Termino aqui a série dos continentes. Com este, o meu, onde nasci. E onde só me sinto confortável nas margens do grande mar. Recordemos a célebre passagem do "Fédon" de Platão, que já por qui passou: "(...) nós outros, moradores da região que vai do Fásis às Colunas da Hércules, ocupamos uma porção insignificante da terra, em torno do mar à feição de formigas e rãs na beira de um charco. (...)".
Recordemos o mito do rapto de Europa, que está nas moedas gregas de dois euros. Recordemos esse mito no pintor Óscar Domínguez (1906-1957), que tendo nascido nas Canárias não é completamente europeu.
A Europa cola-se a recordações. Soa-me a inverno. Por isso escolhi um poema de Fernando Pinto do Amaral (n. 1960), autor de quem gosto particularmente.
À chegada do inverno
Nem sempre
a vida acolhe ou alimenta
os nomes do passado, o seu abismo
repetido num sonho, na mais lenta
assombração, no mais íntimo sismo
Do que chamamos alma. Não existo
sem essa febre mansa que relembro
enquanto as nuvens cobrem tudo isto
com o frio escuro de um dezembro
Longe de mim, de ti, de qualquer lei
ou juízo a que dêmos um sentido:
o que finjo saber é o que não sei
e as palavras colam-se ao ouvido.
a vida acolhe ou alimenta
os nomes do passado, o seu abismo
repetido num sonho, na mais lenta
assombração, no mais íntimo sismo
Do que chamamos alma. Não existo
sem essa febre mansa que relembro
enquanto as nuvens cobrem tudo isto
com o frio escuro de um dezembro
Longe de mim, de ti, de qualquer lei
ou juízo a que dêmos um sentido:
o que finjo saber é o que não sei
e as palavras colam-se ao ouvido.
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