quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

BAIRRO DO CARMO - O ARRANQUE

Dei aqui notícia, em novembro de 2017, do arranque da obra da Torre do Relógio, em Amareleja. Uma intervenção que tenho o prazer de ver avançar.

O mesmo faço e digo em relação ao Bairro do Carmo. Sabendo de antemão que vai ser uma obra controversa e muito comentada.

Retomo e adito o texto que aqui escrevi no último dia do meu mandato:

Já há contrato para o Bairro do Carmo.

Autor do projeto de reabilitação - Arq. Nuno Ribeiro Lopes
Custo do projeto - 12.000 €
Valor total da empreitada - 477.180,90 €
Empresa - Virgílio de Sousa Leal
Prazo de execução - 240 dias a contar do prazo da consignação

Ou seja, tendo em conta vistos e pequenos atrasos, em final de 2018 teremos um bairro renovado.

Poucos projetos nos terão dado tanto conforto moral como este. Uma intervenção que dignifica o bairro e que dá condições de vida aos seus habitantes.

Do site da Rádio Planície: A obra irá contemplar trabalhos de demolição, alvenaria, impermeabilizações e isolamentos, revestimentos, cantarias, serralharia, carpintaria, pinturas, montagem de equipamentos, implementação de redes prediais de águas, esgotos, electricidade e telecomunicações.

Há vários episódios que envolvem este projeto e esta empreitada. Mas não é o momento deles falar. Já foram passados à escrita e estão incluídos no livro, em fase de redação (vai em 40%...) sobre a experiência autárquica de Moura.

IMPRESSIONISTAS AQUI AO LADO: PIERRE-AUGUSTE RENOIR

Patinava-se assim no Bois de Boulogne, em 1868. Pierre-Auguste Renoir (1841–1919) era então um muito jovem pintor. O talento já era mais que visível.

Do Bois de Boulogne à Rua Boileau são 700 metros.

 

L'ennemi

Ma jeunesse ne fut qu'un ténébreux orage,
Traversé çà et là par de brillants soleils ;
Le tonnerre et la pluie ont fait un tel ravage,
Qu'il reste en mon jardin bien peu de fruits vermeils.

Voilà que j'ai touché l'automne des idées,
Et qu'il faut employer la pelle et les râteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l'eau creuse des trous grands comme des tombeaux.

Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol lavé comme une grève
Le mystique aliment qui ferait leur vigueur ?

- Ô douleur ! ô douleur ! Le Temps mange la vie,
Et l'obscur Ennemi qui nous ronge le coeur
Du sang que nous perdons croît et se fortifie !

Charles Baudelaire - Les fleurs du mal

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

QUIZZ TURÍSTICO

Qual foi a Câmara Municipal que, haverá uns 15 anos, usou este slogan para promover a localidade:

DOM AFONSO HENRIQUES PAROU AQUI.
PORQUE NÃO FAZ VOCÊ O MESMO?

Não ganhou o óscar para o melhor slogan mas foi, decerto, o mais hilariante. Afixei-o no gabinete. O Cláudio Torres, cada vez que entrava no gabinete, rompia em gargalhadas e implorava "oh pá, tira isso daí!".

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E INFLAÇÃO GALOPANTE

Lamentava-me eu, há semanas do preço do livro Arabic medieval inscriptions from the Republic of Mali : epigraphy, chronicles and Songhay-Tuāreg history. Entre 1138 € (usado) e 2013 € (novo). A obra é um extraordinário trabalho de erudição de um académico brasileiro, Paulo de Moraes Farias. Estou, desde ontem, à volta do livro. Um outro estudo, sobre Kumbi Saleh (Mauritânia), veio, afinal, lançar novas pistas, e novas dúvidas, sobre as questões que estou a estudar. E, surpresa maior, os resultados das escavações (de há muitos anos) no Mali, acabam de ser publicados: SUR LES TRACES DES GRANDS EMPIRES - Recherches archéologique au Mali, de Shoichiro Takezawa e de Mamadou Cisse. Por razões de segurança, os trabalhos de terreno no Mali foram suspensos há cinco anos.

Tive a curiosidade de ver, de novo, o preço do livro de Paulo Farias. Agora vai de 1874 € (usado) a 4499 € (novo). E não, não foi impresso em folhas de ouro, como repetidamente me perguntam. É um livro de capa dura, em grande formato, mas sem luxo. Uma publicação na tradição académica anglo-saxónica, nada mais.

