sábado, 31 de dezembro de 2011

2012

E aí vem ele. O seguinte. O temido 2012.
As perspetivas são as piores, pelo que já nem vale a pena desesperar. O melhor é manter algum otimismo, alguma confiança (em nós, não no Governo nem na Troika nem nos Mercados) e espírito de luta.
Há uma boa maneira de iniciar o ano: com o concerto que é transmitido em direto  a partir da Ópera de Viena (domingo, 10.30 - RTP1). Para já, isso não foi cortado.

Votos de Bom Ano, ou de um Ano Assim-Assim ou Do Que For Possível.

 

ÚLTIMO

Aproveito este último dia do ano para recordar um dos episódios mais célebres do futebol português do século XX. Vitor Batista está a poucos segundos de marcar o seu último golo pelo Benfica, em 12 de fevereiro de 1978. O facto em si nada tem de invulgar, mas o que se passou a seguir sim. Com o Estádio da Luz à cunha, o jogo esteve largos minutos interrompido enquanto o avançado benfiquista procurava, de gatas, o brinco que lhe acabara de ser acidentalmente arrancado pelo abraço do seu colega Cavungi. Acabou por ter a ajuda de colegas das duas equipas e do próprio árbitro, Rosa Santos. O brinco nunca apareceu.

Lembro-me de assistir, divertido, ao episódio a partir da bancada central, enquanto o João abanava a cabeça e murmurava "este tipo é completamente chalado".

 
Da esquerda para a direita:
Shéu, Inácio, Alberto, Vítor Batista e Laranjeira

CALA-SE A VOZ

Fecha hoje as portas, na antiga prisão do Aljube, uma magnífica exposição: A voz das vítimas. Na passada terça-feira, ao visitá-la de novo, deram-me o bilhete nº 16.253. É muito pouca gente para tão importante trabalho. E não se use o argumento da falta de divulgação, porque não é verdade.

Pergunto-me: quantas escolas secundárias desse país fora não terão feito visitas de estudo a Lisboa para repetir percursos estafados e de duvidosa relevância ?...

 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

CINEMA NO BLOGUE

Que cada um confesse o seu violon d'Ingres. O meu é o cinema. Desde dezembro de 2008 por aqui têm passado muitos filmes. Todos eles fazem parte, de uma forma ou doutra, do meu percurso. Faltam muitos outros. Aqui fica a lista dos citados, por ordem alfabética do realizador. O top? Está aqui, com Morangos silvestres à cabeça.

A máquina de filmar é uma Arriflex de 16 mm. Sempre sonhei fazer documentários com uma Arriflex de 16 mm. Talvez na próxima encarnação...

 


