O magnificat, de Álvaro de Campos, parece-me próximo desta peça de arquitetura, misteriosa e fechada, que temos em Moura. Silêncio e recolhimento, uma fachada teatral, um volume que parece lançado em consola mas não o é, ilusão sobre ilusão. É uma das melhores peças desenhadas na minha terra, mas parece-me que pouco se repara nela.
Projeto de Appleton & Domingos, arquitetos
Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia !
Álvaro de Campos, in "Poemas"
1 comentário:
Se nam fossem os cafés que bebo com o Kiko nam me safava...
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