Não é meu hábito colocar dois filmes no blogue na mesma semana. Mas os acontecimentos na Pátria justificam a escolha. Não percebo grande coisa de Finanças, mas estes esquemas de swaps, negociatas, juros e apostas só me devolvem o nome de uma cidade: Las Vegas. Andam suas excelências OS ESPECIALISTAS com a cabeça às voltas por causa da decisão do Tribunal Constitucional quando se descobre que OUTROS ESPECIALISTAS andaram a fazer de croupiers financeiros. O buraco já vai em 3.000.000.000 de euros. Viva Las Vegas, pois então.
terça-feira, 30 de abril de 2013
segunda-feira, 29 de abril de 2013
UM RELÓGIO AMIGO
O RELÓGIO DA AMIZADE
Em cada relógio há sempre um amigo
que nos acorda, que suavemente nos percorre
os interstícios da alma, que nos assombra
com sinais discretíssimos de fraterna luz
ou que nos deixa, mesmo em minuto frágil,
um arco triunfal com tâmaras de afecto.
Nesse relógio há um lírio comestível
ou uma plena árvore com seus braços
de deslumbre, ou a mais ínfima erva
que por ele sobrevive à estrondosa queda
do granizo, à dissolução (inevitável) de casas
e areias, e mesmo ao advento da loucura.
É sempre tal relógio um rio profundo
onde a cor dum sol cheio, tantas vezes
reposto, tantas vezes presente em acenar
de címbalos e de búzios, pode acordar
em tons de uma aridez sombria, pode
deixar-nos tristes, sós e desolados,
numa gruta de horror frente ao deserto
- num recanto de sono e desalento.
Nesse amigo de sempre, um tal relógio
- com seus ponteiros de murta ou de veludo,
que saltam como lebres sobre as horas
ou são nichos de abrigo e cestos de avelãs –
é puro movimento e azul que estremece
o fio de cada dia, o voo do coração.
Mesmo em zonas de fogo e exaltação,
nesses lugares de praia mais sensíveis
(como o esplendor do corpo em combustão,
como o fremir da vaga e do desejo),
existe tal relógio, ó engrenagem mágica,
ó tiquetaque nítido, tão cúmplice.
João Rui de Sousa
Não sei se é exatamente o relógio da amizade, mas é uma companhia amiga que agora regressa. A torre do relógio ostenta o nome há dezenas de anos, mais que isso até. Em 1984, creio não me enganar no ano, um temporal destruiu o velho relógio. A recente recuperação da torre deu o mote e levou à pergunta "vamos voltar a ter relógio, não vamos?". Pois...
Aquele relógio é-me companhia certa desde há muito. Quando morava na Rua Nova da Estação e descia a Rua da Parreira e ía para a escola. Quando o espreitava do alto da Palácio da Justiça. Quando o ouvia dar as doze badaladas e a D. Jacinta nos mandava sair. Quando o via na ladeira da Salúquia.
O relógio da torre está de volta. Ainda bem.
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MÚSICA - GRUPOS 4 E 5 (AMARELEJA)
Eu sou devedor à terra.
A terra me ‘stá devendo.
A terra paga-m’ em vida,
eu pago à Terra em morrendo.
Não foi propriamente um convite à valsa, como sugere esta tela de Columbano. Mas as vozes, femininas e masculinas, dos grupos da Casa do Povo da Amareleja, dançaram esta noite. Sozinhas e em conjunto. Mais uma boa jornada de gravações do DVD musical do concelho de Moura.
domingo, 28 de abril de 2013
AR LIVRE
José Fanha, clamando por ar livre, na Feira do Livro, em Moura. O poema é de Miguel Torga.
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Antes o caos que a morte…
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
-E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre como se tem
Fora do ventre da mãe,
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
sábado, 27 de abril de 2013
HOMENAGEM AOS JOVENS DO CONCELHO DE MOURA QUE PERDERAM A VIDA NA GUERRA COLONIAL
O silêncio regressou ao Largo dos Quartéis, no fim da tarde. Horas antes tivera lugar nesse local uma cerimónia, simples e emotiva, de homenagem aos jovens do concelho de Moura que perderam a vida na Guerra Colonial.