IMPRESSIONISTAS AQUI AO LADO: ALFRED SISLEY

Alfred Sisley (1839–1899) viu assim La Seine au point du jour, em 1877.

Até à Rue Boileau são 1400 metros. 


 Le crépuscule du matin

La diane chantait dans les cours des casernes,
Et le vent du matin soufflait sur les lanternes.

C'était l'heure où l'essaim des rêves malfaisants
Tord sur leurs oreillers les bruns adolescents ;
Où, comme un oeil sanglant qui palpite et qui bouge,
La lampe sur le jour fait une tache rouge ;
Où l'âme, sous le poids du corps revêche et lourd,
Imite les combats de la lampe et du jour.
Comme un visage en pleurs que les brises essuient,
L'air est plein du frisson des choses qui s'enfuient,
Et l'homme est las d'écrire et la femme d'aimer.

Les maisons çà et là commençaient à fumer.
Les femmes de plaisir, la paupière livide,
Bouche ouverte, dormaient de leur sommeil stupide ;
Les pauvresses, traînant leurs seins maigres et froids,
Soufflaient sur leurs tisons et soufflaient sur leurs doigts.
C'était l'heure où parmi le froid et la lésine
S'aggravent les douleurs des femmes en gésine ;
Comme un sanglot coupé par un sang écumeux
Le chant du coq au loin déchirait l'air brumeux ;
Une mer de brouillards baignait les édifices,
Et les agonisants dans le fond des hospices
Poussaient leur dernier râle en hoquets inégaux.
Les débauchés rentraient, brisés par leurs travaux.

L'aurore grelottante en robe rose et verte
S'avançait lentement sur la Seine déserte,
Et le sombre Paris, en se frottant les yeux,
Empoignait ses outils, vieillard laborieux.

Charles Baudelaire - Les fleurs du mal

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

TIGELADAS EM LA TOUR-MAUBOURG

Pode lá um português ir a Portugal sem vir com um cabaz de coisas... Foi o mais inesperado dos encontros, esta tarde na delegação da Fundação Gulbenkian. Era o aniversário de uma das funcionárias e havia tigeladas de Abrantes. O que me pareceu muito bem, porque eram excelentes, e porque o senhor António fez questão de dizer que as de Abrantes "é que são". O que é verdade!

Longa visita a um dos símbolos de Portugal fora de portas. Obrigado à Filipa Medeiros. Parabéns a ela e à sua equipa. Sítios assim são insubstituíveis:

https://gulbenkian.pt/paris/

O PIRATA VOLTA A ATACAR

Recebi, há horas, esta mensagem:

Fez no passado sábado um ano que publicou no seu blog um artigo sobre o fecho do Pirata dos Restauradores.

Este triste acontecimento deixou uma enorme nostalgia e revolta em muitos e muitos dos seus clientes habituais, privando de duas bebidas quase centenárias as centenas (milhares?) de visitantes, nacionais e estrangeiros, que ali podiam degustá-las, mas cumpre agora dar a boa notícia: JÁ É POSSÍVEL VOLTAR A BEBER PIRATAS EM LISBOA!

A casa reabriu na passada terça-feira, agora no n.º 95 da Rua Morais Soares.

De maiores dimensões, espaço renovado e acolhedor, apesar de novo mantém muito do espólio do Pirata do Restauradores (entre ele o Gerente de há mais de 20 anos, obreiro das mágicas poções do Pirata e do Perna de Pau, dos célebres pregos e do inconfundível arroz doce).

As marcas registadas e a imagem sobreviveram a um ano de paragem, as fórmulas mantém-se fieis ao segredo (desde 1921) e espera-se que muitos possam voltar a beber Piratas e Pernas de Pau e ajudar na divulgação destes produtos e desta casa tão icónica da cidade de Lisboa.

Se quiser voltar a beber Piratas, será muito bem-vindo nesta nova casa do Pirata!
Bem-haja pela preferência e pela ajuda na manutenção e defesa da memória de um dos estabelecimentos mais emblemáticos da nossa cidade, património cultural e memória vida de muitas décadas!

Com os melhores cumprimentos,
Paula Tavares


Fiquei contente por saber que o meu textinho (v. aqui) tinha sido lido. Li, com anónimo prazer, a simpática mensagem. Mais contente ainda por saber que um bar tradicional reabriu. Curiosamente, numa zona popular, a Morais Soares. Todos à Rua Morais Soares, 95, já!

