terça-feira, 15 de março de 2011

TUNÍSIA III: SOB ESCOLTA POLICIAL

Há nove anos, no interior da Tunísia não se brincava com a segurança. Foi por isso que, em Teboursouk, o discreto chefe da polícia local nos encontrou, por casualidade, numa rua afastada do centro e nos fez um discreto interrogatório cheio de perguntas casuais. Convencido que os dois portugueses não eram espiões nem jornalistas recomendou, antes da despedida e entre risinhos de subentendidos, que não nos esquecessemos de visitar a Casa do Prazer, no sítio arqueológico de Dougga.
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De um polícia vamos a outro. E no primeiro cruzamento à saída de Teboursouk, e como hesitássemos no caminho, parou ao nosso lado outro polícia, que do alto da sua flamejante e barulhenta moto, perguntou para onde íamos. Ao que se seguiu a ordem (e ordens da polícia não se discutem): "venham atrás de mim". E fomos, em excesso de velocidade, com o pobre do Fiat Uno ganindo para não descolar da mota, que era, creio que já o disse, flamejante e barulhenta.
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E quando numa bifurcação o polícia nos indicou o caminho a seguir, seguindo ele noutro sentido, nós obedecemos (ordens da autoridade não se discutem) e fomos mandados parar, sim, por um terceiro polícia. Que precisava de boleia. E que ía para Haïdra. Nós também. E o polícia subiu para a parte de trás do Uno, trazendo com ele um intenso cheiro a perfume. Ao fim de dois ou três quilómetros pediu-nos os passaportes e perguntou-nos pela autorização para ir a Haïdra, a uma escassa légua da fronteira com a turbulenta Argélia. Fiz bluff. Citei o nome da (suposta) adida cultural da embaixada em Lisboa, que me dissera que não era necessária autorização alguma. O nosso polícia aí hesitou. O meu ar convicto - que era o fator menos importante - juntava-se a três coisas decisivas. Se nos mandasse para trás ficava sem boleia. Estava uma tarde de calor (37º à sombra). E a estrada estava deserta mesmo deserta. Chegámos a Haïdra uma hora mais tarde.
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Não voltámos a ver polícias durante o resto da semana. E juro que aqueles três não foram uma miragem.
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1943 - cruzamento perto de Haïdra. Com tropa mas sem polícias.

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