A iniciativa partiu da Câmara Municipal de Moura e contou com a presença do Gen. Luís Araújo, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, de representantes dos três ramos das Forças Armadas, bem como do Gen. Joaquim Chito Rodrigues, presidente da Liga dos Combatentes. Foi o culminar de um conjunto de contactos entre a autarquia e o gabinete do CEMGFA. Foi a forma adequada de render homenagem aos jovens do nosso concelho. Foi, também, a forma simbólica de perpetuar a memória castrense junto ao edifício dos Quartéis, cuja obra de reabilitação se aproxima do final.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
EVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA
Acreditem ou não (espero que acreditem, claro), esta acumulação toponímica existe mesmo. O Largo General Carmona, que também é General Humberto Delgado, que também é Rua da Liberdade, fica no Sobral da Adiça, uma freguesia do concelho de Moura.
Curiosidade à parte, registe-se a evolução democrática dos nomes dos largos e das ruas, fenómeno tão corriqueiro no pós-25 de abril. Olhando o panorama atual e vendo os ataques descabelados ao Poder Local - conquista fundamental da Democracia - ficamos com a sensação que se deveria ter um pouco além da maquilhagem das placas.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
FREEDOM
Richie Havens partiu ontem. Ganhara a imortalidade aos 28 anos quando abriu o festival de Woodstock com este vibrante Freedom. Aparentemente, Havens só deveria atuar mais para a frente, mas os outros músicos estavam atrasados. Este improviso marcou-o e converteu-se num símbolo para o documentário sobre o mítico festival. O filme de Michael Wadleigh abre assim.
Amanhã é Dia da Liberdade. Uma razão, também, para recordar Richie Havens, para celebrar Freedom, bem como o documentário Woodstock, um filme que tão importante foi na minha adolescência. Vi-o, no Lido (Amadora), com um conhecido político de direita da atualidade, depois de uma tarde de imperiais no Minabela, junto aos Quatro Caminhos. Continuamos amigos. Mas já não poderemos beber imperiais no Minabela, que agora é um McCoiso qualquer, segundo me disseram...
Woodstock é o meu filme da semana.
terça-feira, 23 de abril de 2013
BOLAMA
Agora é a vez de Bolama. Daqui a meses haverá livrinho sobre Bolama, a cidade que outrora foi capital da Guiné-Bissau. Um sítio pouco vulgar. E onde as emoções são fortes. Aqui se mostram a capa e a contra-capa do livro. A maquetagem é um magnífico trabalho da TVM Designers.
O texto ainda não tem final. Mas já tem começo: A costa é uma muralha de mangue.
Espero estar, minimamente, à altura de Bolama.
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segunda-feira, 22 de abril de 2013
FIM DE FESTA
Post mertolense. Ambiente de fim de festa, no sábado, em Mértola. Não está a equipa atual toda, mas aqui fica a identificação dos que posaram, no pátio da Casa Amarela. Da esquerda para a direita: Germano Vaz, Isabel Magalhães, Bruno Almeida, José Bento, Cláudio Torres, Lígia Rafael, Rute Fortuna (na linha da frente), Maria Armanda Salgado, Virgílio Lopes, Guilhermina Bento, Santiago Macias, Nélia Romba, Tucha Palma, José Rui (da ACERT, na linha da frente), Paula Rosa, Adriano Fernandes, Clara Guerreiro, Susana Gómez Martínez e Filipe Gomes.
UM CATÁLOGO SOBRE ALCARIA DOS JAVAZES
Há histórias que parecem destinadas a não ficarem concluídas. O núcleo museológico de Alcaria dos Javazes parecia estar incluída nesse grupo. Mas não. O pequeno museu avançou (v. aqui) e foi inaugurado (v. aqui). Na passada 5ª feira teve lugar, na Biblioteca Muncipal de Mértola, a apresentação do catálogo. Textos e imagens sobre a aldeia e sobre a coleção que ali se reuniu. Só então pude pensar "missão cumprida".
