segunda-feira, 21 de maio de 2018

AS LÁGRIMAS DE ARNAUT

Foi uma das imagens televisivas que me causou mais impacto, numa já longínqua adolescência. À saída de uma visita à Mitra, o Ministro dos Assuntos Sociais foi-se abaixo e começou a chorar. Foi prestando declarações aos jornalistas, enquanto fumava um cigarro e (se) tentava acalmar.

António Arnaut foi ministro durante sete meses, em 1978. Sempre defendi que não é duração da permanência nos cargos que torna a ação relevante, et pour cause... 

O Serviço Nacional de Saúde, de cuja arquitetura tem a paternidade, foi aprovada apenas em setembro de 1979. Viviam-se os dias do 5º. Governo Constitucional. Era ministro Alfredo Bruto da Costa, outra figura notável do nosso País.

O Serviço Nacional de Saúde cresceu e afirmou-se. Há falhas? Há. Há insuficiências? Sim. Há atrasos? Também. Falta de pessoal? Sem dúvida. Ainda assim a qualidade do serviço que há em Portugal não tem comparação com a realidade de há 40 anos. Em termos globais, foi dos setores em que houve mais se progrediu em Portugal. E que melhor serviço é prestado. Fui disso testemunha, enquanto utente ou amigo ou familiar de utentes, ao longo dos anos.

Talvez por isso, e pelo que custa (e ainda bem que custa) ao Estado, tenhamos de ler coisas como esta:

"Até que idade faz sentido que o Estado garanta cuidados de saúde caríssimos que prolongam vidas já com pouca qualidade?" (José Manuel Fernandes - Observador - 5.4.2018). Nesta pergunta, de um jornalista próximo da extrema-direita, está a essência do combate ao S.N.S. Quem quiser saúde que a pague. Exatamente o contrário do que pensou, e fez, António Arnaut.

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