segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

TRÁS-OS-MONTES I

A jornada transmontana e duriense tem mais a ver com azeite que com vinho, mas a fotografia de Emílio Biel é sugestiva da beleza do território por onde passámos. Há contactos  e intercâmbios a fazer e aproximações entre esta região e o Alentejo que é preciso concretizar.

A intemporalidade dos sítios passa pela paisagem e pela poesia de A.M. Pires Cabral (n. 1941).


VINHA MORTA

Aqui foi uma vinha.

Comi das suas uvas e bebi
do vinho que essas uvas deram
e temperei saladas
com o vinagre em que esse vinho
se tornou.

Por isso – ainda que hoje as cepas tortuosas,
privadas de todo o verde,
que esbracejam como tendo naufragado
no pérfido mar ocre pálido
do voraz capim do Outono,
lembrem mais que nunca ossadas negras
que o tempo profanou e retorceu –

de algum modo
a vinha está morta e não está:
perdura viva em mim.

Isto, bem entendido, enquanto eu próprio
for algo em que algo possa perdurar.

Depois disso, perdurará naquilo
em que eu mesmo perdure.

E a partir daqui perde-se a conta.

2 comentários:

Lucrecia disse...

Gosto especialmente destes versos:

"Isto, bem entendido, enquanto eu próprio
for algo em que algo possa perdurar."

Lucrecia disse...

Por falar em paisagens, hoje (10/01), estava na praia, e pensei no quanto contrastam e são igualmente belas as nossas paisagens.Me lembrei de uma foto da sua cidade de madrugada, frio e com muita neblina.Hoje de madrugada, azul, calor, céu claro ,água morna, mar calmo.Nosso planeta é muito bonito.Precisamos só aprender mais sobre o Amor e a cuidarmos melhor uns dos outros.