O museu tem página no facebook: https://www.facebook.com/pages/N%C3%BAcleo-Museol%C3%B3gico-de-ALCARIA-DOS-JAVAZES/212986682071558?ref=ts&fref=ts
domingo, 21 de abril de 2013
AO CLÁUDIO
Um painel que dificilmente se repetirá, nos próximos tempos. Da esquerda para a direita: Joge Alarcão, José Luís de Matos, Hermenegildo Fernandes, Cláudio Torres, José Mattoso e Borges Coelho. Foi durante a homenagem ao Cláudio, na passada 6ª feira, no anfiteatro I da Faculdade de Letras de Lisboa.
Cruzei-me, durante os dias da homenagem (19, em Lisboa, 20, em Mértola) com centenas de colegas e amigos. Participei, com todo o empenho, nas sessões que se realizaram. A homenagem, mais que justa, teve um toque de fraternidade, bem sublinhada nas palavras do Reitor, António Sampaio da Nóvoa.
Muito tem sido feito por muita gente ao longo destes 35 anos. Os resultados estão, aos mais variados níveis, à vista. Falta-nos reconquistar Mértola (e não é das eleições autárquicas que estou a falar).
NINA SIMONE
Nina Simone partiu há dez anos. Motivo para recordar a voz de alguém que fez as coisas à sua maneira. Até na decisão de posar nua para o fotógrafo cubano Mario Algaze (n. 1947), que produziu esta extraodinária imagem. Nem erotismo, nem glamour, apenas a coragem de mostrar um corpo igual a tantos outros. Quantas/quantos se atreveriam a fazê-lo?
sábado, 20 de abril de 2013
MOURA - FEIRA DO LIVRO E SALÃO MOURA BD
Razões de ordem profissional fazem com que "apanhe" a 33ª edição da Feira do Livro e o 18º Salão Moura BD só no dia 24. Ainda vou a tempo e até já encomendei um livro por SMS. Estamos juntos. A programação, intensa e de qualidade (ou vasta, ampla e diversificada, como diz um amigo meu), pode ser consultada no blogue de Zélia Parreira (v. aqui).
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180º
A exposição 360º - Ciência Descoberta vai a meio do seu tempo de abertura ao público. Ou seja, já lá vão 180º.
Do site da Fundação Calouste Gulbenkian (v. aqui):
360º - Ciência Descoberta é uma exposição sobre a ciência ibérica na
época dos descobrimentos. Apresenta os desenvolvimentos científicos e
técnicos associados às grandes viagens oceânicas de Portugueses e
Espanhóis nos séculos XV e XVI, e o impacto que causaram na ciência
europeia. A exposição procura mostrar os diversos factores que modelaram
as ideias e as práticas dos ibéricos nesse período – o fascínio com as
novidades do mundo natural americano e asiático, a crítica do saber
antigo, o estabelecimento de novas práticas empíricas, a disseminação de
conceitos científicos pelos estratos menos instruídos da sociedade, os
melhoramentos técnicos, os processos e as instituições de acumulação e
gestão de novos conhecimentos – e como estes aspectos jogaram um papel
significativo no nascimento da modernidade científica europeia.
Comissário - Henrique Leitão
Patente ao público até 2 de junho.
360º - Ciência Descoberta é um trabalho deslumbrante. Peças antigas vivem no meio da modernidade. Para que o trabalho de investigação tenha resultado em pleno muito contribuiu a museografia, da autoria de Mariano Piçarra. Um autor que já andou por terras de Moura, refira-se.
Globo Celeste de Christoph Schissler, o Velho, 1575 |
Divisão de Documentação Fotográfica da Direcção Geral do Património Cultural
Sintra, Palácio Nacional de Sintra
quinta-feira, 18 de abril de 2013
MÚSICA - GRUPO 3 (AMARELEJA)
MOURARIA - FIAT LUX
Faça-se luz. A obra de valorização dos espaços públicos da Mouraria de Moura está praticamente terminada. O projeto, da autoria de Pedro Guilherme e Sofia Salema, teve um percurso de avanços e paragens. Até ao decisivo momento do arranque. A iluminação já está a funcionar, dando às paredes e às ruas um ar simpático e renovado.
A Mouraria é um conjunto classificado de três ruas, um largo e uma travessa. Remonta ao século XIII, altura em que nesta zona, no exterior das muralhas, se começou a construir um bairro destinado a albergar a população entretanto expulsa do castelo.