Abbas Kiarostami – Onde fica a casa do meu amigo?
Abbas Kiarostami – Shirin
Ahmed Imamovic – Dez minutos
Akira Kurosawa – Os sete samurais
Alejandro Amenabar – Agora
Alexander Payne – Paris je t’aime (14º)
Alfred Hitchcock – A mulher que viveu duas vezes
Alfred Hitchcock – Confesso
Alfred Hitchcock – Janela indiscreta
Andrei Trakovsky – Nostalgia
Billy Wilder – O pecado mora ao lado
Carlos Saura – Carmen
Carol Reed – O terceiro homem
Charles Chaplin – O grande ditador
Clint Eastwood – As pontes de Madison County
Costa-Gavras – Z, a orgia do poder
David Lean – Breve encontro
David Lean – Lawrence da Arábia
David Lynch – Veludo azul
Detlef Sierck – O veneno dos trópicos
Dino Risi – Sexo louco
Dino Risi – Vejo tudo nu
Erich von Stroheim – Greed
Ettore Scola – Um dia inesquecível
F. W. Murnau – Aurora
Federico Fellini – 8 1/2
Federico Fellini – Amarcord
Federico Fellini – La dolce vita
Federico Fellini – O navio
Federico Fellini – Roma
Férid Boughedir – Halfaouine
Flora Gomes – Nha fala
Francesco Rosi – Carmen
Francis Ford Coppola – Apocalypse now
Francis Ford Coppola – Do fundo do coração
Francis Ford Coppola – O padrinho I e II
François Truffaut – A noite americana
François Truffaut – Beijos roubados
Frederick Wiseman – Hospital
Fritz Lang – Metropolis
Gene Kelly e Stanley Donen – Serenata à chuva
Giuseppe Tornatore – Cinema Paraíso
Gus van Sant – Finding Forrester
Guy Hamilton – 007 contra Goldfinger
Heddy Honigmann – Metal e melancolia
Howard Hawks – Rio Bravo
Ingmar Bergman – Morangos silvestres
Isabel Coixet – Paris je t’aime (Bastilha)
Jacques Tati – O meu tio
Jacques Tati – Playtime
Jacques Tourneur – Stars in my crown
Jean Renoir – A comédia e a vida
Jean Renoir – A regra do jogo
Jean Rouch – Les maîtres fous
Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet – Sicilia!
Jim Jarmusch – Noite na Terra
João César Monteiro – Recordações da casa amarela
João Salaviza – Arena
John Landis – O dueto da corda
Jorge Pelicano – Pare, escute, olhe
Joris Ivens – Spanish earth
Joseph L. Mankiewicz – Eva
Ken Annakin - Across the bridge
Ken Loach – Kes
Leitão de Barros – A severa
Leitão de Barros – Maria do Mar
Luis Buñuel – Las hurdes
Luis Buñuel – Viridiana
Luísa Homem – Retratos: Portugal e os Portugueses Vistos pelos Imigrantes
Manoel de Oliveira – A caça
Marcel Camus – Orfeu Negro
Marco Ferreri – A grande farra
Marek Kanievska – História de uma traição
Margarida Moura Guedes e Paulo Galvão – Longe de Abril
Mario Monicelli – Oh amigos meus
Martin Scorsese – Nova Iorque fora de horas
Micahel Radford – O carteiro de Pablo Neruda
Michael Cacoyannis – Zorba
Michelangelo Antonioni – A noite
Monty Python – A vida de Brian
Nicholas Ray – Johnny Guitar
Norman Jewison – O grande mestre do crime
Norman McLaren – Neighbours
Orson Welles – A sede do mal
Orson Welles – F for fake
Orson Welles – Filming Othello
Orson Welles – O mundo a seus pés
Orson Welles – Othello
Otto Preminger – Bonjour tristesse
Otto Preminger – Tempestade sobre Washington
Paul Thomas Anderson – Magnolia
Paulo Rocha – Verdes anos
Pedro Almodóvar – Mulheres à beira de um ataque de nervos
Perdigão Queiroga – Fado: história de uma cantadeira
Quentin Tarantino – Pulp Fiction
Rainer Werner Fassbinder – O medo come a alma
Robert Altman – M.A.S.H.
Robert Altman – Nashville
Robert Wiene – O gabinete do Dr. Caligari
Roberto Rossellini – Roma, cidade aberta
Roberto Rossellini – Viagem em Itália
Sergei Eisenstein – Couraçado Potemkine
Sergei Eisenstein – Ivan, o terrível
Sergei Eisenstein – Que viva Mexico!
Sérgio Tréfaut – A cidade dos mortos
Sérgio Tréfaut – Lisboetas
Sidney Lumet – Escândalo na TV
Stanley Kubrick – 2001, uma odisseia no espaço
Stanley Kubrick – De olhos bem fechados
Stanley Kubrick – Doutor Estranhoamor
Steven Spielberg – Os salteadores da arca perdida
Terrence Malick – A árvore da vida
Tex Avery – Droopy
Theo Angelopoulos – Atenas - regresso à acrópole
Todd Haynes – Longe do Paraíso
Victor Erice – El sur
Victor Fleming – O feiticeiro de Oz
Vincente Minnelli – Um americano em Paris
Vladimír Michálek - Primavera no Outono
Warren Beaty – Bulworth
Wim Wenders – As asas do desejo
Wong Kar-Wai – Disponível para amar
Yasujiro Ozu – Tokyo monogatari
Zhang Yimou – Ju Dou

E O VATICANO?

O Avenida "chegou" hoje ao Liechtenstein. O principado é pequeno (160 km2, um pouco menos que a freguesia de Santo Aleixo da Restauração, em Moura). Trata-se de um dos mais pequenos territórios do planeta. Nada que se compare aos 44 hectares do Vaticano. Quero a bandeira do Vaticano!

