sábado, 31 de julho de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO CHUMBO

O sistema de avaliações em Portugal, ao nível do secundário, faz-me lembrar aqueles instrutores de condução que fazem os possíveis por fazer passar instruendos completamente incapazes (aquilo que, normalmente, se designa como "marreta"). Vai o instrutor e diz: "agora, primeira, aceleraçãozinha, agora uma segunda, atençããããooo ao carro estacionado, não vale bater, um cheirinho de travões, iiissssoooo, mais um toquezinho no acelerador, agora vamos tentar estacionar, pare, agora marcha-atrás, sem arranhar a caixa, gira, gira, gira tudo, ups, já subiu o passeio, não faz mal, pode dizer-se que está estacionado; tá a ver que é fácil? mais um pouco e está no circuito de Jerez a pedir a meças ao Fernando Alonso".
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As nossas avaliações e o nosso nível de exigência andam pela bitola do instrutor simpático. Ninguém fica a saber nada, mas vai-se progredindo. A nossa Ministra da Educação veio hoje dizer que os chumbos quase nunca são benéficos. Decerto que não. E a OCDE recomenda aos países que reduzam o insucesso e adoptem o modelo nórdico. Não tenho nada contra a ideia, em princípio. Mas duvido que a aplicação dos princípios postos em prática na Escandinávia possam ter sucesso na adaptação à mentalidade mediterrânica. São pequenas coisas que não interessam aos nossos burocratas e aos adoradores de relatórios.
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Continuo a acreditar que uma parte significativa da questão reside, ainda e sempre, em factores como a exigência, o trabalho árduo e a capacidade de se transmitir aos alunos como se devem organizar para poderem estudar melhor. Tudo isto, desgraçadamente, falha de forma clamorosa. E ao chegar a hora da verdade, não há instrutor simpático que nos valha.
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3 comentários:

Anónimo disse...

Estamos no país do facilitismo, e concerteza é o que irá suceder relativamente á educação, para que hajam menos chumbos em Portugal.
É facilitismo para se receber um vencimento, sem trabalhar.
É facilitismo na justiça, basta ver o caso casa pia e outros.
Sendo eu alguém convicto nos valores da esquerda, decerto estou preocupado e um pouco confuso com a esquerda de hoje, porque vai dirigindo este país para um buraco sem fundo.
Será que a esquerda está falida?
Vamos ver, o tempo o dirá.

Anónimo disse...

Depende, se a instrutora for a sra Ministra da Educação, estamos à vontade no exame. E assim se diplomam os doutores e engenheiros de Portugal.

Anónimo disse...

o facilitismo nunca foi um valor da esquerda que é por natureza defensora do valor do trabalho com objectivos, mas do trabalho e não do contrário.
sendo eu professor nestes últimos 38 anos de vários níveis de ensino com excepção feita ao primário NUNCA como agora a NÃO transmissão de conhecimentos foi mais eficaz e efectiva.
a esquerda NUNCA* governou este país, porra!

*mesmo nos governos de Vasco Gonçalves não se pode afirmar com clareza que tenha havido uma política geral de esquerda por falta de tempo e de correlação de forças no terreno.houve efectivamente medidas que beneficiaram os trabalhadores.infelizmente não houve tempo para muito mais.
caetano