A Guiné-Bissau volta a estar hoje no centro das atenções. Nova crise político-militar e novos-velhos protagonistas emergem. O homem forte do momento é o contra-almirante Bubo Na Tchuto, ex-chefe da Armada e que esteve, até há poucas horas, confinado às instalações da ONU na capital guineense.
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Quando estive em Bissau havia alguma tensão em volta deste militar, que se refugiara no início do ano no edifício da ONU. Nem ele podia sair do país, nem as autoridades guineenses ir buscá-lo ao interior do edifício. De acordo com a imprensa o edifício estava controlado pelo exército. Uma situação complexa e sem fim à vista.
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Eis que um belo dia me lembrei de ir fotografar uma belíssima árvore carregada de abutres que vira ao longe. Pus-me a caminho, a pé. À medida que ia caminhando dei-me conta que a tal árvore estava detrás do edifício da ONU. Pensei "isto vai dar chatice; com a tropa a controlar a área não me vão deixar passar...". Fui andando, sem vislumbrar nada de forças militares. Só havia calor, muito pó e ninguém à vista. Ao contornar o edifício dei com o dispositivo de controle: dois soldados, sentados em cadeiras de praia, junto ao muro exterior do edifício. Cumprimentei-os. Responderam em tom displicente. Nenhuma pergunta, nada de nada. Segui caminho até perto da árvore dos abutres. Às tantas um carro de alta cilindrada pára junto de mim. O vidro baixo e um jovem de ar próspero pergunta: "Precisas de boleia?". Agradeço e digo que não. Avisa-me: "Tem cuidado; esta estrada tem bandidos". Agradeço uma vez mais e fico sozinho no meio da estrada. Tiro outra máquina do saco e volto a fotografar com um rolo PAN F PLUS. Hei-de arrepender-me amargamente da experiência, semanas mais tarde. Regresso ao centro da cidade no meio do pó e sem ver bandidos. Os abutres ficaram imóveis na árvore, vencidos pelo calor da tarde.
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