O tema Museu de Moura tem merecido, a nível local, algum interesse. Num momento em que a autarquia tem em curso diversos projectos no âmbito da reabilitação do património histórico (até agora com recurso, único e exclusivo, ao orçamento municipal) aqui deixo uma brevíssima reflexão sobre o tema, publicada há semanas no jornal A Planície.
Quebro aqui o princípio de não me pronunciar sobre matérias específicas da minha área profissional, sendo, ao mesmo tempo vereador da Câmara de Moura. Julgo dever fazê-lo numa altura em que se encerra o processo de concurso para a renovação da área do Matadouro e novas perspectivas se abrem para o Museu Municipal. Julgo ter, sobretudo, a obrigação de fazê-lo antes que se difundam e façam escola opiniões avulsas, quase sempre veiculadas por opinadores sem qualquer qualificação técnico-científica e sem qualquer experiência na matéria.
Aqui vai, em jeito de pergunta/resposta:
1. Porque é necessário um novo espaço para o Museu de Moura?
a. Porque, do ponto de vista físico, o actual edifício sempre foi tido como um local transitório e porque é necessário garantir uma melhoria de condições de exposição;
b. Porque os museus municipais podem e devem assumir, em cidades com a dimensão da de Moura um papel dinamizador junto das comunidades locais e junto dos turistas que visitam a cidade e o concelho.
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2. Que modelo de desenvolvimento se adopta nestas circunstâncias?
a. Por um lado, um esquema de exposição permanente que valorize as peças de grande valor que existem (e o concelho de Moura pode dispor de cerca de duas dezenas de peças de excepcional qualidade, dignas de figurarem em qualquer museu);
b. Por outra parte, a previsão de espaços para exposições temporárias;
c. Tendo em conta a estrutura organizativa e a capacidade de resposta de entidades como o Museu de Moura (e que é idêntica a de tantos outros museus que existem no nosso país), a organização de exposições temporárias não pode ter uma renovação inferior a 18 meses;
d. Quando falo em exposição temporária excluo, evidentemente, os trabalhos de animação correntes que fazem parte das tarefas quotidianas;
e. Quando falo em exposição temporária refiro-me à construção de ideias, à sua montagem e à edição de catálogos. Recorrendo-se, ou não, a entidades e a colegas de outras instituições.
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3. O espaço do matadouro é exageradamente grande para estas finalidades?
a. Não é, e quem afirma o contrário mais valia que estivesse calado, para não estar a debitar baboseiras sobre matérias que desconhece;
b. Em concreto, o museu prevê uma área de exposição permanente (185 m2), uma área para mostras temporárias (80 m2), uma área para actividades de animação e serviços de apoio. O mínimo indispensável para garantir um trabalho de qualidade.
c. Os serviços são os mesmos que existem actualmente em diferentes edifícios. São assim, agregados e reorganizados. Permitem, sobretudo, que as reservas do museu fiquem num só local;
d. Os espaços de apoio foram calculados em função das necessidades.
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4. Que espaços é que o novo museu não vai ter?
a. Não terá nem auditório nem biblioteca.
b. Esta proposta foi minha, enquanto vereador e baseando-me numa experiência de trabalho de mais de 20 anos neste domínio.
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5. Porque é que não vai ter nem auditório nem biblioteca?
a. Porque o auditório é um equipamento caro, “pesado” e que se arrisca a ser usado raras vezes ao longo de um ano;
b. Porque existem auditórios em número suficiente na cidade, com capacidade para albergarem qualquer evento com as devidas condições.
c. Porque há em Moura uma belíssima biblioteca municipal e é um disparate multiplicar equipamentos;
d. Excluo do conceito biblioteca a aquisição de bibliografia específica para uso dos técnicos do museu.
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6. O processo foi feito “à maluca” e só “porque sim”?
a. É evidente que não. Não me permito esse género de brincadeiras…
b. O concurso do matadouro foi fruto de inúmeros contactos, entre os quais telefonemas, troca de mails e reuniões pessoais com Clara Camacho (subdirectora do Instituto dos Museus e de Conservação) e com Joana Sousa Monteiro (coordenadora da Rede Portuguesa de Museus). A título informal, troquei impressões e ideias com Conceição Amaral (Directora do Museu da Fundação Ricardo Espírito Santo);
c. Na avaliação das propostas participou João Herdade, arquitecto do IMC e técnico com vasta experiência nestes dossiês;
d. A nível interno, teve o acompanhamento dos técnicos camarários, com destaque para Marisa Bacalhau, responsável pelo museu.
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7. Quanto custa a concretização do projecto?
a. Para a reabilitação do edifício do matadouro são cerca de 700.000 euros;
b. Bem entendido, que a concretização será faseada.
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8. Haveria alternativas de uso para o edifício do matadouro?
a. Admito que sim. Não conheço, contudo e à luz da realidade actual, propostas dignas de crédito;
b. Sobretudo, não conheço propostas fundamentadas.
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9. Porque não se faz um edifício de raiz?
a. Porque é uma opção nossa privilegiar, sempre que possível, a reabilitação de edifícios;
b. Exemplos recentes: Pátio dos Rolins, Quartéis, Antigo Quartel dos Bombeiros;
c. Exemplos futuros: Antigo Grémio (Biblioteca Municipal).
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10. Vai ser um processo fácil?
a. Não vai nada. Exigirá, decerto, o maior empenho a todos. E vai dar uma responsabilidade acrescida à responsável pelo museu. Que tem neste projecto a oportunidade da sua vida;
b. A adjudicação do projecto ocorrerá dentro de dias. Depois, avançará à maior velocidade que se conseguir;
c. O resto é coisa que tenho o prazer de deixar para os amadores e para os especialistas de fim-de-semana.
O projecto abrange o edifício do antigo matadouro assim como toda a área envolvente.
Convirá também clarificar que, a despeito do inestimável apoio dado pelas pessoas e entidades acima referidas, a responsabilidade pelo desenvolvimento do processo coube à Câmara Municipal de Moura. Foi também a autarquia que assumiu as opções que apresentei de forma muito sumária.