Ad lucem, diz o lema. A Universidade de Lisboa faz hoje 100 anos.
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Evocação pessoal da casa onde vivi entre Dezembro de 1981 e Julho de 1985:
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Ao fim de 4 anos e de 20 cadeiras (ainda não havia essa calamidade das semestrais) acabei a licenciatura em História (variante de História da Arte). Deram-me um canudo, com fitas azul ferrete, onde se lê feliciter et honorifice, o que quer dizer que não me portei mal de todo. Bom, portei-me um pouco mal na Assembleia de Representantes e na Direção da Associação de Estudantes. No final do curso isso causou-me dissabores e duas ou três experiências amargas. Em parte por isso, não regressei, do ponto de vista académico, à minha universidade. Fiz o mestrado na Nova, o doutoramento em Lyon. Ensinei no Algarve, na Nova e em Évora. A minha vida científica faz-se hoje entre Coimbra e Mértola.
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O físico Niels Bohr chamava a atenção para a importância dos bares das universidades enquanto ponto de encontro e de debate. Levei essa parte muito a sério, caldeando-a com a dinamização da secção associativa de cinema, com um péssimo programa de rádio e com longas e solitárias permanências nas bibliotecas. Como não havia folhas de presença nem exames isso permitiu que me baldasse às aulas em cadeiras entediantes (fiz uma delas graças aos apontamentos da minha amiga Teresa Agostinho). O meu gosto pelo silêncio das bibliotecas, que se mantém até hoje, levou a que fosse tomado por algumas colegas como uma espécie de monge meio excêntrico. Um óbvio equívoco. Guardo uma longa lista de amigos, hoje espalhados por vários pontos do globo. Dois pares de professores excecionais marcaram-me para todo o sempre, nesses dias da licenciatura. Por ordem alfabética: Borges Coelho, Cláudio Torres, João Serra e Manuel Rio-Carvalho. E Eduardo Borges Nunes, que não sendo excecional era um grande professor de paleografia. O contacto com José Mattoso, Iria Gonçalves e Oliveira Marques viria mais tarde. Com Pierre Guichard anos depois.
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Era uma universidade diferente da de hoje. Não havia capas nem tunas. Nem praxes. Havia muita atividade política. E aprendia-se imenso, mesmo quando as aulas eram péssimas... Talvez por tudo isso quando digo "a minha faculdade" é ainda nos corredores da Faculdade de Letras que estou a pensar. Deve ser essa coisa do sentimentalismo.
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Viva a Universidade de Lisboa e mais os 100 anos da Universidade de Lisboa.
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.Veja-se:
http://www.ul.pt
http://centenario.ul.pt/
4 comentários:
So te esqueceste de fazer referência à tua alcunha...ou é uma questao de memoria selectiva ?
As alcunhas também era seletivas: "Espião de Castela", para as colegas da Associação de Estudantes: "o Alemão", para alguns colegas africanos, pela minha suposta disciplina e método de trabalho (por favor, não te rias...).
foi gralha com toda a certeza- história da arte e não história de arte.
f.caetano
Foi, sim.
E não é a primeira vez que acontece.
Obrigado.
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