sábado, 8 de maio de 2010

KAVAFIS VESPERTINO

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À ESPERA DOS BÁRBAROS

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
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Em fim de tarde alguém me envia esta mensagem: "Um bonito poema, sem dúvida! Dentro de outro género, deixo mais um grande poema, para troca." Sem dúvida que o género é outro, mas esta versão de um conhecido poema de Konstandinos Kavafis, datado de 1904 (quem traduziu? a dupla Magalhães/Pratsinis apresenta um texto ligeiramente diferente), é notável. Acompanha o poema, de forma que me parece sugestiva, um fresco de Cesare Maccari (1840-1919), que integra uma série de obras realizadas pelo pintor, entre 1882 e 1888, para o Palazzo Madama.

3 comentários:

Anónimo disse...

Catilina? Quem será o Cícero? Deveremos ter em conta alguma intenção de paralelismo circunstancial?

Santiago Macias disse...

Cícero denuncia Catilina. Não sei se quem me mandou o poema teve segundas intenções. Mas não me parece.

Anónimo disse...

Segundas intenções? Paralelismo circunstancial?
Depende. Se for para derrubar o governo Sócrates não me importo de fazer o papel de Catilina embora me pareça que, dentro de pouco tempo, seja Cícero a morrer no campo de batalha.
Quem não têm problemas em assumir as suas ideias não precisa utilizar o anonimato como forma de expressão. Excepto, claro, para evitar ilações fantasistas.
A ideia era mesmo partilhar o brilhante poema de Konstandinos Kavafis.