Não há iPads nem iPhones à vista. Será por isso?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

EU, RETROSSEXUAL, ME PROCLAMO

No final do ano descobri algo mais sobre a carcaça que arrasto há quase 50 anos. Sou um retrossexual. Nem mais. O que quer dizer o palavrão? Homens de mais de 40 anos, rejeição da ditadura da imagem perfeita, ar simples e real, barba por fazer, cabelo grisalho e ar durão. Bate tudo certo, tirando a parte do ar durão.

Quando, no dia de Natal, proclamei a minha retrossexualidade pediram-me exemplos. Referi José Mourinho, George Clooney e Hugh Laurie. Só consegui que as mulheres da casa parassem de rir quando expliquei, pacientemente, que há retrossexuais da primeira divisão (eles) e outros que jogam nos distritais (eu). Parece que "estamos" na moda. Objetivamente, ainda não dei por nada...

Ainda assim, estou mais descansado. Já posso andar com a camisa por fora das calças e dizer que é moda. E posso também reivindicar a patente da camisa com uma gola por dentro da camisola, outra por fora. Na adolescência, a minha mãe dizia que era um "mal pronto", abanando a cabeça, de modo desaprovador. Agora tudo mudou. Já tenho um estilo. Uma boa maneira de terminar o ano.
 
 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

AO MINISTÉRIO PÚBLICO???


A Assembleia Municipal de Beja [de maioria CDU] chumbou ontem o Orçamento e as Grandes Opções do Plano da autarquia bejense. Jorge Pulido Valente [eleito pelo PS], em conferência de imprensa, anunciou que vai apresentar queixa ao Ministério Público.

Mas a surpresa maior estava guardada para o final com a conferência de imprensa, marcada já no decurso da Assembleia, que serviu para Jorge Pulido Valente anunciar que, com base num parecer da Associação Nacional de Municípios, iria apresentar queixa ao Ministério Público, responsabilizando a Assembleia Municipal pela não aprovação em tempo útil do orçamento. Pulido Valente avançou ainda, segundo o parecer, que a ser considerada precedente, esta queixa pode dar dissolução da própria Assembleia e a convocação de eleições antecipadas para a mesma.
in www.vozdaplanicie.pt

Queixa ao Ministério Público?
Dissolução da Assembleia Municipal?
E a seguir? Irão mandar prender os eleitores?

O MEDO COME A ALMA

Derradeira citação cinéfila de 2011.  Um filme de Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) de que gosto particularmente. Por um lado, pela improvável história de amor que este Angst essen Seele auf / O medo come a alma (1974) relata: uma viúva alemã apaixona-se por um emigrante marroquino (v. um excerto aqui). Por outro lado, porque Fassbinder foi buscar inspiração a outra história de amor "impossível", All that Heaven allows (1955), de Douglas Sirk (a viúva e o jardineiro muito mais novo). Far from Heaven (2002), de Todd Haynes, foi pelo mesmo caminho. A dificuldade do tema foi ultrapassada, com mestria, pelos três cineastas.

Uma amiga, muito mais nova, pergunta-me, antes de uma incursão à Cinemateca prevista para amanhã, "como é que sabes se um filme tem interesse, se esses clássicos só são vistos de tempos a tempos e deles já quase não se fala?". Não sei, de facto. Mas o fator surpresa, tão do agrado dos meios futebolísticos, tem-me feito descobrir tantos e tantos filmes de importância fundamental na minha vida.


Fotograma do filme.
 El Hedi ben Salem (1935-1982) teve uma história não menos conturbada e trágica que a de Ali.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LE MUDE

Peregrinação pela Baixa Pombalina na companhia de uma jovem estudante liceal. Que não sabia o que era uma "gaiola pombalina" e ficou a saber depois de um almoço no Café do Rio. E que se entusiasmou no MUDE com uns ténis All Stars com um desenho de Roy Lichtenstein, com o sofá La bocca e com o cofre da cave, usado para a exposição da joalheira Kukas.

Mais do que o entusiasmo juvenil da minha companhia desta tarde surpreendeu-me a quantidade de franceses que visitavam o MUDE. Quase só ouvi falar francês. Não pude deixar de ficar um pouco preocupado. Quando é que raio perceberemos que temos coisas muito boas na nossa terra?

A entrada no MUDE é à borla (!).
Site do Museu do Design e da Moda/Coleção Francisco Capelo: www.mude.pt

 
Uma casa de banho com muito design. Com a presença da Renova, claro.