É uma das zonas mais populares e acolhedoras da cidade. Por isso se lhe deu particular atenção no âmbito das Parcerias para a Regeneração Urbana (335.000 €, dos quais a Câmara Municipal pagou apenas 50.000). Um processo difícil e que vai sendo concretizado, com esforço e persistência.
O "dossiê Mouraria" ficará encerrado no final da próxima semana. Será pretexto para uma pequena celebração. Os moradores do bairro merecem isso.
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quarta-feira, 17 de abril de 2013
POR EL CAMINO VERDE...
O filme, Suspiros de Triana, é daqueles que já ninguém se lembra. Eu nem sabia da sua existência. Encontrei-o por mero acaso. Os protagonistas são duas estrelas dos anos 50: Paquita Rico (n. 1929) e Ángel Sampedro Montero, conhecido como Angelillo (1908-1973).
Camino Verde é um tema popularíssimo de Carmelo Larrea. É encenado de modo irrepreensivelmente kitsch. O melhor momento é ao 1:50, quando o pianista martela as teclas e nós ouvimos congas. Um raccord perfeito.
Em todo o caso, gosto da música e, viva la copla!, da maneira de cantar de Angelillo. Por isso, Suspiros de Triana é a minha escolha cinéfila de hoje.
MÚSICA - GRUPOS 1 E 2 (SANTO AMADOR)
Arranque de um projeto diferente. Foi ontem à noite, na Adega da Mantana, em Moura. Os primeiros grupos a gravar foram os corais da ADASA e da Casa do Povo. Ambos de Santo Amador. Música alentejana no feminino e no masculino.
O projeto abrangerá todos os grupos musicais (corais, bandas etc.) do concelho. São quatro dezenas. O DVD incluirá músicas e imagens de todos os grupos de todas as freguesias. Estará concluído dentro de meses e será mais uma forma de afirmação da nossa terra.
Podem, a partir dos grandes centros fazer, ou tentar fazer, tudo. Mas não nos calam.
terça-feira, 16 de abril de 2013
PATRIMÓNIO X QUATRO
Assinale-se a classificação de quatro imóveis no concelho de Moura.
Saúde-se a "diversidade" geográfica das classificações (quatro freguesias, de três localidades).
Recorde-se que três destes imóveis tiveram, têm ou terão intervenções, de diferentes tipos e com distintos graus de envolvimento, com a participação da Câmara Municipal de Moura. Trata-se de um tema que faço questão, do ponto de vista pessoal, em sublinhar.
Aqui vão os links:
Casa das Terçarias (Moura)
Igreja de Nossa Senhora da Estrela (Estrela)
Igreja e Convento de S. Francisco (Moura)
Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Safara)
segunda-feira, 15 de abril de 2013
ENTRE A KETCHOUA E SIDI RAMDANE
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
Lembrei-me de Cesariny por causa da fotografia de Atget. E lembrei-me desta fotografia (minha) por causa de Atget. Tirei-a em 2004, na primeira vez em que pude cruzar a casbah de Argel. Anos antes o percurso fora-me vedado pela polícia (v. aqui). Não recordo o local exato em que a tirei, mas lembro-me, com detalhe, do silêncio do bairro naquele fim de tarde, do pano azul e branco na porta e da chuva miudinha que caía.
A Ketchoua e Sidi Ramdane são duas mesquitas. A primeira fica na casbah baixa, a segunda na alta.
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domingo, 14 de abril de 2013
ESQUIZOFRENIA
António José Seguro, a mais preocupante nulidade da política nacional, ganha as primárias do seu partido com 95%.
Miguel Relvas é louvado, sabe Deus porquê, pelo conselho nacional do seu partido.
Paula Rego, nome cimeiro da pintura mundial, exige a devolução das suas obras, porque a fundação que dava sentido ao projeto da Casa das Histórias foi extinta.
Tenho visto governantes em centros comerciais. Nunca vi nenhum numa exposição, num concerto, numa biblioteca ou numa livraria. O que se passa com Paula Rego tem a ver com o resto.
