sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

poisson / VIANDE

Uma coisa que me diverte é o absoluto fascínio que tudo o que diz respeito a França exerce sobre os norte-americanos. Refiro-me às pessoas com um mínimo de informação, a maioria das outras nem sabe onde a França fica.

Há uns anos, os colegas americanos que me tinham convidado a participar num congresso resolveram obsequiar-nos (ao Carlos Fabião e a mim) num dispendiosíssimo restaurante panorâmico de Dallas. O sítio era bonito mas a cozinha nada tinha de extraordinário. O jantar foi muito simpático, mas o que mais me impressionou foi a cara do John, que dizia, em tom de êxtase, "it's a french chef, you know...".

Vem isto a propósito de um episódio que me foi relatado, em tempos, pela minha amiga Fátima. Ao folhear a revista de bordo de uma companhia americana num voo para Nova Iorque deu com uma reportagem sobre um badaladíssimo restaurante de Manhattan. Especialidade: french cuisine. French cuisine?, estranhou a Fátima, quando começou a ler a ementa. Eram pratos portugueses com nomes traduzidos para francês. O cozinheiro era um português que, tendo percebido a importância do marketing, resolveu dois problemas de uma assentada. Recordo dela me ter falado num prato que estava a causar sensação: petits pieds de cochon à la coriandre. Pezinhos de coentrada? Isso mesmo. Digam lá que em francês não soa melhor.

 
   
Pezinhos de porco e legumes da Quinta do Poial em salada com coentros frescos, pão saloio torrado com azeite transmontano - os pezinhos na versão do chef Vincent Farges.

7 comentários:

Lucrecia disse...

Triste é essa supervalorização do estrangeiro. Gosto mesmo é de ouvir, falar e ler em Português. Por falar nisso, eu achei na internete um texto seu,"Islamização no território de Beja — reflexões para um debate". Que leitura delliciosa!

babao disse...

Um Historiador (de) Arabe, que tem amigas chamadas Fatima, que faz conferências em Dallas* e que escreve sobre Pézinhos de Coentrada !?.....It's amazing !!!

As conferências em Dallas devem ser por causa do petróleo, nao ?
Umm !!!.. Dallas-Petroléo/Petroléo-Arabes...Ok esta tudo ligado : )))

PS Ka p'ra mim o azeite devia ser BIO e de Kaala Kbira :)))

Santiago Macias disse...

Sempre se achou chique escrever os pratos em francês. Mais ainda agora, que o francês está semi-morto.

Não sou historiador de árabe...
A ida a Dallas não teve a ver com petróleo, embora me tenham tratado principiescamente.

Santiago Macias disse...

"Islamização no território de Beja — reflexões para um debate" é um pequeno excerto da minha tese.

Lucrecia disse...

Eu sei. Gosto da forma como você escreve: claro, preciso e acessível.A propósito, estou lendo as crônicas do avenida.Maravilha!

Anónimo disse...

... genial e criativo o comentário de babao ...

LT

Santiago Macias disse...

Obrigado. As crónicas são publicadas, no dia 1 de cada mês, no quinzenário local "A Planície".