Há conquistas recentes. E números significativos. A Assembleia
Geral da ONU reconheceu no dia 27 de julho de 2010 o acesso a uma água de
qualidade e a instalações sanitárias como um direito humano (“Diário de
Notícias” de 29.7.2010).
O texto "declara que o direito a uma água potável própria e
de qualidade e a instalações sanitárias é um direito do homem, indispensável
para o pleno gozo do direito à vida". Nessa altura, 884 milhões de pessoas
no mundo não tinham acesso a uma água potável de qualidade e mais de 2,6 mil
milhões não dispunham de instalações sanitárias básicas. A falta de condições a
esse nível era causadora de dois milhões de mortes anuais, na sua maioria
crianças.
A recente inauguração de uma exposição sobre a água, no Museu
Municipal, no passado dia 30 de julho, vem chamar a importância para este
recurso e para a necessidade do seu uso democrático.
No nosso concelho o uso da água para toda a população é, e não nos
esqueçamos desse facto, uma conquista recente. Até há cerca de 50 anos, apenas
uma minoria tinha acesso a água canalizada e a um abastecimento regular. As
obras ficavam dependentes de benesses pessoais e de favores de pessoas bem
colocadas no regime. Uma das principais lutas do pós-25 de abril foi, justamente,
a da garantia do abastecimento de água e de redes de saneamento dignas desse
nome. Recordo-me perfeitamente do Rio da Roda ser um esgoto a céu aberto e das
águas residuais correrem em valas abertas em ruas da Salúquia. Uma realidade
que foi ultrapassada mas que nunca deveria ser esquecida. Nas aldeias, a
situação era substancialmente pior. Só com a Revolução de Abril e com o Poder
Local Democrático esses problemas foram atacados de forma frontal e direta.
Foi, nesse processo, um momento decisivo o abastecimento de água às freguesias,
com o início do funcionamento da estação do Ardila, em 1988. Nos últimos anos,
a luta por uma água pública e de qualidade continuou. Houve intervenções
recentes, no valor de milhões de euros, em Moura e no Sobral da Adiça. Temos, hoje,
água de qualidade e que cumpre todos os requisitos. As limitações que temos são
as frequentes nas regiões meridionais. É assunto que, infelizmente, continua a
dar azo às maiores e mais descabeladas e desavergonhadas demagogias.
A água começa a escapar, hoje, ao controle das autarquias. Com os
sistemas de captação nas mãos de empresas e com uma entidade de cariz
totalitário a determinar os sistemas de tarifas (refiro-me à ERSAR, que, sem
ter sido eleita, objetivamante manda nas Câmaras quanto aos aumentos de
preços a que nos obriga). Há restrições financeiras às renovações e
melhoramentos de redes, de que todos necessitamos. O objetivo é a privatização
e contra isso estamos e estaremos nós.
Por isso também, a exposição “Água: património de Moura” é uma
peça de divulgação cultural e de combate político. Ao longo de quase dois anos
nos encarregaremos de sublinhar essa mensagem.
Texto publicado na última edição de "A Planície".
Fotografia de Artur Pastor.
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