NB: não conheço os proprietários, nem eles fazem a mínima ideia de quem eu sou.


IMPRESSIONISTAS AQUI AO LADO: ERNEST QUOST

Regresso à Sorbonne. Mergulho na obra de Paulo de Moraes Farias, Arabic Medieval Inscriptions from the Republic of Mali: Epigraphy, Chronicles and Songhay-Tuareg History, Oxford, Oxford University Press, 2003.

Ernest Quost (1842-1931) pintou os Jardins do Luxemburgo. A cúpula da Sorbonne está mesmo ao fundo. E a Rua Michelet não é bem ao lado do XVI... Em todo o caso, 5200 metros em Paris é quase ao lado.



La fin de la journée
Sous une lumière blafarde
Court, danse et se tord sans raison
La Vie, impudente et criarde.
Aussi, sitôt qu'à l'horizon

La nuit voluptueuse monte,
Apaisant tout, même la faim,
Effaçant tout, même la honte,
Le Poète se dit : " Enfin !

Mon esprit, comme mes vertèbres,
Invoque ardemment le repos ;
Le coeur plein de songes funèbres,

Je vais me coucher sur le dos
Et me rouler dans vos rideaux,
Ô rafraîchissantes ténèbres ! "
Charles Baudelaire - Les fleurs du mal

LINKEDIN SWINDLE

Tosquiador de cães.
Pasteleiro.
Rececionista de hostel.
Formador de empregado de andares.

De entre a lista, só por brincadeira me poderiam sugerir "pasteleiro". Nunca me viram cozinhar.

Os restantes trabalhos, que me merecem todo o respeito, não estão muito enquadrados com a minha área de formação. E formador de empregado de andares soa algo estranho. Terá sido inspirado em John Cleese?




domingo, 28 de janeiro de 2018

OS CIGANOS DE IRVING PENN

A exposição encerra amanhã e inspirou a crónica para a Planície de dia 1 de março. Esta re(visão) da obra de Irving Penn (1917-2009) no Grand Palais é um percurso biográfico e uma leitura dos interesses do fotógrafo. Fez muitas coisas "antes do tempo" (gostei tanto da imperfeita normalidade dos seus nus femininos). O intimismo final remete para o jardim de Giverny de Claude Monet…

Dado particularmente interessante? Irving Penn esteve em Portugal, em 1963 e em 1974. Da primeira estada encontrei esta fotografia de um grupo de ciganos. Da segunda, nada.

DO MEDITERRÂNEO ATÉ À CHINA

A praça de touros de Paris ficava na Rue Pergolèse. Foi demolida pela mesma altura em que o Campo Pequeno abriu portas. Devia ser bem bonita...


Dali até à Rue Boileau são 3600 metros. Bem mais longe, claro, fica a Paris chinesa (e não é figura de estilo), no 13ème. Esta Notre-Dame fica a 7.700 metros do ponto de partida.

sábado, 27 de janeiro de 2018

IMPRESSIONISTAS AQUI AO LADO: MAXIMILIEN LUCE

Maximilin Luce (1858-1941), pintor, anarquista e tudo, viu assim a ponte de Auteuil em 1902. Esta zona de Paris, apesar de estar apenas no XVI sul, foi mais retratada que o XVI norte (private joke).

A ponte já não existe. No seu local foi construído o Pont du Garigliano. Dali até à Rue Boileau são 400 metros.


Brumes et pluies

Ô fins d'automne, hivers, printemps trempés de boue,
Endormeuses saisons ! je vous aime et vous loue
D'envelopper ainsi mon coeur et mon cerveau
D'un linceul vaporeux et d'un vague tombeau.

Dans cette grande plaine où l'autan froid se joue,
Où par les longues nuits la girouette s'enroue,
Mon âme mieux qu'au temps du tiède renouveau
Ouvrira largement ses ailes de corbeau.

Rien n'est plus doux au coeur plein de choses funèbres,
Et sur qui dès longtemps descendent les frimas,
Ô blafardes saisons, reines de nos climats,

Que l'aspect permanent de vos pâles ténèbres,
- Si ce n'est, par un soir sans lune, deux à deux,
D'endormir la douleur sur un lit hasardeux.


Charles Baudelaire - Les fleurs du mal

O MEU MOMENTO LEGALIZE IT


Intervenção criativa num mupi, no verão de 2013.
Com a recordação do grande Peter Tosh (1944–1987), desaparecido em circunstâncias trágicas.

