quinta-feira, 17 de março de 2011

CORAGEM - DESPRENDIMENTO - DETERMINAÇÃO?

"Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar"
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Somos um país dados a estranhas falhas de memória. E temos o hábito de ligarmos ao acessório e olvidarmos o essencial. Foi sem surpresa que vi o desastrado discurso do PR cair rapidamente no esquecimento. Por muito menos se entra na vizinha Espanha em ebulição.
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Não imagino quem possa ter inspirado o Presidente a dizer tais enormidades. Se foi o próprio a pensá-las o caso é ainda mais grave. Porque revelam um terrível desconhecimento da História e da sociedade que somos.
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Primeiro, com raras exceções, os jovens portugueses foram atirados para o vespeiro africano quase sem saberem para onde iam ou ao que iam. Foram generosos e ingenuamente generosos.
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Segundo, eram moços maioritariamente oriundos de uma Portugal rural, arcaico e anti-cosmopolita, que ainda predominava na década de 60. Foram educados numa escola de obediência e foi isso que fizeram em África. Obedecer.
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Terceiro: houve quem saísse desse formato? Sim, a extrema-direita, qua acreditava falar em nome de Deus da civilização, e a esquerda, que lutava contra o colonialismo.
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Quarto, a classe patrícia escapou, por uma razão ou por outra, aos traumas maiores.
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Quinto, passarmos da coragem que os nossos jovens tiveram a afirmações extraordinárias sobre "desprendimento e determinação na Guerra do Ultramar" são confusões banais em quem confunde Thomas More com Thomas Mann.
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O sr. Presidente respeita o esforço dos jovens portugueses que caíram em combate? Nesse caso é melhor passar das palavras aos atos e arranjar maneira de tratar das campas dos militares portugueses que estão no cemitério de Bissau. Aquilo que por lá vi é uma vergonha para todos nós.

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7 comentários:

Anónimo disse...

Acho que deve ser divulgado o estado das campas dos militares portugueses, e aqueles que viram o seu estado e não protestaram in loco passam a ser cúmplices da situação.Então e o apoio, inclusive dinheiro que damos a esses países não nos dá o direito de exigir um tratamento digno dos nossos mortos?Povo de merda o nosso!
Cumprimentos

Anónimo disse...

No caso das guerras das colónias não acredito em nada teor do discurso acima citado.Os jovens que tiverem de ir para a guerra foram obrigados;esta é que é a verdade nua e crua.Muitos deles sem qualquer consciência do que significavam aquelas guerras pelas terras de África;ainda me recordo de ouvir pelas ruas da vila a propaganda debitada por uma instalação sonora num automóvel e com a expressão "Angola é nossa".O discurso citado está afectado por um pendor nacionalista que parecia estar ultrapassado na sociedade portuguesa.Mas também há quem sustente que com as guerras de África contribuiu-se para evitar a expansão e influência da então URSS no mundo;daí que digam que também terão sido guerras de libertação para o ocidente.

Santiago Macias disse...

Só não estou de acordo, mesmo nada, que o nosso povo seja "aquilo".
Mas desabafos daqueles todos temos.
Eu que o diga.

Fulano Tal disse...

Os discursos do Sr. Presidente bem como os do Primeiro Ministro causam-me sempre grande expectativa, fico sempre á espera do momento em que alguém rompa o cordão de segurança e vá direito a eles com um lança chamas.

Santiago Macias disse...

Sempre fui de opinião que a violência política é defensável e legítima. Mas, apenas e só, em regimes ditatoriais. Não é o nosso caso.
Ora bem. Cavaco Silva foi eleito com 53% dos votos expressos; o PS, de José Sócrates,recolheu 36,5 % nas Legislativas de 2009. Portanto...

lobo da silva disse...

Os mortos já não sofrem, embora concorde plenamente, que é uma vergonha, o que se passa com as campas dos nossos militares. Agora os vivos,e são muitos, que estão a sofrer, com os traumas da guerra, e que morrem abandonados. Eu estive lá.Pessoalmente conheço vários casos.

Anónimo disse...

O PR é, ou deseja ser, uma especie de Salazar de segunda. Já antes nos tinha prendado com o "dia da Raça" no seu dicurso. A proposito dos comentários aqui deixados: "Mas, apenas e só, em regimes ditatoriais." são estas as palavras do Santiago. Faço uma pergunta: onde se situam actualmente esses regimes Ditatoriais?