MUSEU DE MOURA - Nº 3: O DEUS AMEAÇADOR

Mais uma peça de arte e arqueologia para a história do nosso concelho. Mais uma peça que poderia figurar em qualquer museu do mundo. Refiro-me ao smiting god do Castro da Azougada, datado da Idade do Ferro e com origens orientais.

O Castro da Azougada (imóvel de interesse público) foi escavado de forma pouco consequente nos anos 40 do século XX. Forneceu espólio de qualidade, hoje repartido entre o Museu Nacional de Arqueologia (a maior parte) e o Museu de Moura.

O smiting god foi objeto de estudo detalhado por parte de Mário Varela Gomes (Trabajos de Prehistoria, vol. 40, 1983, pp. 199-220).

IGREJAS CRISTÃS

Mais uma inovação do culto jornalismo televisivo que temos: no noticiário das oito de anteontem fomos informados que, na Nigéria, tinham sido atacadas igrejas cristãs.

 
  Inovações mais interessantes que a da "jornalista":
Um Cristo, sem corpo nem cabeça, na igreja de Santo António
(Igarassu, Pernambuco, Brasil)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CONTO DE NATAL

Aqui vos deixo - a partir de hoje e até segunda a regularidade do blogue será incerta - um verdadeiro e solidário conto de Natal, que me foi contado por um antigo dirigente de um movimento de libertação:

Um belo dia, algures nos anos 70, chegou à capital de uma ex-colónia portuguesa a notícia da oferta, por parte da URSS, de equipamento, destinado a ajudar, fraternamente, um país que nascia. Expetativa e dúvida. Que máquinas estariam para chegar? Que dádiva seria aquela?

Algumas semanas mais tarde o mistério desvendou-se. No porto da capital estavam a ser desembarcados limpa-neves. Limpa-neves com temperaturas de 35º? Costuma dizer-se, e é verdade, que quem dá o que tem a mais não é obrigado. Os limpa-neves não servem de muito nos trópicos? Ora essa, o que conta é o gesto. O espírito de Natal mede-se pelos gestos, não pela utilidade de umas quaisquer máquinas, não é verdade?
 
Cidade tropical depois de um nevão

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

COERÊNCIA

Faculdade de Medicina de Coimbra. Consulta de medicina do trabalho, hoje à tarde.
O médico olhou os gráficos de audiograma e decidiu "você ouve melhor do ouvido esquerdo que do direito".
A coerência é isto.




FUMO


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
 
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


Sob o signo do "fumo egípcio". Ao receber, do meu amigo Samer Abdel-Ghafour, esta divertida fotografia feita no sul do Egito nos anos 20 (os maços de cigarros tinham acabado de chegar aquela região, daí toda aquela exibição, hoje politicamente incorreta) lembrei-me de outra imagem. A de cima, feita na primavera de 2006. Onde o autor do blogue usa um narguilé (é apenas tabaco...) no Café el-Fishawy, no Cairo. Daí ao soneto de Florbela Espanca foi um curto passo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ó RANGEL, QUANDO QUISERES PODES IR ANDANDO, PÁ...


"O eurodeputado do PSD Paulo Rangel sugeriu na terça-feira a criação de uma agência nacional para ajudar os portugueses que queiram emigrar, considerando que essa pode ser uma “segunda solução” para quem não encontra trabalho em Portugal." - Público

Claro, uma Agência ou uma Alta Autoridade. Com direção e assessores. E conselheiros. E grupos de trabalho. E consultores. E estudos. E, já agora, um Observatório, para observar se os assessores assessoram e se os conselheiros aconselham. E com relatórios, muitos relatórios, daqueles cheios de palha e que nunca ninguém lê.

Libertar o futuro? Sair do país? Emigrar? Com ajuda? Atão não, pá?

Eu ajudo-te:
Apanhas amanhã um avião (às 18.55 para Londres, na British Airways). Depois outro para Hong-Kong, onde deverás chegar no dia 23 às 18.25. Aí mudas para a Air Pacific. Sais de Hong-Kong no dia 24 às 16.30 e aterras em Nadi (é nas Fiji ok?) no dia seguinte de manhã. É Natal. Aguentas dois dias a ver as vistas, a fazer peito para as fijianas e a apanhar sol. De Nadi até ao atol de Funafuti, em Tuvalu, são só mais dois pulinhos. Às 10.40 de dia 27 já lá estás.

