Tenho participado, com regularidade,
numa página do facebook, intitulada "Na Idade Média é que era bom".
Não sei se o seu anónimo autor conhece a obra de José Vilhena, mas desconfio
que sim. Várias pessoas me desaconselharam a manter estas intervenções:
"um presidente de câmara colaborador de uma página satírica...".
Continuo insensível a tais recomendações.
O estilo da referida página, que usa iconografia medieval com relativa frequência é tributário, assim me parece, de livros como As misses, editado em 1972. A esse nível, a pintura bizantina e o trabalho dos orientalistas do século XIX são uma mina... A releitura de As misses levou-me, em linha reta, a uma obra do século VI, A história secreta, na qual Procópio conta o que deve e o que não deve sobre a mais que duvidosa moralidade da imperatriz Teodora. Quando estava a redigir a tese, li bastantes obras de Procópio, para me situar no ambiente histórico e cultural do mundo bizantino. As gargalhadas que dava durante a leitura desse livro, levavam uma amiga a exclamar "nunca pensei que as narrativas da Alta Idade Média fossem tão hilariantes...". Hilariantes e irreproduzíveis, por vezes.
É portanto aí que estou, nos poucos segundos que as tarefas autárquicas me deixam: entre a pintura, o espírito José Vilhena, a página "Na Idade Média é que era bom", e autores fantásticos, como Procópio de Cesareia.
Não vale a pena arruinarem-se comprando as edições da Loeb Classical Library, como eu fiz. A tradução, a partir do original em grego, está disponível, em inglês, na net.
História Secreta:
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Procopius/Anecdota/home.html
Ver também:
https://www.loebclassics.com
Em homenagem a José Vilhena, do seu livro As misses.
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