FERNÃO LOPES, ALENTEJANO DO ALANDROAL

O texto foi publicado na "Al-Madan" online e coloca a hipótese do grande cronista Fernâo Lopes ser alentejano, nascido na vila de Alandroal. Um estudo a ler:

https://issuu.com/almadan/docs/al-madanonline22_1/168?ff=true


IMPRESSIONISTAS AQUI AO LADO: PAUL SIGNAC

Ao longo destes dias irei por aqui colocando obras impressionistas de pintores que trabalharam nas imediações da Rue Boileau. E, sim, bem sei que Paul Signac (1863-1935) não é exatamente um impressionista. Foi, mais precisamente, um neo-impressionista ou um pontilhista. Adiante. Esta é a ponte de Grenelle, tal como ele a viu em 1899. Até à Rue Boileau são 1400 metros.

Les fleurs du mal viverão por aqui estes dias.

La prière d'un païen

Ah ! ne ralentis pas tes flammes ;
Réchauffe mon coeur engourdi,
Volupté, torture des âmes !
Diva ! supplicem exaudi !

Déesse dans l'air répandue,
Flamme dans notre souterrain !
Exauce une âme morfondue,
Qui te consacre un chant d'airain.

Volupté, sois toujours ma reine !
Prends le masque d'une sirène
Faite de chair et de velours,

Ou verse-moi tes sommeils lourds
Dans le vin informe et mystique,
Volupté, fantôme élastique !

Charles Baudelaire - Les fleurs du mal

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

ALÔ, UNIDADE DE MISSÃO PARA A VALORIZAÇÃO DO INTERIOR

Ora aqui está porque não acredito nestas carnavaladas das unidades de missão, do amor pelo interior etc. (ler aqui).


ROCA REY

Agora que, finalmente, vai ter início a temporada.

Há grandes toureiros. De excecional elegância e classe. Quais são os meus preferidos? Ponce, Talavante, El Juli, Castella, Morante (assim quando "engata"...).

Há esses grandes toureiros. E, depois, há os outros. Como José Tomás e como Roca Rey. O arrojo, uma centelha de loucura, fazem com que se produzam coisas pouco comuns. Como esta:



quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

ERA UMA VEZ A NOSSA HISTÓRIA...

Há uns anos (2011, creio), pediu-me a Câmara de Serpa que definisse um sítio arqueológico com potencial turístico. Onde pudesse haver escavações e fosse possível realizar trabalho de longo prazo. O blogue não tem espaço para este tipo de reflexões mas, em traços gerais, tracei as seguintes linhas orientadoras:

* Importa o valor científico, mas também a "legibilidade" do sítio (de pouco serve indicar um local, que depois seja apenas entendível por uns quantos interessados);
* Importa o interesse paisagístico da envolvente;
* Importa a monumentalidade do que é possível ver;
* Importa, enfim e dado crucial, a acessibilidade ao sítio.

Definiram-se três locais com potencial interesse: Herdade da Abóbada, Cidade das Rosas e Monte da Salsa. Este último acabou por ser sumariamente excluído da "short list". Porquê? Porque um olival intensivo ocupara todo o espaço em volta do monte atual. Não seria possível ali proceder a qualquer escavação ou tornar visível o que quer que fosse. O meu envolvimento no projeto de Serpa acabou por ficar para trás, por outras razões.

O que se torna doloroso é ver que estas situações se repetem ante a impotência de todos nós. Agora é Pisões...

O MEU MOMENTO MISS CASSWELL (SALVO SEJA...)

O cínico De Witt diz a uma etérea Miss Caswell: I can see your career rising in the east like the sun, num célebre diálogo do filme All about Eve, já aqui citado (em março de 2009...).

Senti-me assim ontem, ao consultar a minha página no site "academia". Dispararam as consultas aos trabalhos lá depositados. Próximo passo: a tabela de best-sellers do New York Times...

CULTURAL APPROPRIATION

É um dos conceitos mais absurdos, imbecis e irritantes com que me cruzo...

Em termos simplistas, diria que é uma daquelas tretas tipicamente americanas. No essencial, a ideia de que há uma adoção de elementos culturais de uma cultura minoritária pela cultura dominante está no centro da cultural appropriation.

Quando, há dois anos, fui ter com uma jovem amiga aos Estados Unidos, avisou-me "por favor, não tragas aquelas tuas camisas de padrões africanos; isso é cultural appropriation e é muito mal visto por estes lados".

