Aconteceu há uns 10 anos num país que passava então por momentos conturbados. Já não se vivia um estado de guerra, mas a situação era, no mínimo, muito tensa. O embaixador entendeu que não deveríamos andar sozinhos, pelo que um segurança local nos acompanhava em permanência.
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Os polícias portugueses que vigiavam a embaixada trocavam connosco uns cumprimentos distantes que, pouco a pouco, se tornaram mais descontraídos.
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Uma bela tarde o chefe convidou-nos para tomar uma bebida e disparou esta pergunta, que achei insólita: “sabem porque os convidei para uma cerveja?”. Não fazíamos a mínima ideia, mas ele esclareceu “é que vocês cumprimentam-nos e falam com a malta; a maior parte dessa gente [ele referia-se a membros do governo, deputados, empresários…] que por aqui passam nem bom dia nos dizem; uns convencidos da treta”. A partir daí o ambiente distendeu-se ainda mais, tornando-se francamente amistoso.
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Na véspera da partida, fomos convidados para “ir a um sítio”, mas só o androceu da pequena comitiva. O destino era uma discoteca de um hotel, um dos raros sítios abertos na cidade até horas tardias. O ambiente era peculiar: homens da aparência europeia (depois me esclareceram que eram os seguranças das embaixadas ocidentais que, pelos vistos, ficavam entregues à sua sorte) e um nutrido sortido de disponíveis moçoilas de várias formas, tamanhos e idades. Encontraria as mesmas senhoras – juraria que eram as mesmas – num outro hotel da mesma cidade, anos mais tarde.
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Bebidas para cá, música para lá, o cirandar costumeiro em ambientes menos formais. Escolhemos uma mesa ao fundo, com vista panorâmica sobre a sala e sobre o palco, que fazia de pista de dança. Foi daí que assisti a uma das cenas mais hilariantes da minha “carreira”. A páginas tantas, o palco enche-se de homens ocidentais e das disponíveis moçoilas locais que davam, todas e todos, o seu melhor dançando o disco sound (um tanto fora de moda, mas era o que havia). Barulho e desentendimento, nunca percebi porquê. Os empresários das moças, com vozes de comando, dão o baile por terminado e, entre empurrões, levam-nas para fora da pista. E então? A festa continuou.
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Nunca mais esqueci o extraordinário espectáculo dos enormes e musculados seguranças dançando animadamente o disco uns com os outros. Lembro-me de um italiano que estava especialmente eufórico… O grupo português, que tinha ficado à margem do bailado, espatifou-se a rir, enquanto o meu amigo Rui dizia, entre dentes, “já os vi começar por menos”. Lá isso não sei, mas imagino que sejam coisas frequentes em países assim, conturbados, quase em guerra e onde os relacionamentos se confinam a bem protegidos bunkers.
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Os polícias portugueses que vigiavam a embaixada trocavam connosco uns cumprimentos distantes que, pouco a pouco, se tornaram mais descontraídos.
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Uma bela tarde o chefe convidou-nos para tomar uma bebida e disparou esta pergunta, que achei insólita: “sabem porque os convidei para uma cerveja?”. Não fazíamos a mínima ideia, mas ele esclareceu “é que vocês cumprimentam-nos e falam com a malta; a maior parte dessa gente [ele referia-se a membros do governo, deputados, empresários…] que por aqui passam nem bom dia nos dizem; uns convencidos da treta”. A partir daí o ambiente distendeu-se ainda mais, tornando-se francamente amistoso.
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Na véspera da partida, fomos convidados para “ir a um sítio”, mas só o androceu da pequena comitiva. O destino era uma discoteca de um hotel, um dos raros sítios abertos na cidade até horas tardias. O ambiente era peculiar: homens da aparência europeia (depois me esclareceram que eram os seguranças das embaixadas ocidentais que, pelos vistos, ficavam entregues à sua sorte) e um nutrido sortido de disponíveis moçoilas de várias formas, tamanhos e idades. Encontraria as mesmas senhoras – juraria que eram as mesmas – num outro hotel da mesma cidade, anos mais tarde.
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Bebidas para cá, música para lá, o cirandar costumeiro em ambientes menos formais. Escolhemos uma mesa ao fundo, com vista panorâmica sobre a sala e sobre o palco, que fazia de pista de dança. Foi daí que assisti a uma das cenas mais hilariantes da minha “carreira”. A páginas tantas, o palco enche-se de homens ocidentais e das disponíveis moçoilas locais que davam, todas e todos, o seu melhor dançando o disco sound (um tanto fora de moda, mas era o que havia). Barulho e desentendimento, nunca percebi porquê. Os empresários das moças, com vozes de comando, dão o baile por terminado e, entre empurrões, levam-nas para fora da pista. E então? A festa continuou.
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Nunca mais esqueci o extraordinário espectáculo dos enormes e musculados seguranças dançando animadamente o disco uns com os outros. Lembro-me de um italiano que estava especialmente eufórico… O grupo português, que tinha ficado à margem do bailado, espatifou-se a rir, enquanto o meu amigo Rui dizia, entre dentes, “já os vi começar por menos”. Lá isso não sei, mas imagino que sejam coisas frequentes em países assim, conturbados, quase em guerra e onde os relacionamentos se confinam a bem protegidos bunkers.
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Crónica publicada no jornal A Planície de 15.8.2010
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