sábado, 6 de novembro de 2010

DO VELHO SE FAZ NOVO

A nossa cidade conhecerá, em breve, um conjunto de importantes e decisivos desafios.
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Tenhamos em conta:

  1. A fase avançada, muito próxima da conclusão, em que se encontram o Centro de Joalharia Contemporânea e a reabilitação do Edifício dos Quartéis;
  2. As obras em curso na Igreja de S. Francisco, no posto de recepção ao turista, no castelo e no Jardim das Oliveiras;
  3. Os concursos para os arranjos exteriores dos Quartéis, para a reabilitação da Igreja do Espírito Santo;
  4. Os processos em fase de conclusão para a 2ª fase de intervenção no Pátio dos Rolins, para a musealização da torre de menagem, para a iluminação das muralhas do castelo, para os espaços exteriores da Mouraria e para a área do Matadouro.

E ainda:

  1. Os projectos, concluídos e a aguardar vez, da Biblioteca Municipal e do café-esplanada no castelo.

A tónica foi colocada em edifícios já existentes? Foi, de forma deliberada. Não vale a pena o investimento em construções de raíz quando há imóveis com qualidade mais que suficiente para conhecerem uma segunda vida.

Neste percurso tenho ouvido opiniões e discordâncias, que ouço com a maior atenção e que têm sido da maior utilidade. Também vou ouvindo e lendo coisas divertidas, que têm a vantagem de me fazer rir e deixar bem disposto.

A quantidade e qualidade destes equipamentos irão colocar à prova a capacidade técnica e política de todos nós. A primeira preocupação que alguns colocam é a palavra custos. E esclarecem que se trata de despesa. É uma preocupação estimável, mas a verdade é que sem este esforço e este investimento teríamos uma parte da nossa cidade em ruínas e ao abandono. Pergunto: é isso que propõem? é essa a solução? A alternativa passa por, pura e simplesmente, ficarmos imóveis, porque movermo-nos custa dinheiro? Decerto que não.

Outras perguntas ainda: podemos nós gerir equipamentos culturais na lógica das nove-às-cinco, como se de uma repartição se tratasse? A lógica da burocracia, que impera nas preocupações anteriores é aplicável nestes domínios? Decerto que não.

As opções tomadas em relação a este binómio equipamentos/reabilitação tendo em vista tanto a promoção turística como o desenvolvimento de iniciativas locais foi mais que pensada e discutida. Por alguma razão os fundos comunitários e o Instituto de Turismo de Portugal apoiam o projecto. O futuro se encarregará de nos dar razão, contra os enleios da burocracia e as más-vontades que têm que ser removidas.

Se me permitem a ousadia, fruto de vinte anos de trabalho nesta área, aqui ficam, muito resumidamente e sem preocupações de hierarquização, alguns tópicos que me parecem essenciais para que os equipamentos culturais que vamos passar a ter possam conhecer um merecido sucesso:

  • Originalidade das iniciativas e dos conteúdos das exposições: o Museu de Moura tem, para além de um espólio apreciável, quatro ou cinco peças de nível internacional. A sua rentabilização e a preparação de exposições temporárias capazes de atrairem públicos exteriores é, seguramente, dos desafios maiores neste tipo de equipamentos;
  • Diversificação de iniciativas: o esquema exposição permanente/exposição temporária/serviço educativo é, apenas, um dos modos de intervenção. As conferências e as visitas guiadas temáticas, com o recurso a profissionais exteriores, são opções a ter em conta. Mas não são as únicas, tantas são as possibilidades de inovar, sem grandes custos, neste domínio;
  • Flexibilização dos horários e do sistema de abertura dos monumentos: se até à data não se justificam grandes mexidas, com a entrada em funcionamento de novos espaços e equipamentos é imperioso repensar os sistemas de abertura ao público;
  • A recusa do franchising (as benditas “feiras medievais”…) como método de animação. Fazer dos monumentos sucursais de bazares pode dar muita animação, mas não cria sustentabilidade nem alicerces para o futuro;
  • A ligação a universidades e a redes de profissionais é outra opção a ter em linha de conta. A investigação e a aplicação do conhecimento são indissociáveis e sem trocas de experiências não se progride. Há redes de museus, de galerias e de associações culturais com as quais é imprescindível estabelecer contactos e desenvolver trabalho;
  • O desenvolvimento de cursos e de actividades paralelas (o Centro de Joalharia Contemporânea não sobreviverá sem essa componente) deverá ser outro domínio de actuação que permita estabelecer pontes com sectores mais vastos da população;
  • A criação de linhas comerciais: a Câmara de Moura tem, graças a uma bem sucedida candidatura no âmbito da “Rede Património”, em curso uma iniciativa neste domínio. É, portanto, hora de subir a fasquia e de esperar resultados de grande nível.

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Tudo isto se resume, afinal, a juntar conhecimentos técnicos a uma atitude de procura permanente de novos caminhos e de novas e melhores soluções. Tudo, se resume, afinal, a uma permanente atitude de combate. Labor omnia vincit, diziam os romanos. Tinham razão.

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Texto publicado em A Planície no passado dia 1.

5 comentários:

babao disse...

"Do velho se faz novo"...do you mean...Reciclagem ?

Ora aqui esta uma Camâra modernaça e que sabe o que é Desenvolvimento Sustentavel : ))

Anónimo disse...

Já agora, Santiago: está previsto algo para o Convento do Carmo, vulgo antigo Hospital? É um edificio lindo, e daria uma excelente pousada. O que achas?

Anónimo disse...

E as pessoas? Quantos dos que estão ou a estudar ou a trabalhar fora, naturais de Moura, voltam para cá com possibilidade de se estabelecerem?

Darwin disse...

Esta última questão é de grande pertinência!

Não faz sentido pensar em renovação /reabilitação do património histórico e arquitectónico sem pensar no usuário e nas populações.

A reabilitação no sentido da «reciclagem» tem que pensar na dinamização local no sentido de proporcionar esquemas de integração das população local, num sentido permanente e não temporário.

Não precisamos de populações-simulacro, de âmbito completamente pós-moderno.

Precisamos de vida real, não daquela apenas vivida aos fins de semana e durante excursões de idosos.

Dar vida é garantir a génese de um núcleo/semente que garanta a continuidade da espécie.

Evolucionismo?

Santiago Macias disse...

As questões são pertinentes, mas as acções levadas a cabo - estas e muitas outras - têm sempre em vista melhorar a qualidade de vida das populações e criar condições de fixação.