domingo, 14 de fevereiro de 2010

LIVRARIAS DE PARIS

O mundo muda a cada instante. Muitas vezes gostamos da mudança. Outras vezes nem por isso. Mantenho fidelidade incondicional às livrarias. É das poucas fidelidades, para além do SLB, que me atrevo a jurar. Gosto das livrarias que não mudam. Nem de rua, nem de arrumação, nem de funcionários. E que ficam assim para a eternidade. Conheci em Paris várias livrarias dessas, em especial entre 1997 e 2005, onde as minhas finanças se afundavam, sem pena nem arrependimento. Continuo a comprar livros de História, de Fotografia e de Arte. Mas alguns dos sítios não têm o mesmo charme.
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As Presses Universitaires de France fecharam, já há anos, a livraria do Boulevard Saint-Michel. É agora uma casa de roupas. A Maisonneuve et Larose, cujo catálogo de estudos islâmicos fui comprando ao longo de anos, está devoluta. Parece que vai ser um restaurante. Tinha a divertida particularidade de nunca ter facturas como Deus manda. Davam aos clientes um papel manhoso, com um carimbo. Acho que aquilo não valia nada, mas sempre me servia para a contabilidade doméstica. Mas a minha preferida era a Geuthner, na Rue Vavin, uma antiga casa editora em cuja livraria se amontoavam livros antigos, velharias, raridades, preciosidades e uma ou outra coisa recente. Entrava-se por um portão, depois de tocar à campainha. Passava-se um corredor, entrava-se num pátio e empurrava-se a porta. A porta tinha um sininho que anunciava a nossa entrada, porque os empregados eram invisíveis. Tudo aquilo um ar de filme de espiões, ou de livro de Graham Greene. Alguns dos melhores livros de arqueologia islâmica lá de casa são "fruto" de elaboradas pesquisas nas prateleiras da Geuthner. Comprados no meio da conversa com um funcionário, profundo conhecedor dos temas e que se entretinha a dizer mal do patrão...
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A Geuthner mudou de sítio. Não fui lá mas aposto que o charme não é o mesmo. De certeza que não é o mesmo.
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Memória sentimental: a Maisonneuve et Larose era aqui...

4 comentários:

Dulcineia disse...

Mas que grande sentimentalao...
E a Feira do Livro de Lisboa ainda é no Parque Eduardo VII ?

Dulcineia disse...

Atao !? Andamos na reinaçao e nao publicamos os comentarios ????

Santiago Macias disse...

Nem por isso (a brincadeira), que o frio é polar.

Sentimentalão? Estas coisas aparecem com os anos. Como bem sabes...

Dulcineia disse...

Frio polar ? Tu nao sabes o que é frio...aqui até queima. Eu ja tenho o termostato avariado.