terça-feira, 26 de novembro de 2019

A INAUDITA AVENTURA DO ARCO DO VISCONDE

0 grande Homero às vezes dormitava, garante Horácio. Outros poetas dão-se a uma sesta, de vez em quando, com prejuízo da toada e da eloquência do discurso. Mas, infelizmente, não são apenas os poetas que se deixam dormitar. Os deuses também.

Assim aconteceu uma vez a Clio, musa da História que, enfadada da imensa tapeçaria milenária a seu cargo, repleta de cores cinzentas e coberta de desenhos redundantes e monótonos, deixou descair a cabeça loura e adormeceu por instantes, enquanto os dedos, por inércia, continuavam a trama. Logo se enlearam dois fios e no desenho se empolou um nó, destoante da lisura do tecido. Amalgamaram-se então as datas de 4 de Junho de 1148 e de 29 de Setembro de 1984.

Começa deste modo A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho, de Mário de Carvalho (n. 1944). Lembrei-me há dias, ao retomar uma imagem que apareceu algures no facebook. Ali se enleiam as imagens do Arco do Visconde, em Moura e qualquer outro sítio, que não consigo imaginar onde onde seja. O trabalho de recomposição é notável, mas também não consigo descortinar o objetivo.


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