Ainda argumentei que muitos padrões africanos não são exatamente africanos, mas sim uma criação dos holandeses, adaptados a partir de motivos e de técnicas orientais. Não a demovi e optei por roupa discreta.

E Hans Van Manen, fotografado com capote alentejano, por Mapplethorpe? Algum alentejano se sente ofendido com a fotografia?


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CAP. 47 DA SAGA "E DEPOIS VIERAM AQUELES ÓRRIVÉIS COMUNISTAS DO MFA..."

De um texto de Maria João Avillez, no Observador de ontem:

Eram [os Vinhas] uns fazedores que acreditavam: gostavam de Portugal, tinham fé no país, acreditaram como tantos portugueses nos amanhãs de Marcelo Caetano, tiveram veemente esperança noutro desfecho para África. Tudo isto sem que jamais lhes ocorresse sequer poderem ser tratados de fascistas, confundidos nacionalistas, acusados de colonialismo quando produziam riqueza nas Áfricas, com tanto trabalho quanto convicção de que faziam o seu melhor (e provavelmente gerações bem abaixo das minha ignorarão que houve gente assim em Portugal se é que lhes interessa o que estou a contar, ou sequer se me acompanham). Mas não é por não restar já pedra sobre pedra de tudo “isto” que desistirei de tentar reerguer algumas delas. Que “isto” é este? É a sensação de que se acha, se pensa, se ensina, se defende que Portugal nasceu no dia 25 de Abril de 1974.

O que me dá mais prazer é sentir o azedume desta classe social que percebeu, há muito, que as coisas já não voltarão a ser como eram. O enorme e fundo prazer que isso me dá...


ACADEMIA PONTO EDU

Agora é a arqueologia informática... Há anos que não "regressava" à minha página desta plataforma de contactos. Nota-se bem, uma vez que a fotografia data de 2008, quando participei num congresso algures...

A maior parte das publicações nem lá estava. Outras tinham sido carregadas a partir de bibliotecas ou de centros de investigação em Espanha (!).

O pior foi reduzir os pdf da tese (3,78 gb...) para os limites previstos. Tenho passado as noites nesta tarefa. Um trabalho ainda incompleto e com lacunas. Mas as publicações que quero divulgar já lá estão. Ou quase.

For whom it may concer (a lista é imensa, estou entre o Santiago Macias Solarte e outro Santiago Macias que não sou eu 😁):

http://independent.academia.edu/maciassantiago

ou
http://santiagomacias.org/publi.php



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

E SE DUARTE DARMAS TIVESSE UM DRONE?

"Ora bolas!", não pude deixar de pensar ao ouvir, ontem a TSF. Raio de coincidência, havia um projeto sobre Duarte Darmas em curso. Com paralelos com o que desenvolvi durante bastante tempo... Paciência! Darei continuidade ao meu, até porque há diferenças substanciais entre um e outro.

Que irei fazer:
* Uma comparação entre o que Duarte Darmas viu e o que hoje pode ser visto. Como? Usando um drone (cf. link mais abaixo, que reproduz a gravação feita em 30.12.2017);
* Uma leitura gráfica usando o desenho do século XVI e fotografias aéreas atuais;
* Um ficha explicativa por cada sítio, com detalhe para os espaços registados com maior pormenor;
* Um catálogo;
* Uma exposição;
* Um site.

Quais as diferenças:
* Não usarei desenhos;
* Abrangerei apenas o Alentejo e não toda a raia.

Terá interesse ver, mais tarde, as diferenças de abordagem.


Ver vídeo em:


sábado, 20 de janeiro de 2018

GUIA DE VIAGEM

Crónica ociosa de um sábado de manhã, enquanto vão para os recicláveis coisas fora de prazo.

Livros com décadas vão fora, enquanto recordo dúvidas de tempos idos.

Que guia de viagem comprar antes de uma viagem? Rough Guide? Lonely Planet? American Express? Le Petit Futé? Michelin?

Uns eram demasiado sumários, outros tão detalhados que quase diziam "não se macem a ir, nós contamos tudo..."

Como comprar um guia? Era fácil. Pegava em dois ou três sobre Portugal e procurava sitios como Moura, Serpa, Mértola... E conferia a fiabilidade da informação. Se era válida para esses sitios, também seria para outros. Um esquema que nunca falhou.


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

COM A JACINTA

Esta é a minha colega e amiga Jacinta Bugalhão. Tem ar de estar a conspirar... No meio das pedras, com um bloco de apontamentos nas mãos, de bata branca, só pode estar a conspirar... Uma pessoa assim tipo (como dizem os mais novos) perigosa.