Perdes a Consoada, o bacalhau e essas coisas? Deixa lá, vais para um sítio com  sol, música, bom ambiente e montes de miúdas giras, que parece que estão sempre no desfile das misses (naquela parte dos trajes regionais). Não te esqueças de mandar um postal. A malta gosta dessas atenções.

O cartoon é de Plantu e foi publicado no Le monde. O pince-moi é-me familiar.

NO DIA MAIS CURTO

Hoje é o dia mais curto do ano. Não vai ser um dia cinzento, porque fará sol. Mas o dia mais curto do ano tem menos sol que os outros dias do ano. Este dia mais curto do ano é um dia incómodo e intranquilo.

Paul Verlaine, um poeta de quem gosto cada vez mais, tinha 30 anos quando escreveu este Il pleure dans mon coeur.

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville ;
Quelle est cette langueur
Qui pénètre mon coeur ?

Ô bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits !
Pour un coeur qui s'ennuie,
Ô le chant de la pluie !

Il pleure sans raison
Dans ce coeur qui s'écoeure.
Quoi ! nulle trahison ?...
Ce deuil est sans raison.

C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon coeur a tant de peine!

 
Mértola (2000), numa manhã de inverno em que acabara de chover na vila

FIM DE LINHA

O texto de ontem no jornal Público é lapidar. Eis dois excertos:

A CP tentou vender junto de museus ferroviários europeus o comboio histórico de via estreita estacionado na Régua, mas a Federação Europeia das Associações de Caminhos-de-Ferro Turísticos (Fedecrail) boicotou essa tentativa, pedindo aos museus que renunciassem à compra, mesmo que estivessem interessados.

"Podendo haver interesse por alguma companhia ferroviária na sua colocação ao serviço para fins turísticos, a CP fez uma primeira auscultação do mercado para verificar a existência de eventuais interessados", disse a mesma fonte [porta-voz da empresa]. A CP mantém, por isso, o interesse na venda, mas admite agora que "será dada preferência ao Museu Nacional Ferroviário, caso este tenha disponibilidade" para o comprar.

É quase humilhante que tenham de ser entidades externas a chamar a atenção para a importãncia do que é nosso. Mas é, sem dúvida, humilhante que empresas como a CP olhem para o seu património, que é também nosso, em função da auscultação do mercado. Empresas destas têm à frente os jovens lobos do sistema. Têm MBA e fizeram cursos no INSEAD e na LSE e sabem de management e isso tudo. Isso tudo e nada mais. Olham o património e veem "ativos". São a versão polida do sistema cultural berlusconiano. Só não vendem a Torre de Belém porque não podem. E o melhor é não falar muito alto.

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

LA SELEZIONE DEL SINDACO

Foi com uma garrafa destas - colheita de 2006, casta Aragonez - que a Casa Agrícola Santos Jorge (v. aqui, página 12) ganhou uma medalha de prata num concurso internacional. A participação da Câmara Municipal é diminuta, tendo apenas de proceder a uma inscrição. No entanto, os produtores do concelho não podem concorrer se a autarquia não o fizer. Daí se considerar que é uma "seleção do Presidente da Câmara"...

O vinho tinto da Herdade dos Machados deu boa conta de si. Uma boa forma de terminar o ano.

TERRA SEM PÃO

É um dos grandes filmes da História do Cinema. É um testemunho violento, de uma existência não menos violenta, numa das regiões mais pobres de Espanha. Luis Buñuel  (que Dalton Trumbo considerava o maior cineasta do mundo) fez este Las Hurdes em 1933. Vi-o em 1982 ou 1983, na Cinemateca, meio século após a rodagem. Recebi o filme como um soco no estômago, embora soubesse que a realidade daquela região mudara radicalmente.

São 25 minutos de grande crueza, num documentário inesquecível.

 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

KIM JONG-UN

Depois de Kim il-Sung e de Kim Jong-il parece ter chegado a vez de Kim Jong-Un. Primeiro o Grande Líder, depois o Querido Líder. Está na hora do Rechonchudo Líder. Para já, o casaco é igual ao do avô, o que dá garantias de continuidade ideológica (sobre a importância da análise da roupa na evolução da personalidade leia-se o texto As listas de Metterling, de Woody Allen - v. aqui uma versão em castelhano).


UN POCO MÁS DE TDT...

