quinta-feira, 10 de setembro de 2009

DESCEU TÃO DE REPENTE O SOL...

Desceu tão de repente o sol por onde
andámos. Já não o vejo
essa janela para além das árvores,
esse lugar-refém
de tudo o que senti. A própria infância
confundiu as imagens, quis amar
a voz do seu segredo.
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Se ainda existe o verão, porquê
a nostalgia, a dor feliz que foge e não
regressa? A cada instante parece outra
a melodia
nos olhos do meu pai do meu irmão
e eu sei adormecer, rezar ainda
com a minha mãe à cabeceira.
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Quais são as cores da morte? Uma paisagem
acontecendo, em sombra, os objectos
esquecendo-se de nós - numa so vida
começam e acabam mais outras
vidas.
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Era uma casa cor-de-rosa e do meu quarto
Podia ver-se o mar.
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O poema é da autoria do escritor e ensaista Fernando Pinto do Amaral (n. 1960). As imagens, que reflectem a desolação das casas abandonadas e representam bem o prenúncio da morte, foram retiradas do vídeo Linha do tempo, de Jorge Molder (n. 1947). Nos 5'40'' do vídeo "um homem percorre uma casa, que vemos estar abandonada, como se procurasse algo, que suspeita estar ligada ao seu passado, seguindo um fio ténue de sentido que poderia encontrar nas coisas ainda presentes e mesmo nas marcas de destruição."
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Recordo-me de ter visto o vídeo num dos Encontros de Fotografia de Coimbra, num dos anfiteatros da Universidade no meio de um silêncio apenas quebrado pela som dos passos e pelo vidro estilhaçado de uma janela.
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Página web de Jorge Molder: http://www.jorgemolder.com/

4 comentários:

Alexandre disse...

Pelo amor de Deus, o cabotino do Molder, não.

Santiago Macias disse...

Caro Alexandre

Nem tudo na obra de Jorge Molder me suscita entusiasmo. As pinturas faciais, aqueles obsessivos e narcísicos grandes planos estão nessa área. Mas há fotografias que considero interessantes - em particular as mais antigas, como as que editou num livro conjunto com Joaquim Manuel Magalhães - e que não são mesmo nada cabotinas. Digamos que há coisas que sim e coisas que não.
O vídeo que cito é uma peça um pouco estranha e solitária. Daí a inclusão junto ao poema.

SM

Alexandre disse...

Não contesto que existam algumas obras interessantes do Molder (até posso dar a mão à palmatória e retirar o cabotino da adjectivação de algum do seu trabalho mais antigo) mas, para mim, o Molder continua a ser, pelo seu percurso e pelo labirinto onde se encerrou, o Ângelo Sousa da fotografia (e video) portugueses - com tudo o que isso implica para o Sousa.

Outra que considero cabotina é a Helena Almeida - mas claro, opiniões e gostos serão sempre opiniões e gostos, e não poderiam ser de outro modo, os meus gostos, já que prezo, na fotografia portuguesa, muito mais um Alfredo Cunha ou um Paulo Nozolino que um Molder. :)

Santiago Macias disse...

Caro amigo CAETANO. Peço desculpa, e espero que não leve a mal, mas tive de dar um tom um pouco mais "soft" ao seu comentário:

"Concordo com o epíteto de cabotino ao Molder e a sua entourage na FGC.Uma obra centrada no eu não é obra que possa entusiasmar ninguém para além do próprio. Não que a obra de Arte tenha que ser toda social longe disso. Quanto à Helena Almeida tb.serve muito bem a adjectivação em cima aludida.No que respeita ao Ângelo de Sousa, aqui do Porto vos digo que não assenta tal adjectivação em tão grande como revolucionário lavrador das Artes em Portugal. As suas obras aí estão par o demonstrar."

Se quiser mande-me o seu contacto/mail sff.