Nunca fomos íntimos, embora fossemos amigos desde há muitos anos. O Tói era 18 anos mais velho que eu. Tratava-me por tu, como tantos da sua idade. Jamais eu me atreveria a retribuir... Sempre ouvira falar dele como figura respeitada, entre os colegas de profissão, entre os amigos do tempo de escola e entre os mourenses, da sua geração, que por ele têm uma quase devoção.
Cruzei-me com o Tói inúmeras vezes. Devo-lhe a simpatia da sua companhia, como numa tarde memorável passada num sábado de festa na "Aranha", a popular taberna da Rua da Verga. Homem discreto, foi sempre de uma grande firmeza política. As suas aventuras de aluno geravam respeito: a mais conhecida de todas era a atitude de desafio que tomava, ao colocar, muito discretamente, uma foice e um martelo em todos os seus desenhos, pinturas ou cenários. Fazia-o em tempos em que essas brincadeiras podiam sair muito caro. As colegas, em especial, ficavam aterrorizadas com a ousadia.
Ao Tói, Moura deve o talento e o afeto. Foi dele um inventivo cartaz, feito para as Festas de Nossa Senhora do Carmo, no início dos anos 70. Trabalho tributário da arte cinética, levantou celeuma e alguma incompreensão. Nada que o fizesse zangar. Devo ao Tói Galvão a capa do primeiro trabalho que promovi, na Câmara Municipal de Moura, em 1988: a edição da tese de licenciatura de José Fragoso de Lima. Foi uma das muitas atitudes de solidariedade que teve para com a sua querida Moura.
Nas paredes da Câmara Municipal estão expostas várias das suas obras. Pintor colorista e de grande talento, nunca "investiu" tanto na carreira de pintor quanto as suas capacidades lhe permitiriam. O lirismo do Alentejo está bem presente nas formas que delineou e numa paleta inconfundível. Temos em preparação uma exposição sobre a sua pintura, a cuja inauguração já não assistirá, infelizmente.
2 comentários:
_"Ao Tói, Moura deve o talento e o afeto."...
Palavras certas,justas,merecidas e sei que sinceras.
Obrigado,amigo Santiago...!
Santiago. Obrigado pela homagem ao meu pai. Abraço
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