Um leitor anónimo mandou-me este fantástico link (vejam que vale a pena: http://tdt.telecom.pt//recursos/apresentacoes/Lista%20de%20Pontos%20de%20Venda%20TDT%20Complementar%202011%2012%2013.pdf, com os pontos de venda autorizados kit TDT Complementar (DHT). Para Almodôvar aponta-se uma empresa supostamente de Oliveira de Frades, para Barrancos uma de S. Pedro do Sul. É erro, decerto. Embora dali  tudo seja de esperar.

Já agora, a empresa com posto autorizado para Moura fica em Beja. Aí temo que seja mesmo a sério.

 
"Ora, Oliveira de Frades, Oliveira de Frades, deixa lá ver..."

JOSÉ DIAS COELHO (1923-1961)

Faz hoje 50 anos que, numa rua de Lisboa, a PIDE assassinou a tiro o pintor José Dias Coelho, militante do PCP. Artista talentoso, renunciou à carreira para dar continuidade a um combate político que lhe custaria a vida. José Afonso dedicar-lhe-ia a canção A morte saiu à rua.

Numa altura em que, de forma mais ou menos programática, se tenta alguma desvalorização do papel do Partido Comunista Português na luta contra o fascismo, vou ter a curiosidade de ver quantos minutos a RTP (pelo menos essa...) vai dedicar à efeméride.

domingo, 18 de dezembro de 2011

JUNK DAY

Olhei, desolado, o parque de estacionamento, a deitar por fora, do Algarveshopping. Detesto centros comerciais e fico, quando neles entro, num estado semi-comatoso, do qual só recupero muitas horas depois da provação. "Já ouço os teus suspiros cerebrais" alguém disse, de forma bem humorada, ao meu lado.

Pior, muito pior que o dia, com direito a junk food (um prego na Portugália foi o menos mau) e a um junk movie (a Missão Impossível, um filme inverosímil e cheio de McGuffins...) foi o junk PM que se mostrou na entrevista dada ao Correio da Manhã.

Explico-me:
Depois de um secretário de estado da juventude ter dito que o melhor era os jovens emigrarem temos agora um PM que propõe aos professores desempregados que tentem a sua sorte noutro sítio. Preocupado em ser o rapazinho bem-comportado da Europa do Sul face aos olhos severos de Angela Merkel, e sem grande ideia sobre o futuro que nos espera, Passos Coelho encontra uma versão original da economia global, traduzida numa simple frase: "Socorro! Desenrasquem-se! Salve-se quem puder!".
Os professores ficaram tranquilos. Eu também.

Antevisão:
a pista da Portela em dia de partida de professores

OBITUÁRIO A SUL


Talvez seja um pouco desproporcionado juntar num só texto a referência ao desaparecimento destas duas figuras da cultura. É que se Cesária Évora (1941-2011) ganhou o estatuto de estrela mundial, muito por força da promoção que os franceses lhe deram, já Joãosinho Trinta (1933-2011) era, sobretudo, conhecido no Brasil.

Cesária Évora popularizou, urbi et orbi, as mornas. Em Portugal, e até ela aparecer, a música cabo-verdiana era coisa de emigrantes e de militantes musicais e políticos encostados à esquerda. Cesária teve o reconhecimento que nunca tiveram o precocemente desaparecido Frank Mimita, ou Bana, ou Ildo Lobo com os seus Tubarões. Menos ainda os Bulimindo, que se dedicavam ao funaná. As mornas, pé na tchom, têm a alma de Cabo Verde. Mas a sua sonoridade é bem a da mestiçagem. Viva Cesária!

No mesmo dia desapareceu também o célebre carnavalesco Joãosinho Trinta. Foi um dos que mais contribuiu para dar ao Carnaval do Rio o seu formato atual. Esteve longos anos à frente da Beija-Flor, de Nilopolis, com grande sucesso. Confesso que só me recordo com clareza de um dos seus desfiles. Refiro-me à bronca ocorrida em 1990, quando a escola, que acabou por ficar em 2º lugar, se apresentou com o tema Todo o mundo nasceu nu. Uma provocação aos critérios que interditavam a genitália desnuda (adoro esta expressão, dá sempre a ideia que anda ali mão, honni soit qui mal y pense, de jurista). Mas a frase que mais gosto de Joãosinho Trinta tem a ver com a justificação dada para o luxo dos seus desfiles: "O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é o intelectual". Impreciso, mas divertido.


