A FESTA DO SILÊNCIO

Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa in Volante Verde

Mais um filme, Cinema Paraíso, que não é um dos títulos maiores da História do Cinema. Mas que conquistou o coração de milhões em todo o mundo. Esta cena, do final do filme, é o climax perfeito de um filme feito de sentimento. Um velho projeccionista deixa como herança ao seu pupilo, tornado uma realizador de renome, uma bobine com as cenas que o padre da aldeia cortava antes que a população antevisse as portas da tentação.

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Cinema Paraíso data de 1988 e foi realizado por Giuseppe Tornatore (n. 1956). António Ramos Rosa é um poeta português. Nasceu em 1924 e escreve em silêncio.