terça-feira, 20 de julho de 2010

A ARTE DO ESTATUTO

Digitalizei a fotografia a partir de um jornal. O senhor de ar descontraído chama-se Ridley Scott (n. 1937) e é um mediano realizador de cinema. Não é a sua profissão, contudo, que interessa, mas sim o facto de Scott se apoiar, com ar proprietário, num capitel coríntio.
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A arte dá estatuto. As peças arqueológicas também. Quando, há uns anos (1993/94), comecei a leccionar Arqueologia Medieval levava para as aulas recortes de revistas mundanas (a Hola! e coisas do género), facto que provocava gáudio nos alunos. Em muitas fotografias viam-se cerâmicas áticas, estatuetas etruscas, primitivos flamengos, servindo de décor à casa de astros maiores e menores da galáxia de Hollywood. Fenómenos e fascínios mais fáceis de entender num Novo Mundo que não conheceu o mesmo tipo de percurso histórico que identificamos noutros continentes.
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Ouçamos o grande Vitrúvio (séc. I a.C.) a propósito da ordem coríntia:
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Relação da ordem coríntia com a gracilidade da donzela
No que respeita à terceira [Vitrúvio referira-se antes ás ordens dórica e jónica], que se diz coríntia, apresenta-se com a delicadeza virginal, porque as donzelas, mercê da sua tenra idade, possuem uma configuração de membros mais grácil e conseguem no adorno os mais belos efeitos.
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A isto se chama poesia, e já que a mudez da pedra não faria supor tão apaixonada descrição.

8 comentários:

Anónimo disse...

... um mediano realizador de cinema ??? tss tsss

3 nomeações para a Academia

e arrecadou prémios em:
- Cannes Film Festival
- Emmy Awards
- Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films
- Boston Film Festival
- London Critics Circle Film Awards
- Bodil Awards
- DVD Exclusive Awards
- David di Donatello Awards
- Sant Jordi Awards
- Valladolid International Film Festival.

... que o género de filmes do Ridley Scott não sejam do seu agrado, tudo bem, mas agora considerá-lo mediano ....

LT

Jorge Bragança disse...

Qualquer realizador que tenha realizado uma obra como Blade Runner não pode nunca ser chamado de mediano. Mesmo que não tenha nunca mais feito nada de assinalável. Thelma & Louise também não é uma obra menor ou mediana.

Santiago Macias disse...

Respeito, bem entendido, as discordâncias. Mas não vejo nada de excepcional nas produções (nem mesmo em Blade Runner) de R. Scott, que é, como tantos outros um funcionário das majors. Fabrica sucessos e rende muito. Nenhum dos seus filmes perdurará.

Anónimo disse...

... Blade Runner perdura e perdurará e foi considerado há bem pouco tempo por um painel largo de cientistas como o melhor filme de ficção científica até aos dias de hoje ...

... nesta matéria, caro amigo, acho que se atirou muito para a frente e ficou fora de pé ...

... mas tudo bem, no entanto havemos de concordar sobre o filme " O Rapaz do Trapézio Voador" ...

tss tsss
LT

Santiago Macias disse...

Não vi este último filme. Tive sorte, segundo me disseram...

Anónimo disse...

Não conheço muitos filmes do Ridley Scoot mas, embora os que conheça não sejam muito o meu género, penso que alguns já terão deixado a sua marca no cinema. É, pelo menos, um realizador versátil nos temas o que o torna pouco monótono e algo imprevisível. O último filme que vi dele foi o Gangster Americano e, embora não seja uma obra-prima, acho que está acima da média relativamente a outros filmes dentro desse género.
"A arte dá estatuto"? - Eventualmente dará um certo estatuto aos olhos dos leitores da Hola e revistas afins. É algo semelhante a quem compra um carro topo de gama ou passeia um cão de raça pela trela na expectativa de tornar-se uma pessoa mais interessante. Depois falta tudo o resto e sobram sotaques e grandes colecções. Pode comprar-se arte mas são poucos os que conseguem fazer falar as pedras.

BB

Miguel Serra disse...

Poderá não ser um realizador mediano, mas creio que pouco interessa para a questão que o Santiago coloca no post. O que importará é esta atitude coleccionista das grandes estrelas em relação ao património cultural. Ter uma peça de inegável valor arqueológico num jardim ou casa privada torna-a visível apenas a um círculo elitista impedindo a sua fruição pública e fomentando o comércio ilegal de obras de arte (por sinal dos mais rentáveis). Se apenas pretenderam resgatar essas peças da incúria e do abandono, então o que deveriam fazer era doá-las a uma instituição pública como um museu. Hoje em dia quem quizer ver magnifícas colecções de arte suméria ou babilónica, terá mais sorte num rancho do Texas do que em muitos museus europeus (no Iraque é melhor nem falar). Resta saber se a imagem seleccionada pelo Santiago é referente a uma destas aquisições privadas, uma vez que pela foto não dá para perceber.

Anónimo disse...

a arte do estatuto! "estou" mais no estatuto da arte.quero lá saber que a arte suméria ou aborígene ou dita moderna esteja num rancho americano.o que me interessa é que as obras estejam nos locais em que sejam amadas(amador de arte)roubadas ou compradas.tanto faz que elas estejam num museu como numa casa particular desde que estejam conservadas e não amontoadas sem serem mostradas nas catacumbas da maior parte dos museus.é snob(já não me lembrava desta palavra)considerar que o capitel coríntio devia estar na europa (por exemplo)num museu que no jardim de uma casa americana ou mexicana ou de outra qualquer localidade. se scott( apesar da T&louise é para mim um realizador na média o que já é muito bom)preferiu tirar uma fotografia com o capitel tanto melhor e não tanto pior.é snobismo creio apesar de tudo.boas férias em VRST ou MG a praia preferida dos latifundiários alentejanos(esta foi uma provocação de verão devida principalmente à água barrenta de safara e tb de estar na BN antes que feche e outros estarem de férias e eu ainda não).com amizade. francisco caetano