terça-feira, 31 de agosto de 2021

UM DIA NA PRESIDÊNCIA

Perguntam-me, por vezes (e mais vezes do que eu esperaria), “o que mais o marcou na sua experiência autárquica”? A resposta poderia parecer complexa, mas não é. Foi uma iniciativa denominada “Um dia na presidência”. Pela intensidade a que me obrigou, pela extraordinário interesse no contacto com aqueles jovens, que não tinham idade para votar, pelo imenso e inesperado interesse deles em coisas práticas da política local. Foram dias invulgares, emotivos e importantes (para mim foram-no, espero que para eles também).


Tudo começou no dia 14 de dezembro de 2015, na Escola Secundária de Moura, durante a quarta edição do MOURALUMNI, para a qual tínhamos convidado o eng. Carlos Valente. Às tantas um aluno dispara-me esta pergunta, só aparentemente banal: “diga-me uma coisa, o que é que faz um presidente da câmara?”. Fiquei mudo e sem saber por onde começar. Comecei a dar uma resposta lenta, “bom, há coisas que é difícil explicar por palavras, só vendo-as na prática”. Aí parei, pensando “é exatamente isso”. E anunciei que iria convidar alunos a acompanharem-me num dia de trabalho.


Eu próprio fiquei meio cético logo de seguida “quem é que está para aturar um cota um dia inteiro?”, para depois perceber que havia quem estivesse interessado e que aquilo ia ser uma grande desafio. A política tem de se aproximar dos cidadãos? Sem dúvida. De todas as maneiras. Essa seria uma delas. O primeiro dia na presidência teve lugar no dia 27 de janeiro de 2016. A iniciativa prolongou-se até ao ano seguinte e nela se envolveram cerca de 35 jovens.


Tratava-se no fundo, de responder a isto: o que faz um autarca, quais são os compromissos que tem de cumprir, quais as reuniões a quem tem de estar presente, como se prepara uma reunião de câmara, o que é o despacho da correspondência, como se decidem matérias financeiras, como se acompanha uma obra, como se discutem projetos com os técnicos etc. Todo um dia preenchido com a experiência do quotidiano de um político com responsabilidades locais. A ideia foi recebida ora com entusiasmo, ora com reserva (“mais uma chaladice do Canastro”), mas resultou e mil vezes a retomaria.


Começava-se às 8 da manhã, com uma visita às oficinas municipais, para se terminar a jornada, depois das 17 horas, na reunião de câmara. A democracia em sentido direto e com um sentido pedagógico (para eles e para mim). Num trabalho político que implica proximidade, disponibilidade e sentido de missão.


O início matinal era sempre marcado por alguma cerimónia da parte deles que depois se ia desvanecendo ao longo do dia. As perguntas sucediam-se e o interesse deles era genuíno e manifesto. Ao almoço, a conversa distendia-se e falava-se com descontração de muitas coisas. Uma experiência única e inesquecível, em que a palavra gratidão, da minha parte, é curta para exprimir a experiência humana vivida. Coisas que não se esfumam com o tempo, porque ainda cá estamos (os moços e eu) e porque aqueles dias deixaram marcas que a minha memória não apaga.


Crónica em "A Planície" (1.9.2021).

A fotografia data de 24.6.2017. Participaram nela quase todos os moços que andaram nesta iniciativa.


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