sexta-feira, 29 de março de 2013

EIS MARROCOS

Ao sul e leste o Saará, a oeste o Atlântico, a norte o Mediterrâneo, a oriente desertos e a estrada natural do norte de África, a estrada das invasões, das especiarias e do Islão: eis Marrocos.

No mapa parece um cavalo deitado voltado para o Mediterrâneo com a garupa nervosa bem recortada sobre o Atlântico. A cordilheira do Atlas com os seus 4000 metros de altitude liberta-o da estepe e dos desertos do Leste. Depois os seus campos vão descendo de planalto em planalto, abrindo sobre o oceano os seus largos terraços de terras úberes. Atlas, o velho gigante, não sustenta o céu com os seus ombros possantes, mas sustém estes açafates mouriscos que podem abarrotar de cereais, de gados e de frutas. Um outro braço de montanhas corre paralelamente ao Mediterrâneo - é a cordilheira do Rif, muralha onde vêm quebrar-se as ondas invasoras.


O excerto que acima reproduzi é o início de Raízes da expansão portuguesa, de António Borges Coelho. A primeira edição, de 1964, foi apreendida pela PIDE. Tenho um exemplar da 3ª edição, que comprei em dezembro de 1979. O livro era de leitura obrigatória na disciplina de História, no 11º ano. Fiquei preso ao estilo de escrita e à elegância poética do autor. Ao seu jeito um pouco sardónico, também. Foi texto que me acompanhou por estes dias. A imagem é do Civitates Orbis Terrarum, de Georg Braun (1541-1622). Representa Ceuta. Foi lá que tudo começou.

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