quinta-feira, 28 de julho de 2016

CORES DE VERÃO: BARCOS

O vendedor de frutas está dentro de um barco. O cenário é tropical e quase idílico. Foi assim que Tarsila do Amaral (1886-1973) imaginou esta cena, em 1925. Na Praia da Rocha não há vendedores de frutas - a ASAE não deve deixar, imagino eu - , mas sobram os de bolas de berlim. Na Praia da Rocha também não há os barcos de outrora, mas sobram as propostas de passeios típicos. Mergulhemos, pois, na leitura, em Tarsila do Amaral  e num poema de Fernando Pessoa, que passou pelo blogue em 17.11.2010 (nessa altura com uma fotografia de Werner Bischof).


A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.

Fernando Pessoa - "Cancioneiro"

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