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SOB O SIGNO DE HOPPER - V: EUGÈNE ATGET
Deveria, provavelmente, ser ao contrário: sob o signo de Atget, porque quando Hopper chegou a Paris já o fotógrafo começava a ser uma celebridade. As duas imagens são da cidade-luz. A do pintor americano intitula-se
simplesmente Paris Street e é de 1926, um ano antes de Atget falecer. A
fotografia tem data, 1912, e localização precisas (Rue Broca).
Voltarei aqui, talvez amanhã, com a desolação de outra rua vazia. Gosto dessa rua. Como gosto deste poema de Al Berto.
deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos
palpáveis,
vivos e limpos.
a dor de todas as ruas vazias.
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no
seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da
sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
a dor de todas as ruas vazias.
pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa
no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.
é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.
a dor de todas as ruas vazias.
sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.
a dor de todas as ruas vazias.
os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite.
assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas.
e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.
sábado, 13 de abril de 2013
MISTRAL MATUTINO
Hay besos que pronuncian por sí solos
la sentencia de amor condenatoria,
hay besos que se dan con la mirada
hay besos que se dan con la memoria.
Hay besos silenciosos, besos nobles
hay besos enigmáticos, sinceros
hay besos que se dan sólo las almas
hay besos por prohibidos, verdaderos.
Hay besos que calcinan y que hieren,
hay besos que arrebatan los sentidos,
hay besos misteriosos que han dejado
mil sueños errantes y perdidos.
Hay besos problemáticos que encierran
una clave que nadie ha descifrado,
hay besos que engendran la tragedia
cuantas rosas en broche han deshojado.
Hay besos perfumados, besos tibios
que palpitan en íntimos anhelos,
hay besos que en los labios dejan huellas
como un campo de sol entre dos hielos.
Hay besos que parecen azucenas
por sublimes, ingenuos y por puros,
hay besos traicioneros y cobardes,
hay besos maldecidos y perjuros.
Judas besa a Jesús y deja impresa
en su rostro de Dios, la felonía,
mientras la Magdalena con sus besos
fortifica piadosa su agonía.
Desde entonces en los besos palpita
el amor, la traición y los dolores,
en las bodas humanas se parecen
a la brisa que juega con las flores.
Hay besos que producen desvaríos
de amorosa pasión ardiente y loca,
tú los conoces bien son besos míos
inventados por mí, para tu boca.
Besos de llama que en rastro impreso
llevan los surcos de un amor vedado,
besos de tempestad, salvajes besos
que solo nuestros labios han probado.
¿Te acuerdas del primero...? Indefinible;
cubrió tu faz de cárdenos sonrojos
y en los espasmos de emoción terrible,
llenáronse de lágrimas tus ojos.
¿Te acuerdas que una tarde en loco exceso
te vi celoso imaginando agravios,
te suspendí en mis brazos... vibró un beso,
y qué viste después...? Sangre en mis labios.
Yo te enseñé a besar: los besos fríos
son de impasible corazón de roca,
yo te enseñé a besar con besos míos
inventados por mí, para tu boca.
Fotografia de Robert Mapplethorpe, poema da chilena Gabriela Mistral.
Hoje está sol. E o mistral é só mesmo nas palavras.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
PERCEBERAM? HÁ ALGUMA DÚVIDA? QUEREM QUE REPITA?
Há um novo recorde no juridiquês nacional. O artigo 1º da lei nº 23/2013, de 5 de Março, que aprova o regime jurídico do processo de inventário, tem 5933 caracteres, batendo por larga margem a anterior detentora da melhor marca, a lei lei 35/2010, de 15 de Abril, cujo primeiro artigo não passava dos 2231 caracteres.