A DGPC instaurou procedimentos disciplinares a Jacinta Bugalhão. Só me lembrei de Orwell e das seus thoughtcrimes (traduzidos, se bem recordo, como crimideias). Isto vai acabar em arquivamento, Jacinta. Como tantas vezes ouvi dizer nos autocarros, "o problema disto é a falta de mentalidade!".

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

COM FÉ ARDENTE

Em 2017 o Moura Atlético Clube fez 75 anos. Por proposta do nosso executivo camarário foi atribuída ao clube a Medalha de Honra do Município. Uma distinção mais que justa, e que foi uma homenagem a todos os que construíram o clube.

O MAC é um símbolo importante da nossa terra? É.

As verbas de apoio à prática desportiva devem ser canalizadas para as camadas jovens? Sem dúvida. Daí que os sucessivos regulamentos tenham posto ênfase nessa questão. A maior parte do apoio camarário é para os mais novos.

O apoio chega para tudo? Tal como sempre se fez questão de sublinhar, um apoio é uma verba complementar. Não pode nenhuma associação viver com base na tesouraria de uma entidade pública.

Houve princípios de maior austeridade a partir de 2015? Sim. A necessidade de conferir mais rigor às contas do Município, a Lei dos Compromissos e a diminuição do endividamento a isso nos conduziram.

Vamos a números. Qual o montante dos apoios da Câmara Municipal de Moura ao MAC?

2007 - 155.811,97 €
2008 - 216.433,87 €
2009 - 216.256,25 €
2010 - 153.483,00 €
2011 - 158.937,55 €
2012 - 146.618,21 €
2013 - 146.414,52 €
2014 - 142.055,34 €
2015 - 140.107,50 €
2016 - 107.160,10 €

Ou seja, um total de 1.583.278,31 €.

Em 2015 houve ainda um "perdão de dívida" (referente a transportes não pagos) no montante de 19.950 € (deliberação da Câmara Municipal de 7.10.2015).

Acrescem a estes montantes o pagamento da eletricidade (uma média de 33.000 € por ano) e da água (valor não contabilizado).

Não discuto se é muito ou se é pouco. São montantes substanciais e que decorrem da aplicação de um regulamento municipal. Um trabalho meritório de muitos anos e que, na mais recente versão, muito deve à minha colega Céu Rato.

É possível aumentar estes valores? Faça-se isso. Quem está no Poder tem legitimidade para tomar decisões.

UM CONCERTO SEM PIANO

Houvera uma reunião em Alessandria, em julho. A seguinte era em Moura. Os temas andavam em torno da sustentabilidade das cidades, da energia, do uso das habitações...

O projeto tinha o nome de CONCERTO AL PIANO. Como se explica o nome?

Concerto - de acordo.
Al - a partir do nome da cidade de Alessandria.
Piano - de plano.

So far, so good. O encontro seguinte teve lugar em Moura, em plena feira de maio de 2009. O auditório da COMOIPREL (hoje com o nome de Miguel Urbano Rodrigues) foi o local escolhido. Pouco antes da sessão (aberta ao público) ter início, vejo entrar um pequeno grupo de senhoras (de porte distinto, como é costume dizer-se), vestidas em estilo de soirée. Eu conhecia-as bem e sabia dos seus hábitos e gostos culturais.

- O que é estarão aqui fazendo?, mumurou a técnica responsável pelas feiras, visivelmente intrigada.
Ri baixinho, assim um bocadinho à Muttley, e arrisquei:
- Acho que pensam que vai haver um concerto de piano...
- Ai que barraca..., tornou a colega, manifestamente preocupada.

Houve concerto, no sentido de acordo, e houve piano, de planeamento. Música é que não.

As senhoras eram pessoas com nível e com estofo. Aguentaram com galhardia uma sessão razoavelmente aborrecida sobre densas questões técnicas. Cumprimentaram polidamente no final e sairam. O CONCERTO AL PIANO desapareceu há muito da minha vida.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O BARREIRISTA SENTADO (atualização)

Não sei exatamente qual a minha atitude. Se a do barreirista da esquerda, se a do outro. Disse, em 22 de dezembro, que havia um conjunto de trabalhos em curso. Isto avançou mais depressa do que pensava. O que quer dizer que o ritmo "frenético" (a expressão é de amigos meus, eu recuso a sua autenticidade), se terá transferido para o domínio da escrita. Ora, vamos a contas:

1. Livro sobre a Mouraria de Moura - primeiro rascunho terminado; fica de alqueive até a primavera. A edição verá a luz do dia no final deste ano, ou no início do próximo. Isso é certo.

