Hoje, passámos o final da tarde na Póvoa de S. Miguel. Está a decorrer mais uma edição do Primeiro, o Local. Uma das formas de estarmos (ainda) mais perto das populações. Heimat? Sim, que a Póvoa é a terra da minha bisavó paterna. E porque a Amareleja, a outra localidade incluída nesta iniciativa, é a terra das minhas raízes maternas.
A reunião de câmara teve lugar no salão da Casa do Povo. Na mesma sala onde, há mais de 40 anos, ía ver os episódios do Bonanza.
A passagem pelos sítios e os contactos com as pessoas são um lento cerzir de histórias. Misturam-se cores e padrões, como num tapete berbere. E, às vezes, muitas vezes, dá vontade de voltar às origens. E de nunca mais delas sair.
A Origem do Mundo
De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra,
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra; e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.
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Nuno Júdice in Meditação sobre Ruínas
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