Há pista, mas não há aviões. Houve um investimento imenso, mas o dinheiro gasto ainda não trouxe a prosperidade. Há aquilo a que se chama um aeroporto ou, melhor dizendo, a expectativa de um aeroporto. À boa maneira do sul, hesitou-se e avançou-se. Quando se avançava, parecia que se recuava. Discutiam-se minudências. Debatia-se o nome a dar ao aeroporto e esta questão menor tornou-se motivo de guerra. Houve confusão e balbúrdia. Os custos eram uns e depois já não eram esses. Eram outros, foram outros, muito maiores. Os valores dispararam e atingem muitos milhões.
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Passado todo este tempo, e são vários anos já, continua a não haver aviões. Teoricamente, deveria haver. Foi para isso que se fez o projecto. Tecnicamente, o aeroporto, situado numa zona plana e sem ventos difíceis, deveria ter movimento. As questões ambientais são, até, menores. Depois, chove pouco na região. Os dias de nevoeiro são raros, o que faz do aeroporto um sítio potencialmente interessante.
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Passado todo este tempo, a pista é um deserto de alcatrão. Os autarcas que a defenderam em breve passarão à história, os especialistas que a justificaram terão desaparecido e terão explicações complexas para o fracasso.
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Agora, que a desgraça está consumada, algumas perguntas ganham maior sonoridade:
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Qual o efectivo interesse do aeroporto?
Qual o investimento total necessário até a estrutura estar em funcionamento?
Quais os negócios em perspectiva?
Quais as companhias que já manifestaram interesse em ali se instalar?
Qual o volume de negócios necessários para a amortização do investimento?
Quantos anos se prevê que sejam necessários para que a estrutura se torne lucrativa?
Quais os custos de manutenção anuais da infraestrutura?
Quem paga?
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O que até agora estive a contar refere-se ao Aeroporto de Ciudad Real,
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Crónica redigida, há uns meses, para a Rádio Pax.
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10 comentários:
Caro Santiago, certos investimentos deverão ser visto num todo (e médio e longo prazo) e não apenas numa visão económica imediata. A conversa faz-me lembrar o pessoal do capital que só vê cifrões.
De qualquer das formas deveremos lembrar-nos que um aeroporto, como o de Beja, não servírá apenas para passageiros (e carga, eventualmente). Poderá e deverá servir para manutenção: fica muito ,mas muito mais barato, do que o aeroporto de Lisboa ou de Cascais (o famoso aerodromo de Tires). Se isso não é suficiente para ajudar o desenvolvimento do Alentejo, bem... sei que os museus e bibliotecas também não trazem assim tanto dinheiro mas não é por isso que não são necessários e não são feitos!
"Não sei se esta situação vos faz recordar algo. A mim faz."
Humm....PAX JULIA INTERNATIONAL AIRPORT !???
Caro AMC
Concordo com o que dizes. No entanto, o que está escrito no site da EDAB é o seguinte:
"O principal factor de desenvolvimento do aeroporto é o turismo, assentando fundamentalmente na oferta turística do Alentejo (nomeadamente no litoral e no Alqueva) e nos mercados emissores tradicionais"
Decerto que todas as possibilidades que referes são importantes. Mas, até à data, ninguém referiu negócios já concretizados ou em negociação. Ora é esse silêncio que me intriga. Oxalá me engane e não estejamos ante outro elefante branco.
E continuando à carga:
No sul de França, na Catalunha francesa, existe uma cidade chamada Perpignan com um pequeno aeroporto que sobrevive sobretudo de empresas de manutenção de aviões; Na Irlanda existe também uma pequena vila com 9 mil habitantes, Shannon, que possui também um pequeno aeroporto com ligações diárias para Londres e sobrevive graças a algumas empresas de manutenção de aviões.
Sim, há mercado para desenvolver o aeroporto se houver vontade politica para isso e se não houver velhos do Restelo a teimar que tudo o que vem do Governo é mau.
As potencialidades de emprego especializado são enormes. Uma empresa de manutenção de aeronaves necessita de técnicos e engenheiros altamente treinados, consome uma quantidade enorme de mão-de-obra e de material diverso.
Além disso, Santiago, existem actualmente empresas em contacto com entidades de Beja para formar Técnicos de Manutenção de Aeronaves, nomeadamente a LAS (www.las.pt). Poderá haver mais... mas também não sei de tudo!
Turismo? Bem, acho que aí concordamos os dois que não será com certeza a mais valia do aeroporto, sobretudo sem qualquer tipo de transporte directo para que lado for. Inclusive os Inter-Cidades irão terminar! Mas não esquecer a comunidade alentejana emigrada em França e Suiça que são potenciais clientes.
Mas eu, pessoalmente, aposto mais na manutenção. Claro, Santiago, esta aposta da minha parte é sincera mas sobretudo porque... bem, compreendes!
Abraços!
Aeroporto em terra de miséria ou de promissão?Nem uma coisa nem outra!O dinheiro mal ou bem, mais mal do que bem, pois bem vistas as coisas,trata-se de um investimento de países ricos, já foi gasto.Foi um devaneio, um sonho de uma noite de verão daqueles que possuem um rosto e um nome.Agora haverá que congregar esforços para rentabilizar esse investimento e as autarquias de todo o alentejo terão um papel muito importante nesse objectivo nacional.E o alentejo é uma verdadeira terra de promissão para um turismo diferente,de qualidade e com a indispensável vertente cultural.
Hoje, no dito Aeroporto, foram assinados 5 protocolos de desenvolvimento com Empresas de vários sectores. Os voos regulares vão ter inicio com Londres. Que silêncio intriga o Santiago? As Empresas envolvidas deram informação mas nenhum Autarca da CDU esteve presente, daí talvez não poderem ter ouvido e pensarem que por não terem ouvido, exista silêncio.
5 protocolos?
Estou impressionado.
Voltarei a este tema dentro de um ano: a 13.4.2012.
Veremos nessa altura onde andam os protocolos.
Registo os nomes (segundo a imprensa): Sunvil, Herdade do Grous, TUIfly, Aeromec e Urbanos.
Béja n'a pas le choix, il ne faut pas écrire des choses pareilles Santiago, cet aéroport est la meilleure chose qui s'est faite ici : Béjà n'a pas d'autoroute, pas de TGV, c'est la mort à petit feu.
Regardez l'Aéroport Châlons Vatry qui est comme Bejà une ancienne base militaire, quel beau succès, et c'est au milieu de rien (à la différence de Perpigan qui a les Pyrénées et de Shannon qui a les immigrés irlandais aux USA et beaucoup d'équipements touristiques)
Si Beja ne fait rien Sines prendra sa place et ce sera mérité, Sines a une population en forte croissance, la mer, et des entreprises qui investissent.
Comment l'Algarve se développe ? Aeroport de Faro + autoroutes.
Ici, à Ourique, partout les entreprises sont confrontées à d'énormes problèmes de transport, les projets de golfs, d'hotels, de fruits, sont bloqués par les mauvais transports.
Les rapports de l'OCDE sont tous formels pour les régions périphériques de l'Europe : priorité absolue aux transports.
Santiago não quer dizer nada sobre o facto de nenhum Autarca da CDU ter estado presente? Foi ordem que acataram?
Não há nada como uma pergunta divertida à hora de sobremesa...
Desconheço ordens para ir ou não ir.
Aqui entre nós (e shhh, não diga a ninguém, ok?): esse é o tipo de ordens que nunca acato. Também é válido para proibições.
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