DOUTOR ALBERTO

Teve lugar, ontem à noite, o jantar de entrega do prémio mourense do ano. A meritória iniciativa, da Junta de Freguesia de Sto. Agostinho (Moura), distinguiu este ano o Dr. Alberto Alves Pereira Fernandes.

O Dr. Alberto, como é popularmente conhecido, dedicou toda a sua vida à medicina veterinária, numa atividade que teve, ao longo de muitas décadas, tanto do profundo conhecimento técnico quanto de sacerdócio e de entrega ao próximo. Simpático e dotado de rara simplicidade, é figura popularíssima no concelho de Moura, e muito para lá das suas fronteiras, conseguindo a rara proeza de gerar um amplo consenso entre os mais diversos setores sociais e políticos da nossa terra.

Conheço o Dr. Alberto há mais de 40 anos. Pude partilhar momentos de convívio dos quais guardo as melhores recordações (um deles, particularmente interessante e até divertido, foi o que envolveu o contributo que deu à rodagem do filme A moura encantada, em 1984). Tenho por ele a maior admiração e simpatia. Foi por esse motivo, e não só por estritas razões institucionais, que fiz questão de me deslocar ontem à noite a Moura, num evento em participaram familiares, colegas e amigos. Uma noite memorável,

Infelizmente, não foi dada a palavra ao representante da Câmara Municipal de Moura, o que impediu que, em nome da autarquia, fossem também dirigidas palavras de estima e de apreço ao homenageado. Fica aqui o meu testemunho escrito.


Da esquerda para a direita:
Dr. José António Oliveira (Vice-Presidente da Câmara Municipal de Moura); José Armelim Fialho (Presidente da Junta de Freguesia de S. João Batista); Álvaro Azedo (Presidente da Junta de Freguesia de Sto. Agostinho); Dr. Alberto Fernandes

sábado, 17 de dezembro de 2011

PAS DE DEUX

Foi com o coração a transbordar de espírito natalício que ontem à noite saí da Assembleia Municipal. No meio de tanta votação, o momento de maior ternura foi protagonizado pelo acrobático passo de dança protagonizado entre o presidente da junta da Amareleja e a bancada do PS. Está consumada a aproximação. Votaram sempre em conjunto e estiveram sempre de acordo. Les beaux esprits se rencontrent...

O presidente da junta da Amareleja votou, até, contra o plano de atividades para 2012. Ou seja, votou contra a obra das Cancelinhas, a intervenção do barranco do Vale de Juncos (obra lançada e adjudicada) e o plano da zona industrial, que ficará concluído em janeiro. Uma evidência que deve dar direito a explicações complexas.

MANUEL PASSINHAS DA PALMA

Declaração de interesses: sou amigo do Manuel Passinhas.

A partir daqui, já posso dizer o que me apetece. Nomeadamente que é uma excelente pessoa e um pintor de apurada sensibilidade. De quem tenho um quadro de que gosto muito, e que está em lugar de honra lá em casa.

Tem um site novo, onde começa por citar As cidades invisíveis, de Italo Calvino (cf. infra), o que me parece bem, e anuncia o projeto D'a margem, o que me parece ainda melhor.

“…Em todos os lugares desta cidade (Zoé) se poderia ora dormir, ora fabricar arneses, cozinhar, acumular moedas de ouro, despir-se, reinar, vender, interrogar oráculos. Qualquer tecto em pirâmide poderia cobrir tanto o lazareto dos leprosos como as termas das odaliscas. O viajante anda e só tem dúvidas: não conseguindo distinguir os pontos da cidade, até os pontos que ele tem distintos na mente se misturam. Daí infere isto: se a existência em todos os momentos é toda ela mesma, a cidade de Zoé é o lugar da existência indivisível. Mas porquê então a cidade? Que linha separa o dentro do fora, o troar das rodas do uivo dos lobos?”


http://passinhaspalma.weebly.com/

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ARQUEOLOGIA - MARKETING RADICAL


O lançamento do livro Arqueologia do Norte Alentejano, que hoje terá lugar no Palácio do Vimioso, em Évora, vem desmentir uma série de ideias feitas sobre a arqueologia: que é uma coisa desinteressante, é só velhotes a falarem de umas peças muito antigas, que não há inovação etc. etc.

Considero a fotografia marketing e não publicidade enganosa. É isso, não é?