas e protocolos, de promessas adiadas e de projetos que um dia hão-de começar. De preferência conduzidos por outros – Convento do Carmo, restauros de igrejas, fábricas de baterias (?), Ciência Viva (?) – , que a capacidade de concretização desta equipa camarária é pouco mais que nula. Abandonaram-se projetos aprovados e adiaram-se intervenções. Pior ainda, a capacidade de diálogo com os trabalhadores e com a população não existe e a hostilização para com os que se opõem tornou-se regra.
Ao fim de dois anos e meio de quase nada de trabalho surge a pandemia. O covid tem as costas largas e serve de desculpa para a falta de iniciativa. Não devia, mas é assim. A comunicação em torno da pandemia é a única atividade visível, ao longo dos últimos meses, num dos principais núcleos urbanos do Alentejo. É muito poucochinho...
Li hoje, no "Público", esta frase, na crónica de João Miguel Tavares: “aquilo que ficará para a História será apenas o que nunca deixou de ser: um Presidente impreparado, um desastre político, um incapaz de trabalhar em equipa, um incompetente que falhou catastroficamente”. João Tavares refere-se a Donald Trump. Podia ter escrito sobre outra pessoa. Não falharia uma palavra.
Em bom e linear português: mourenses, está na hora de escolher outro caminho, de retomar o rumo perdido e de recomeçar.
Crónica, hoje, em "A Planície"
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