segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ARGEL VI - O PARQUE DE TODAS AS LIBERDADES

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Caía a noite em Argel quando resolvemos encurtar caminho, entrando pelo Parque da Liberdade. Dentro de momentos teria lugar mais uma reunião do projecto Discover Islamic Art. "Por aqui vamos mais depressa", dissera o Boussad. Segui atrás dele.
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Quando começámos a subir as alas, parque acima, não pude deixar de reparar nas raparigas de lenço branco que enchiam os bancos do parque. Um bando de devotas muçulmanas, de traje a rigor, gozando o fim de tarde. Não estavam sós, porém. Em cada banco, em cada canto do parque, cada rapariga, de lenço branco na cabeça e de longo traje da ortodoxia islâmica, tinha junto a si um rapaz. O parque era o sítio de todas as liberdades. Os lenços estavam já um pouco à banda, os beijos tinham o calor da liberdade, as mãos desapareciam por entre os trajes da ortodoxia. "Les mains sont baladeuses", comentaria depois o malicioso Boussad. É sempre assim, entre gestos escondidos, que começam a cair as ortodoxias. "Por aqui encurtamos caminho", dissera o Boussad e eu fui atrás dele, de passo cada vez mais apressado e sem virar a cabeça.
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O Parque da Liberdade fica entre a Rua Didouche Mourad e o Boulevard Krim Belkacem.
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O Musée National des Antiquités et des Arts Islamiques foi inaugurado em 1897, o que faz dele o mais antigo da Argélia. Na altura em que o projecto teve início, em 2003, o seu director era o Dr. Lakhdar Driass. Várias peripécias fizeram com que eu próprio acabasse por estabelecer com o grupo argelino uma ligação que passou, em muito, a simples relação profissional. O museu tem como actual directora a minha colega Houria Cherid, que integrou a equipa do projecto Discover Islamic Art.

De entre a importante colecção do Museu aqui vos deixo este nicho em estuque, proveniente de Sedrata e datado do período rustemida (século X).

O site do museu, http://www.musee-antiquites.art.dz/, não faz justiça à colecção. Refira-se, contudo, que o site é recente e representa um importante passo em frente para colmatar uma lacuna que se fazia sentir.

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