quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O BEIJO

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Paul Verlaine (1844-1896) não foi um modelos de virtudes. As fotografias, ácidas e, não raro, de enorme violência, de Nan Goldin (n. 1953), nunca reflectem ambientes virtuosos. Gosto do poema de Verlaine e da fotografia de Goldin, por não fingirem falsas virtudes.
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Vivo acompanhamento no piano dos dentes
Dos refrãos que Amor canta nas almas ardentes
Com a sua voz de arcanjo em lânguidas delícias!
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Divino e gracioso Beijo, tão sonoro!

Volúpia singular, álcool inenarrável!
O homem, debruçado na taça adorável,
Deleita-se em venturas que nunca se esgotam.
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Como o vinho do Reno e a música, embalas

E consolas a mágoa, que expira em conjunto
Com os lábios amuados na prega purpúrea...
Que um maior, Goethe ou Will, te erga um verso clássico.
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Quanto a mim, trovador franzino de Paris,

Só te ofereço um bouquet de estrofes infantis:
Sê benévolo e desce aos lábios insubmissos
De Uma que eu bem conheço, Beijo, e neles ri.
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Paul Verlaine, in "Caprichos"

Tradução de Fernando Pinto do Amaral

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