Ora tenham a bondade de ler:
Ora tenham a bondade de ler:
«A presente lei aprova o regime jurídico do processo de inventário, altera o Código Civil, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 47 344, de 25 de novembro de 1966, e alterado pelos Decretos -Leis n.os 67/75, de 19 de fevereiro, 201/75, de 15 de abril, 261/75, de 27 de maio, 561/76, de 17 de julho, 605/76, de 24 de julho, 293/77, de 20 de julho, 496/77, de 25 de novembro, 200 -C/80, de 24 de junho, 236/80, de 18 de julho, 328/81, de 4 de dezembro, 262/83, de 16 de junho, 225/84, de 6 de julho, e 190/85, de 24 de junho, pela Lei n.º 46/85, de 20 de setembro, pelos Decretos -Leis n.os 381 -B/85, de 28 de setembro, e 379/86, de 11 de novembro, pela Lei n.º 24/89, de 1 de agosto, pelos Decretos -Leis n.os 321 -B/90, de 15 de outubro, 257/91, de 18 de julho, 423/91, de 30 de outubro, 185/93, de 22 de maio, 227/94, de 8 de setembro, 267/94, de 25 de outubro, e 163/95, de 13 de julho, pela Lei n.º 84/95, de 31 de agosto, pelos Decretos -Leis n.os 329 -A/95, de 12 de dezembro, 14/96, de 6 de março, 68/96, de 31 de maio, 35/97, de 31 de janeiro, e 120/98, de 8 de maio, pelas Leis n.os 21/98, de 12 de maio, e 47/98, de 10 de agosto, pelo Decreto -Lei n.º 343/98, de 6 de novembro, pelas Leis n.os 59/99, de 30 de junho, e 16/2001, de 22 de junho, pelos Decretos--Leis n.os 272/2001, de 13 de outubro, 273/2001, de 13 de outubro, 323/2001, de 17 de dezembro, e 38/2003, de 8 de março, pela Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto, pelos Decretos -Leis n.os 199/2003, de 10 de setembro, e 59/2004, de 19 de março, pela Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro, pelo Decreto -Lei n.º 263 -A/2007, de 23 de julho, pela Lei n.º 40/2007, de 24 de agosto, pelos Decretos -Leis n.os 324/2007, de 28 de setembro, e 116/2008, de 4 de julho, pelas Leis n.os 61/2008, de 31 de outubro, e 14/2009, de 1 de abril, pelo Decreto -Lei n.º 100/2009, de 11 de maio, e pelas Leis n.os 29/2009, de 29 de junho, 103/2009, de 11 de setembro, 9/2010, de 31 de maio, 23/2010, de 30 de agosto, 24/2012, de 9 de julho, 31/2012 e 32/2012, de 14 de agosto, o Código do Registo Predial, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 224/84, de 6 de julho, e alterado pelos Decretos -Leis n.os 355/85, de 2 de setembro, 60/90, de 14 de fevereiro, 80/92, de 7 de maio, 30/93, de 12 de fevereiro, 255/93, de 15 de julho, 227/94, de 8 de setembro, 267/94, de 25 de outubro, 67/96, de 31 de maio, 375 -A/99, de 20 de setembro, 533/99, de 11 de dezembro, 273/2001, de 13 de outubro, 323/2001, de 17 de dezembro, 38/2003, de 8 de março, e 194/2003, de 23 de agosto, pela Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 263 -A/2007, de 23 de julho, 34/2008, de 26 de fevereiro, 116/2008, de 4 de julho, e 122/2009, de 21 de maio, pela Lei n.º 29/2009, de 29 de junho, e pelos Decretos -Leis n.os 185/2009, de 12 de agosto, e 209/2012, de 19 de setembro, o Código do Registo Civil, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 131/95, de 6 de junho, com as alterações introduzidas pelos Decretos--Leis n.os 36/97, de 31 de janeiro, 120/98, de 8 de maio, 375 -A/99, de 20 de setembro, 228/2001, de 20 de agosto, 273/2001, de 13 de outubro, 323/2001, de 17 de dezembro, 113/2002, de 20 de abril, 194/2003, de 23 de agosto, e 53/2004, de 18 de março, pela Lei n.º 29/2007, de 2 de agosto, pelo Decreto -Lei n.º 324/2007, de 28 de setembro, pela Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro, pelos Decretos -Leis n.os 247 -B/2008, de 30 de dezembro, e 100/2009, de 11 de maio, pelas Leis n.os 29/2009, de 29 de junho, 103/2009, de 11 de setembro, e 7/2011, de 15 de março, e pelo Decreto -Lei n.