domingo, 10 de abril de 2016

ARTE, RELIGIÃO E MOURA: ANTÓNIO ESPERANÇA

ESCULTURA ANTIGA

Um dos aspetos mais interessantes em muitos autodidatas é a naïveté com que abordam as matérias que lhes interessam. Isso acontece tanto do ponto de vista temático, como no tratamento plástico. Um autodidata, se estiver despojado de preconceitos, consegue resultados verdadeirmente originais. É o caso de António Esperança, que tem na religião católica (nessa e não noutra) o seu tema central.

Há representações bíblicas, como a Pietà, a par de outras marcadamente locais, como a Nossa Senhora do Carmo. A imagem de Santo António chama também a atenção de António Esperança, que cria mesmo originalidades iconográficas na Senhora com o Menino, ao representar a Virgem com um pouco canónico globo na mão.

O talhe na madeira é seco e remete, por vezes, para representações de outro tempos. Os crucifixos têm laivos da arte medieval, ao passo que outras esculturas, em especial o S. Francisco de Assis, aponta para a arte indo-portuguesa setecentista. Uma involuntária viagem no tempo, alheia ao percurso formativo de António Esperança. Mais interessante se torna, por isso mesmo.

Continua a igreja do Espírito Santo a acolher acontecimentos culturais. Para isso foi adquirida, recuperada e colocada ao serviço da população. A exposição “Estudos de um autodidata: religião” faz parte de um percurso de permanente valorização do potencial da nossa terra. Que começou, há uns anos, nos projetos de regeneração urbana e que tem tido continuidade em várias iniciativas, que dão vida e cor a diferentes zonas da nossa cidade.

Foi este o curto texto que redigi para a introdução ao catálogo da exposição de António Esperança.  “Estudos de um autodidata: Religião” estará patente na Galeria do Espírito Santo, de 9 de abril a 31 de maio.