2. Livro sobre cemitérios - primeiro rascunho terminado ontem; o trabalho vai ser bem mais extenso do que eu próprio imaginava. Começo agora a segunda volta. Retomo, também, perspetivas de análise que pensava não retomar. A vida é assim...

3. Livro sobre a experiência autárquica - de 150 já passei para 186 textos previstos. Um terço da redação está terminado. Para já, é carpintaria de toscos. As afinações virão depois. Sairá em 2019, lá para meio do ano.

4. Trabalho sobre urbanismo do século XVI - projeto terminado. Concretizá-lo não será difícil.

5. Exposição sobre metais - a realizar no Sobral da Adiça. Sem stress. E sem precipitações. Já há sítio. A equipa está a ser constituída. Vai ser um momento bom, acho eu.

6. Exposição de fotografia - prevista para Évora. Quem decide o que será exposto é o Prof. Jorge Calado. Ele é que sabe.

Falta mais um projeto. Gosto de números cabalísticos.

Afinal...
7. Artigo para a revista "Monumentos" - em conjunto com o Joaquim Oliveira Caetano. Um stardust memories à maneira de Mértola


A DERROTA DE GUTTENBERG

Quem se interessa pela História da Civilização Islâmica sabe bem a dificuldade que representa a conversão de datas. Porquê? Porque o calendário hijri, iniciado em 622 d.C., é lunar e tem 354 ou 355 dias. As datas não coincidem, portanto, com as do calendário gregoriano, o mais comum em termos de uso. E vão-se tornando mais díspares.

Em 1946, o arabista espanhol Manuel Ocaña Jiménez (1914-1990) publicou as Tablas de conversión de datas islámicas a cristianas y viceversa. Um conjunto de complexas réguas completava o livro. O engenhoso sistema permitia fazer as conversões, de modo rigoroso, mas com lentidão e imprescindível concentração. O livro foi re-editado em 1981. Ainda o usei bastantes vezes.

Porque é que Guttenberg foi derrotado? Porque as tabelas manuais se tornaram anacrónicas. Há sites na net que fazem a conversão em milésimos de segundo.

Nasci no dia 3 de Junho de 1963. Ou seja, no dia 10 de Muharram de 1383.
Entrei para a escola primária no dia 7 de Outubro de 1969. Ou seja, no dia 15 de Rajab de 1389.
Etc.

Veja-se, por exemplo, o site do Instituto de Estudos Orientais da Universidade de Zurique:
https://www.oriold.uzh.ch/static/hegira.html

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

MUTTLEY


Mistério regional. Porque é que quando ligamos para a CCDRA a partir de um telemóvel nos aparece o Muttley?

TRAGÉDIA GREGA

É a tragédia grega de Woody Allen. Um bom filme, com um tratamento de cor de Vitorio Storaro muito intenso e vivo. Vieram-me à memória, mais de uma vez, as fotografias de Martin Parr. A roda gigante tem prólogo, tem coro (os Mills Brothers, com Coney Island Washboard) e tem laivos de tragédia. Mas não tem um argumento muito consistente e falha no final. É pena, porque esteve "quase lá"... Em todo o caso, só para ver a cinematografia já merece a nossa atenção. É este o filme destes dias.

domingo, 14 de janeiro de 2018

JUAN CINZA

Borsalinando... Há muitos anos estive em Alessandria. Passei à porta da Casa Borsalino, a mítica fábrica de chapéus fundada em 1857. Comprar um era coisa impensável. Não tinha idade para usar chapéu e, sobretudo, os ditos andam, no mínimo, pelos 400 euros...

Os anos passaram e agora já posso usar adereços de homem de meia-idade. Como chapéu e gabardine. Na realidade, o que se chama normalmente de borsalino é um fedora. Um chapéu da abas largas, que tem causado o gáudio dos meus colegas na Câmara de Mértola. Os epítetos oscilam entre Al Capone e Fernando Pessoa.

Lembrei-me de O meu chapéu cinzento, de Olivier Rolin. E do cruzamento para a Corte João Cinza. Mas o modelo Juan Cinza foi comprado porque sim.

