quinta-feira, 9 de junho de 2011

UMA ARTE EM VIAS DE EXTINÇÃO

Primeira história verdadeira:
Estou no metro de Paris com uma amiga. Gente que sai, gente que entra. O combóio arranca e a minha amiga ri, dizendo-me baixinho: "vê-se bem que és portuguesinho". Ante a minha surpresa explicou: "quando a bonitona aí ao lado entrou foste o único a olhar; e não foste lá muito discreto". Surpresa redobrada e a segunda explicação: "os franceses são um mito; nem um piropo mandam". O autor do blogue, que não tem o mínimo jeito para piropos (isto nasce com a pessoa, diz que sabe) nem é D. Juan, corou até à raíz dos cabelos e emudeceu.
A minha amiga, que é descarada, confessou: "se há coisa que sabe bem é um piropo engraçado e com nível".

Segunda história verdadeira:
E, à partida, improvável. Esperava um amigo, encostado a uma parede da rua Didouche Mourad, na baixa de Argel. Aproximam-se duas jovens, muçulmanas no vestir (com aqueles trajes couraçados, de onde apenas emerge a face). Eram bonitas. Nisto, saem de um café dois rapazolas que se colocam ao lado das moças e, em tom de súplica quase chorosa e pondo o braço a jeito, pedem "levem-nos a passear, vocês são tão simpáticas e nós estamos perdidos". Elas seguem em frente, sem ligar, mas uma sorria levemente, ainda que fingisse indiferença. Os moços não pisaram o risco e a cena, teve, de facto, graça. Quando disse ao Boussad o que se passara comentou: "é frequentíssimo; e muitas vezes resulta". Ninguém diria, com tão estritas regras.


Vem isto a propósito de uma reivindicação da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, que pede mudanças na lei para criminalizar o assédio sexual. Parece-me francamente bem, embora me pareça difícil definir o piropo (excetuo as ordinarices) ou o assobio (v. aqui) como assédio sexual. Depois, já chateia tanta legislação por dá cá aquela palha. E estou de acordo com a minha amiga parisiense. Embora me falte o talento.

A fotografia é célebre. Foi feita por Ruth Orkin (1921-1985), numa rua de Florença, em 22 de agosto de 1951. A modelo é a sua amiga Jinx Allen. A cena foi semi-encenada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pensei que UMAR significava: União das Mulheres Antifascistas e Revolucionárias.
Estaria enganada?

Anónimo disse...

Quando não existe ideário, transforma-se em policiário. Foi por essa falta de ideias que o BE ficou em metade.

maria josé henrique disse...

Cá para mim o assédio sexual, na maior parte dos casos, deve resolver-se com dois estaladões bem dados.Temos mais que fazer nos tribunais. Mas e quando os estalos não resolvem? Quando alguém é assediado diáriamente no seu local de trabalho, quase sempre pelo chefe?! Isto não é piropo. O piropo, como diz a sua amiga, se tiver nivel até é giro. Quanto à sua falta de talento para o piropo, acredito. Mas olhe acho que devia treinar... com algum treino penso que podia dar um bom "piropeiro"...e faria, certamente um sucesso enorme...(será que poderá considerar-se isto, um piropo?)
Bjs