domingo, 5 de dezembro de 2010

FRANCISCO SÁ CARNEIRO (1934-1980) E ADELINO AMARO DA COSTA (1943-1980)

É a minha fotografia preferida de todas as que se reportam à tragédia de Camarate: um repórter pousa, displicentemente, o pé esquerdo num dos destroços do Cessna. A forma descuidada como se tratou o local caracteriza, de forma crua, um certo estilo de trabalhar e uma cultura do improviso que tem a fama de dar bons resultados. Quando os acontecimentos dão para o torto fica-se sem rede. Diga-se que só num país assim é que se permite que duas figuras chave de um governo viajem numa avioneta, sem segurança a acompanhá-los e num total improviso.
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Durante muitos anos Camarate foi uma questão clubística: a direita insistia no atentado, a esquerda no acidente. A minha incompetência na matéria não me permite opções. Mas gostaria de ter sabido a verdade, não me parecendo que hoje ela esteja ao nosso alcance.
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30 anos se passaram. O país mudou. Mas, por debaixo dos milhões da Europa, talvez não tenha mudado assim tanto.
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Na noite de 4 de Dezembro de 1980 estava a estudar para os exames do First Certificate, do Insituto Britânico. Interrompi a leitura dos apontamentos para ver o telejornal. Resmunguei contra a incompetência da RTP quando vi o ecrã do televisor todo negro e apenas com o símbolo da estação. Pensei na altura "mais outra barraca no emissor de Monsanto". Voltei para o quarto para ser alertado, minutos mais tarde, pela minha mãe "caiu um avião numa rua de Lisboa". Ainda pensei num acidente durante uma aterragem para, pouco depois, ela me dizer "caiu uma avioneta onde ía o primeiro-ministro". Não simpatizava com Sá Carneiro, antes pelo contrário, mas achei injusto e trágico que se morresse assim, de forma estúpida e inglória. Já com Amaro da Costa era diferente: tinha, e tenho, admiração pelo seu brilhantismo político, que era caldeado por um humor que tantas vezes falta nesta vida. Só que na altura tinha vergonha de o dizer.
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Facto adicional que me marcou: todos os países amigos enviaram para os funerais figuras de destaque. A excepção foi, significativamente, a Grã-Bretanha, que se fez representar por um funcionário de quarta categoria.

6 comentários:

babao disse...

Ca p'ra mim ainda houve ali uns quantos que levaram umas porcas e uns parafusos para casa : ))

PS Fizeste exame do First a um sabado ?

Anónimo disse...

... "Já com Amaro da Costa era diferente: tinha, e tenho, admiração pelo seu brilhantismo político, que era caldeado por um humor que tantas vezes falta nesta vida. Só que na altura tinha vergonha de o dizer."

tás aqui tás na rua !!!

tss tsss
LT

Anónimo disse...

O PCP não se fez representar no funeral de João Amaral. O Cavaco não veio ao funeral de Saramago. Enfim ódios de estimação. Em 1980 o Santiago estava a estudar em Inglaterra?

Anónimo disse...

Em 1980 segundo um Post colocado neste Blog estava no Liceu Nacional de Queluz

Santiago Macias disse...

Clarificações:
1. Os exames do FCE começaram no sábado, dia 6, e prolongaram-se até meio da semana seguinte;
2. Tou na rua de quê, camarada?
3. Infelizmente nunca fui a Inglaterra.
4. Não há nada como um leitor atento. Estive, de facto, no Liceu de Queluz até Junho; em Dezembro estava já na Secundária de Belém-Algés, a frequentar o 12º ano.

Curioso disse...

Numa reportagem passada há dias na RTP falava-se na famosa falta de pontualidade do PM Sá Carneiro. Atentado? Caso alguém tentasse colocar um mecanismo no avião, o mesmo rebentava antes do homem lá entrar, já que se atrasava sempre para tudo... e não era pouco!

E, amigo babao, ainda na segunda-feira cairam pedaços do motor de um avião da TAAG em Almada e as pessoas apanharam essas mesmas peças, mostraram à televisão. levaram para casa e sempre com a complacência da policia... Naturalmente em 1980 não houve nada diferente!