quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

SEM CÓLERA TE ESPANCAREI...

O HEAUTONTIMOROUMENOS

 

Sem cólera te espancarei, 
Como o açougueiro abate a rês, 
Como Moisés à rocha fez! 
De tuas pálpebras farei, 

Para meu Saara inundar, 
Correr as águas do tormento. 
O meu desejo ébrio de alento 
Sobre o teu pranto irá flutuar 

Como um navio no mar alto, 
E em meu saciado coração 
Os teus soluços ressoarão 
Como um tambor que toca o assalto! 

Não sou acaso um falso acorde 
Nessa divina sinfonia, 
Graças à voraz Ironia 
Que me sacode e que me morde? 

Em minha voz ela é quem grita! 
E anda em meu sangue envenenado! 
Eu sou o espelho amaldiçoado 
Onde a megera se olha aflita. 

Eu sou a faca e o talho atroz! 
Eu sou o rosto e a bofetada! 
Eu sou a roda e a mão crispada, 
Eu sou a vítima e o algoz! 


Beaudelaire e a importância de um bom poema.

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