Última cor desta parte do verão.
As casas, em sítios assim (Capri), viram as costas ao mar, por causa do vento. Talvez seja isso, não sei porque nunca fui a Capri. Podia ser uma imagem do Algarve ou do Magrebe. Ao fim e ao cabo, é um pouco de tudo isso. O génio de Henrique Pousão durou pouco, levado pela tuberculose (1859-1884). Esta tela data de 1882. Ruy Belo (1933-1978) foi outra pessoa que nos deixou antes do tempo. E este é um dos poemas dele de que mais gosto. O mar está em fundo...
O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e foi belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é vila do conde
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