A que propósito vem o texto? Por nenhuma razão. Só porque sim. O poema My Hat foi escrito há 20 anos, por Tony Mitton.


MY HAT
Here’s my hat.
It holds my head,
the thoughts I’ve had
and the things I’ve read.

It keeps out the wind.
It keeps off the rain.
It hugs my hair
and warms my brain.

There’s me below it,
the sky above it.
It’s my lid.
And I love it.


Ver:
http://www.borsalino.com/en/home
http://www.afabricadoschapeus.com


sábado, 13 de janeiro de 2018

FAZENDO E REFAZENDO

Eis um clássico na vida. Há pessoas que, quando chegam a um sítio e têm funções de decisão, pensam, e pensam mesmo!, que vão refazer o mundo, que vão corrigir todas as falhas, que tudo vão recriar. E que vão inventar a perfeição. Não vão, claro. Eis um erro básico, cometido com mais frequência do que se acredita.

Nessa tentação de fazer e refazer as coisas, só me lembro do excerto de Três homens num bote, de Jerome K. Jerome, em que um dos personagens faz e refaz uma mala. E se esquece sempre de qualquer coisa de fora...

(não consegui arranjar uma tradução, sorry...)




I rather pride myself on my packing.  Packing is one of those many things that I feel I know more about than any other person living.  (It surprises me myself, sometimes, how many of these subjects there are.)  I impressed the fact upon George and Harris, and told them that they had better leave the whole matter entirely to me.  They fell into the suggestion with a readiness that had something uncanny about it.  George put on a pipe and spread himself over the easy-chair, and Harris cocked his legs on the table and lit a cigar.

This was hardly what I intended.  What I had meant, of course, was, that I should boss the job, and that Harris and George should potter about under my directions, I pushing them aside every now and then with, “Oh, you—!”  “Here, let me do it.”  “There you are, simple enough!”—really teaching them, as you might say.  Their taking it in the way they did irritated me.  There is nothing does irritate me more than seeing other people sitting about doing nothing when I’m working.

I lived with a man once who used to make me mad that way.  He would loll on the sofa and watch me doing things by the hour together, following me round the room with his eyes, wherever I went.  He said it did him real good to look on at me, messing about.  He said it made him feel that life was not an idle dream to be gaped and yawned through, but a noble task, full of duty and stern work.  He said he often wondered now how he could have gone on before he met me, never having anybody to look at while they worked.

Now, I’m not like that.  I can’t sit still and see another man slaving and working.  I want to get up and superintend, and walk round with my hands in my pockets, and tell him what to do.  It is my energetic nature.  I can’t help it.

However, I did not say anything, but started the packing.  It seemed a longer job than I had thought it was going to be; but I got the bag finished at last, and I sat on it and strapped it.

“Ain’t you going to put the boots in?” said Harris.

And I looked round, and found I had forgotten them.  That’s just like Harris.  He couldn’t have said a word until I’d got the bag shut and strapped, of course.  And George laughed—one of those irritating, senseless, chuckle-headed, crack-jawed laughs of his.  They do make me so wild.

I opened the bag and packed the boots in; and then, just as I was going to close it, a horrible idea occurred to me.  Had I packed my tooth-brush?  I don’t know how it is, but I never do know whether I’ve packed my tooth-brush.

My tooth-brush is a thing that haunts me when I’m travelling, and makes my life a misery.  I dream that I haven’t packed it, and wake up in a cold perspiration, and get out of bed and hunt for it.  And, in the morning, I pack it before I have used it, and have to unpack again to get it, and it is always the last thing I turn out of the bag; and then I repack and forget it, and have to rush upstairs for it at the last moment and carry it to the railway station, wrapped up in my pocket-handkerchief.

Of course I had to turn every mortal thing out now, and, of course, I could not find it.  I rummaged the things up into much the same state that they must have been before the world was created, and when chaos reigned.  Of course, I found George’s and Harris’s eighteen times over, but I couldn’t find my own.  I put the things back one by one, and held everything up and shook it.  Then I found it inside a boot.  I repacked once more.

When I had finished, George asked if the soap was in.  I said I didn’t care a hang whether the soap was in or whether it wasn’t; and I slammed the bag to and strapped it, and found that I had packed my tobacco-pouch in it, and had to re-open it.  It got shut up finally at 10.5 p.m., and then there remained the hampers to do.  Harris said that we should be wanting to start in less than twelve hours’ time, and thought that he and George had better do the rest; and I agreed and sat down, and they had a go.