Nunca Francisco Hermenegildo ouvira falar no milanês Giuseppe Arcimboldo
(1526–1593). Na prática, é como se o nome lhe fosse familiar. Arcimboldo
compunha as suas telas a partir de objetos existentes que, conjugados entre si,
produzia novos desenhos e novas formas. A sua obra ganharia novo fôlego e
popularidade com os surrealistas, permanecendo até hoje como exemplo raro,
bizarro até, de uma artista que antecipou as colagens. Muito do que Francisco
Hermenegildo fez tem a ver com um sentido de recomposição de uma realidade
pré-existente. Peças como Ave ou Flor de paz ligam-se a essa corrente.
Não creio também que as esculturas de
Marcel Duchamp (a biclicleta, o suporte de garrafas, a pá…) lhe tenham servido
de modelo ou inspiração. Até porque os objetos de Francisco Hermenegildo não
são exatamente ready-mades, mas
esculturas criadas a partir de outros objetos.
A paixão pela(s) máquina(s) está
subjacente ao que aqui encontramos. O gosto do autor por carros e bicicletas
antigas, pelo seu restauro e reutilização, encontra na escultura um
prolongamento natural. Mecânico de profissão, Francisco Hermenegildo é também,
e como justamente refere Marisa Bacalhau, um artista com preocupações
ecológicas. Onde os outros veem lixo, o Francisco vê reciclagem e, sobretudo,
uma oportunidade de (re)criação de formas. Como em A máquina, quase pop, quase futurista, na sua paixão pelos objetos
mecânicos.
Francisco Hermenegildo? Sim. Mas também
Arcimgildo…
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