º 209/2012, de 19 de setembro, e o Código de Processo Civil, aprovado pelo Decreto -Lei n.º 44 129, de 28 de dezembro de 1961, e alterado pelo Decreto -Lei n.º 47 690, de 11 de maio de 1967, pela Lei n.º 2140, de 14 de março de 1969, pelo Decreto -Lei n.º 323/70, de 11 de julho, pelas Portarias n.os 642/73, de 27 de setembro, e 439/74, de 10 de julho, pelos Decretos -Leis n.os 261/75, de 27 de maio, 165/76, de 1 de março, 201/76, de 19 de março, 366/76, de 15 de maio, 605/76, de 24 de julho, 738/76, de 16 de outubro, 368/77, de 3 de setembro, e 533/77, de 30 de dezembro, pela Lei n.º 21/78, de 3 de maio, pelos Decretos -Leis n.os 513 -X/79, de 27 de dezembro, 207/80, de 1 de julho, 457/80, de 10 de outubro, 224/82, de 8 de junho, e 400/82, de 23 de setembro, pela Lei n.º 3/83, de 26 de fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 128/83, de 12 de março, 242/85, de 9 de julho, 381 -A/85, de 28 de setembro, e 177/86, de 2 de julho, pela Lei n.º 31/86, de 29 de agosto, pelos Decretos -Leis n.os 92/88, de 17 de março, 321 -B/90, de 15 de outubro, 211/91, de 14 de junho, 132/93, de 23 de abril, 227/94, de 8 de setembro, 39/95, de 15 de fevereiro, e 329 -A/95, de 12 de dezembro, pela Lei n.º 6/96, de 29 de fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 180/96, de 25 de setembro, 125/98, de 12 de maio, 269/98, de 1 de setembro, e 315/98, de 20 de outubro, pela Lei n.º 3/99, de 13 de janeiro, pelos Decretos -Leis n.os 375 -A/99, de 20 de setembro, e 183/2000, de 10 de agosto, pela Lei n.º 30 -D/2000, de 20 de dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 272/2001, de 13 de outubro, e 323/2001, de 17 de dezembro, pela Lei n.º 13/2002, de 19 de fevereiro, pelos Decretos -Leis n.os 38/2003, de 8 de março, 199/2003, de 10 de setembro, 324/2003, de 27 de dezembro, e 53/2004, de 18 de março, pela Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro, pelo Decreto -Lei n.º 76 -A/2006, de 29 de março, pelas Leis n.os 14/2006, de 26 de abril, e 53 -A/2006, de 29 de dezembro, pelos Decretos -Leis n.os 8/2007, de 17 de janeiro, 303/2007, de 24 de agosto, 34/2008, de 26 de fevereiro, e 116/2008, de 4 de julho, pelas Leis n.os 52/2008, de 28 de agosto, e 61/2008, de 31 de outubro, pelo Decreto -Lei n.º 226/2008, de 20 de novembro, pela Lei n.º 29/2009, de 29 de junho, pelos Decretos -Leis n.os 35/2010, de 15 de abril, e 52/2011, de 13 de abril, e pelas Leis n.os 63/2011, de 14 de dezembro, 31/2012, de 14 de agosto, e 60/2012, de 9 de Novembro».
VIVÊNCIAS
Vivências é o título do livro de Ana Benedita Ramos Caro, que hoje será apresentado em Moura. A autora atribuiu-me uma tarefa pouco fácil: a de apresentar o seu livro. É uma obra intensa, cheia de recordações pessoais e com inúmeras informações importantes para o retrato de uma época. Pelas páginas de Vivências passa toda uma vida, ali se encontrando narrativas de infância, memórias da emigração e a evocação dos muitos anos de militância no PCP. Poderei testemunhar, ante as 150 pessoas que estão inscritas, o interesse deste livro e de que forma ele se cruza com o seu tempo. Será também a ocasião de explicar de que modo muitas destas vivências me são familiares, ao cabo de 25 anos de amizade. E de narrar alguns episódios, onde a militância política e um convívio descontraído andaram a par.
As amizades de Ana Benedita emergem no livro. Poucos, muito poucos, se poderão gabar de ter um livro prefaciado por Miguel Urbano Rodrigues e de ter na capa um desenho de Rogério Ribeiro.
Vai ser uma noite em cheio.
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