A música é péssima e a interpretação pior ainda. A letra é inenarrável, com "versos" como "De noite ou de dia / A luta é alegria / e o povo avança / é na rua a gritar" ou "E vem o velho e vem o novo e o menino / E traz o pão e traz o queijo e traz o vinho / E vem o velho e vem o novo e o menino / Para celebrar esta situação / E vamos cantar contra a reação" (v. aqui). No PREC ninguém levaria aquilo a sério, mas hoje parece que sim.
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Foi assim que os Homens da Luta ganharam ontem à noite o Festival da Canção e fizeram com que um concurso que não interessa a ninguém ressuscitasse por momentos e saísse de catacumbas arqueológicas. A luta é alegria é tão má como as outras coisas que aparecem no Festival da Eurovisão e é bem feito para o Festival que agora tenham de aturar os Homens da Luta com aquele estilo Moda Lisboa 1975.
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A canção venceu graças ao voto popular. O mesmo que deu uma votação espetacular a José Manuel Coelho. São essa crença e esse desespero que, à margem do discurso político habitual, tornam a canção dos Deolinda o hino de uma geração e que, no dia 12 de março, encherão de fúria as ruas de Lisboa. Perigosos, antidemocráticos e niilistas? Nem por sombras, dr. Mário Soares. Sem perspetivas, nem futuro.
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Não é hábito trazer ao blogue filmes em dias consecutivos. No entanto, a inesperada vitória dos Homens da Luta e a raiva surda, que por toda a parte se sente, fizeram-me lembrar este filme de 1976, realizado por Sidney Lumet: Network, apresentado em Portugal como Escândalo na TV.
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Explique-se a cena: Howard Beale, um apresentador de telejornal com pouca audiência e à beira do despedimento, perde a paciência e revolta-se. E incita os espetadores à revolta. Os temas que Beale aborda? Diz que as coisas vão mal, fala no desemprego, do medo de perder o trabalho, da crise do dólar, dos bancos que estão arruinados, da inflação, da crise petrolífera. Temas de hoje, portanto. Espanntosamente atuais.
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I'm mad as hell and I'm not going to take this anymore (estou furioso e já não aguento mais isto), é o que o apresentador incita as pessoas a gritar. Vejam estes sublimes 5 minutos de cinema de Peter Finch e, já agora, vejam o filme todo. E, sobretudo, gritem.
6 comentários:
Olha...os Village People reproduziram-se... : )))) e claro para mal dos nossos pecados foi em Portugal ; )
E nao se esqueçam : ABRAM AS JANELAS !
este é um caso em que os personagens transformam quem os cria.
Ao princípio era o humor, mas a dedicatória final a todos os desempregados e aos que estão a passar mal foi sincera.
algo se está a passar..
eh eh eh essa dos Village People está boa ...
ao anónimo de 6 Março 23:10
não gosto do estereotipo usado pelos ditos cujos, é pouco rebuscado e mostra falta de criatividade, porém para os mais novos e que não conheceram os estereótipos, provavelmente estes sejam os homens da luta e daí sou capaz de concordar consigo ...
LT
Não... apenas superficial e cretino. Para o país parar com a "iluminação" lá dos Deolinda, mostra bem como é que as coisas vão. Onde está a novidade do que lá está dito? Ai ela sente-se parva por ter estudado? Ou por só se ter lembrado de lutar depois dos 25, quando agora se vê à rasca? Sinto saudades da "geração rasca" e não me revejo nesta nova onda de revolucionários-chic que acordaram agora para a vida. Uma boa parte são meninos bem que agora se vêm apertados, porque há 10 anos quando os papás tinham empregos decentes eram capaz de rir de quem saía à rua, ou de se estar pura e simplesmente marimbando.
Quanto aos Homens da Luta e ao seu refinado sentido de humor... não sei... parece-me que vulgarizar a palvra e tentra rir de quem aindsa não desistiu ou não se cala, parece-me tão divertido como um funeral.
Os Meus Pêsames
@João
... apesar de comungar consigo a ideia acerca dos Homens da Luta, mas em relação à geração "à rasca", mais vale começarem tarde a lutar, do que nunca lutarem ...
... o país envaideceu-se, burnido e perfumado por fora, mas sujo e roto por dentro ...
.. já viu o número de carros parados à porta da escola secundária? ou da escola profissional? será que há assim tantos professores? uhmmm ... os meninos já não podem andar a pé.
... já reparou certamente em putos, em que as mães andam em cursos de "formação profissional" para ajudarem a matar a fome do agregado familiar e os meninos têm telemóveis de última geração ... de quem é a culpa?
... por isso Joao, tal como é também sua ideia, esta malta não foi nem está habituada a lutar e os pais foram intencionalmente domados ... daí que nunca será tarde para aprenderem a lutar.
LT (hoje com assomos de revolucionário)
@Caro LT,
A minha única questão aqui é só a minha brutal dúvida em relação à capacidade de Luta desta gente e dos pilares que a apoiam. A verdade é que estamos perante gente muito desinformada, que ao menor sinal de desengrenagem, grita, foge e "ai, ai , ai que eles são radicais". Portanto que Luta? Mais alegorias? Mais Carnaval? Mais descredibilização?
Se calhar estou a envelhecer e a tornar-me céptico é certo, mas a verdade é que quando falo na Grécia a essa gente fogem como um beato fugia de um comunista em 75! É triste mas é verdade. Não sabem para onde se hão-de virar, quem copmbater, o que combater e de que maneira. A superficialidade lá da Ana Deolinda Bacalhau (e as declarações dela já há tempos acerca do aborto ou dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo), só revelam isso; uma geração "amorangada", pouco criativa e bastante conservadora. Portanto e repito, infelizmente, não acredito em nada do que virá dali.
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