Ainda Enrique Ponce mal concluira a faena e já os lenços brancos se agitavam freneticamente. "O que é que se passa?", perguntou a Isabel, que nunca entrara numa praça de touros. "Estão a pedir uma orelha", esclareci. Para meu enorme espanto, a Isabel puxa de um lenço branco e acompanha o transe do resto da praça de touros de Huelva. "Isto visto assim é diferente", disse depois. Nos dias seguintes, aquelas palavras continuaram a ressoar na minha cabeça, uma vez e outra. A Isabel nunca será uma aficionada, no sentido clássico do termo. Mas gostou de ver, mais tarde, Sebastian Castella na Real Maestranza, arrepiando-se com a sua temeridade.
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Aqui vos deixo 30 segundos de absoluta magia do grande toureiro Sebastian Castella:
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O parlamento catalão acaba de abrir as portas à proibição das corridas de touros na região, ao votar ontem uma proposta que poderá, a curto prazo, extinguir a Festa na Catalunha. Momentos de magia como os que José Tomás protagonizou em 21 Setembro de 2008, em Barcelona, poderão não se repetir. O problema é político antes de ser qualquer outra coisa. Os catalães usam de todos os meios e de todos os artifícios para não serem espanhóis como os outros. A esquerda (a deles e a nossa) rejubila. "Esquecendo" que, por detrás destas recentes medidas, estão tentações independentistas. As quais são alheias à palavra solidariedade que, à esquerda, tanto gostamos de brandir. Veja-se o PIB da Catalunha para se entender melhor o que digo...
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Quanto ao resto: os touros, gostem os proibicionistas ou não, fazem parte da cultura do Mediterrâneo. Desde há vários milénios. Decretar a eliminação das corridas de touros por via jurídica é tornar o mundo mais igual e asséptico. Mais politicamente correcto e aborrecido. Mais normalizado e formatado. Mais descafeinado e clean. Preocupemo-nos. Os chatos estão a ganhar avanço.
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Quanto ao resto: os touros, gostem os proibicionistas ou não, fazem parte da cultura do Mediterrâneo. Desde há vários milénios. Decretar a eliminação das corridas de touros por via jurídica é tornar o mundo mais igual e asséptico. Mais politicamente correcto e aborrecido. Mais normalizado e formatado. Mais descafeinado e clean. Preocupemo-nos. Os chatos estão a ganhar avanço.
3 comentários:
Sem nunca ter sido aficionada "no sentido clássico do termo", já defendi, noutros tempos, acerrimamente, os touros de morte e as touradas.
Presentemente, compreendendo perfeitamente os argumentos dos prós e dos contras e pessoalmente inclinar-me-ia mais para a proibição das corridas de touros. Sei que existe em mim essa dualidade: o fascinio pela arte do toureio, a mistica do confronto homem/animal, o desafio à própria morte. Desde sempre as festas de Pamplona continuam a fazer parte das viagens que um dia gostaria de fazer, só porque um dia tive a felicidade de pegar no Fiesta do Ernest Hemingway e, simplesmente, deslumbrou-me. Mas, sejamos sinceros, o risco nas touradas é minímo e controlado por parte do homem. Quem morre, por norma, é o animal. O confronto é logo, à partida, desigual. Por outro lado, acho que o ser humano é tão criativo e há tantas formas de poder expressar a sua arte e também de desafiar a morte, que considero escusado, dado o ponto civizacional a que chegámos, infligir sofrimento a animais apenas para saciar a nossa vontade de arte, mistica e em alguns casos por mero "requinte" social... Aceito que não é uma questão de imposição legal contra tradições profundamente enraizadas, passa antes por uma evolução de mentalidade, pela consciencialização do nosso papel no planeta, pelo respeito que já deveríamos ter por todas as formas de vida. Utopia...? Talvez. Quando ainda nos andamos a matar uns aos outros.
Fundamentalista? Também não. Compreendo as duas partes inclusivé porque estou inserida numa cultura em que as touradas, são espectáculos aceites de forma natural... Ah, e também gosto dos frangos do Liberato e outros petiscos similares...mas esse já era outro tema de discussão.
BB
Cara BB
A opinião é livre.
Só não estou de acordo com a palavra "proibição".
SM
Quando escrevi essa frase (palavra) já estava a pensar a um nível mais avançado da questão. Costuma dizer-se que o pensamento é mais rápido que as palavras – embora haja aquela anedota que, em termos de velocidade, deixa o pensamento arrumado a um canto. Nesse outro nível já me estava a imaginar, em Portugal, a votar em referendo sobre se concordava ou não com a proibição das corridas de touros (pensamento meramente hipotético e, de certa forma, ingénuo). Talvez me inclinasse para votar na “proibição” se essa possibilidade me fosse dada. Assim como há uns anos atrás, teria votado, sem hesitações, a favor das corridas. O mais certo seria ficar sentadinha em casa, dividida entre o entendimento da tradição enquanto património cultural de um povo e a convicção pessoal de que só conseguiremos melhorar como seres humanos, quando estivermos culturalmente sensibilizados para entender que os animais também têm direitos. Servirmo-nos dos animais para satisfazer o nosso gosto pela arte da lide (admitindo que gosto de ver tourear e que me encantaram os vídeos aqui publicados), actualmente, já não faz para mim qualquer sentido.
Concordo que “é proibido proibir” enquanto as pessoas que pensarem como eu sejam uma minoria. Correndo o risco de me contradizer, defenderia em qualquer lado a tradição dos touros de morte em Barrancos – caso essa excepção ainda não estivesse consagrada na lei – simplesmente porque entendo que, culturalmente, com ou sem lei de excepção, seria impossível, neste momento, retirar àquele povo a sua marca identificadora. Nesse aspecto, confesso que fiquei indignada com uma certa manifestação, em Barrancos, de determinados ilustres da capital em conjunto com algumas associações de defesa dos animais, na altura em que essas festas eram o auge dos noticiários nacionais, simplesmente porque… arvorados de uma qualquer intelectualidade superior, não conseguiam aceitar ou entender as diferenças culturais daquela comunidade específica.
Em princípio, as leis devem (deveriam) traduzir o sentimento generalizado de determinada comunidade, caso contrário, é meio caminho andado para que não passem de palavras em papel…
Como a conversa já vai longa, e como dizem (e bem…) em Moura, as minhas desculpas pela “colhoada”.
BB
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