domingo, 13 de setembro de 2009

RUA DO SEMBRANO

Ouvi falar neste local, pela primeira vez, em Janeiro de 1986. O Doutor Caetano de Mello Beirão, no seu estilo característico, fez uma intervenção bastante ácida sobre o assunto no decorrer do 1º Encontro de Arqueologia do Baixo Alentejo. Fiquei sem perceber muito bem o que se iria passar a seguir...
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O tema arrastou-se, os anos foram correndo. Imóveis ao lado foram comprados e a área inicial de intervenção foi alargada. O arqueólogo que iniciara o processo desapareceu de cena e os trabalhos continuaram. Estruturas romanas e, sobretudo, da Idade do Ferro vieram cofirmar a excepcionalidade do achado. Lançou-se um concurso de arquitectura para o local que foi abandonado por inconmpatibilidade com os achados. O processo foi mais tarde retomado.
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A dada altura, e para surpresa minha, sou chamado a colaborar na exposição permanente, ficando a meu cargo os textos referentes a Beja na Antiguidade Tardia e no período islâmico. Fi-lo com prazer. Porque gosto da cidade, por causa do meu camarada Francisco Santos, porque tenho lá muitos amigos e porque a coordenação final coube à Susana Correia e ao Rui Aldegalega. Foram de uma infinita paciência comigo e com os meus sucessivos atrasos...
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O museu de sítio da Rua do Sembrano é um espaço notável. A entrada é marcada por um painel de azulejos concebido por Rogério Ribeiro (1930-2008). O interior é composto por um pavilhão com um chão de vidro que permite ver as estruturas arqueológicas. Em volta há vitrines com materiais, tabelas cronológicas e uma enorme planta de interpretação do sítio. O resultado é um espaço moderno e, em todos os seus elementos, de grande qualidade e que faz justiça às estruturas arqueológicas e as dignifica.
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Site da Câmara Municipal de Beja: www.cm-beja.pt

Texto sobre a Antiguidade Tardia em Beja:


Ao longo do século V as cidades modificam-se e alteram as suas funções. Os grandes edifícios públicos, manifestação do poder do Império, perdem utilidade e são adaptados a novos usos. A cidade mudara, assim como o papel que desempenhava. Teatros, anfiteatros, foros, vêem o seu espaço ocupado por basílicas cristãs ou por zonas habitacionais; na pior das hipóteses, os edifícios foram pura e simplesmente desmontados e as pedras reaproveitadas em novas construções. Um certo sentido de reciclagem irá marcar toda a Alta Idade Média.
É verdade que a arqueologia ilumina ainda hoje de forma insuficiente a evolução do Conventus Pacensis ao longo da Antiguidade Tardia. Os materiais são escassos e reportam-se, no caso das peças de arquitectura, quase sempre ao contexto religioso. Pode dizer-se sem grande exagero que as escavações referentes a este período se limitaram às villæ, às basílicas e às estruturas associadas à elite romana. Devemos acrescentar as necrópoles, apesar da insuficiência de trabalhos sistemáticos no sudoeste peninsular. Não se estranha, assim, que os principais vestígios sejam os de antigos locais de culto como a basílica de Sines, de Mértola, a igrejinha de Vera Cruz de Marmelar ou a importante colecção recolhida em Beja ou nos seus arredores.
A importância dos meios urbanos é uma constante e marca a geografia do território. A cidade de Beja herda um importante legado da época romana, sendo constantes, ao longo dos séculos VI e VII, as referências ao seu bispado, abundando no espaço intra-muros os elementos arquitectónicos que desmentem qualquer declínio. A tradição da cidade enquanto centro importante e lugar de difusão do conhecimento continuou na época islâmica: uma elite religiosa de ulemas de origem local assegurará uma prestigiosa transmissão de saberes.

1 comentário:

A Lusitânia disse...

Parabéns a todos vós. Também gostava de ter lá ido e não pude.
Como fiz uma nota no meu blogue, vou mandar-te
http://mirobrigaeoalentejo.blogspot.com

Adorava ter uma fotografia das tuas !!!!