quinta-feira, 7 de julho de 2016

MAGNIFICAT

O magnificat, de Álvaro de Campos, parece-me próximo desta peça de arquitetura, misteriosa e fechada, que temos em Moura. Silêncio e recolhimento, uma fachada teatral, um volume que parece lançado em consola mas não o é, ilusão sobre ilusão. É uma das melhores peças desenhadas na minha terra, mas parece-me que pouco se repara nela.

Projeto de Appleton & Domingos, arquitetos


Quando é que passará esta noite interna, o universo, 
E eu, a minha alma, terei o meu dia? 
Quando é que despertarei de estar acordado? 
Não sei. O sol brilha alto, 
Impossível de fitar. 
As estrelas pestanejam frio, 
Impossíveis de contar. 
O coração pulsa alheio, 
Impossível de escutar. 
Quando é que passará este drama sem teatro, 
Ou este teatro sem drama, 
E recolherei a casa? 
Onde? Como? Quando? 
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo? 
É esse! É esse! 
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei; 
E então será dia. 
Sorri, dormindo, minha alma! 
Sorri, minha alma, será dia ! 

Álvaro de Campos, in "Poemas"

1 comentário:

Curioso disse...

Se nam fossem os cafés que bebo com o Kiko nam me safava...