Já uma vez, há anos, falei aqui de José Aurélio, a propósito das gárgulas da Torre do Tombo, peças invulgares e acima de muitas outras.
Uma das minhas obras escultóricas preferidas de José Aurélio está numa ignota rotunda na Amadora, a curta distância do Estado-Maior da Força Aérea. Vivo a menos de um quilómetro deste voo de pássaro. Já ali fui várias vezes, para tentar fotografar a escultura. Nada feito... O viaduto do IC19 de um lado, a ausência de escala do outro, a poluição visual por toda a parte. Nada feito. Fiquemos com o google.
Antes o voo da Ave
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro - "O Guardador de Rebanhos (poema XLIII)
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro - "O Guardador de Rebanhos (poema XLIII)
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