segunda-feira, 31 de maio de 2010

CARVALHO DA SILVA À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Onde é que está a dúvida? Nem foram as imperiais na Ribadouro (sem marisco sff, que isso nos ficaria mal depois da manif) a fonte de inspiração, mas o Rafael e eu achámos que o melhor candidato do Partido à Presidência da República seria o nosso camarada Manuel Carvalho da Silva. É um líder, tem inegável prestígio junto dos trabalhadores, é convincente, tem preparação política e sabe o que querem dizer palavras mobilização e luta. Onde é que está a dúvida que dará um grande candidato? E encostaria à parede nobrezas e alegrias.
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Pelo sim, pelo não criei um grupo de apoio no facebook, onde espero por vocês e por muitos mais:
QUEREMOS CARVALHO DA SILVA COMO CANDIDATO DO PCP À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
http://www.facebook.com/group.php?gid=123436947691224&ref=mf
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E POR FALAR EM PUBLICIDADE E EM COISAS QUE CAEM...

E por falar em política subliminar, em publicidade e em coisas que caem, aqui vai um peso de 16 toneladas, e com a devida vénia aos Monty Python, para o responsável da edição de domingo do Público.
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E POR FALAR EM PUBLICIDADE...

... aqui está um exemplo de coisas feitas como devem ser. Refiro-me ao genial anúncio que a Volkswagen concebeu, em 1988, para o lançamento do Passat. Na realidade, era apresentado em dois momentos diferentes: o primeiro funcionava como teaser e ía até ao momento em que o carro partia o pavimento. Não chegávamos a ver a viatura. Semanas depois é que viamos o senhor a saltar para dentro da cratera para, então, apresentar o carro. Um momento brilhante na história da publicidade.
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PUBLICIDADE SALOIA

Confesso a quem passa por este blogue que a surpresa não foi por aí além. Não fiquei surpreendido pelo mar de gente que encheu, várias vezes, a Avenida da Liberdade (quando Carvalho da Silva, último orador, iniciava a sua intervenção, ainda estava manifestantes a sair do Marquês de Pombal!), nem pelo tratamento que alguns orgãos de comunicação deram ao tema. O jornal com uma perspectiva mais abrangente do assunto foi, de longe, o Diário de Notícias. O Público mostrava, no centro da reportagem, uma fotografia com grande destaque. Onde se via uma imagem do pequeno grupo de manifestantes do Bloco de Esquerda. Publicidade subliminar? Saloiice editorial? Podem cruzar as várias possibilidades sff.
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O Público on-line de hoje dá voz a João Proença. Não encontra este líder sindical melhor coisa para dizer que a manifestação “não teve eventualmente a adesão que os organizadores esperariam”. Pergunto-me se estaremos a falar da mesma manifestação. E João Proença até nem é o mais destacado serventuário do poder. Pelo menos no que à administração pública diz respeito, esse lugar vai inteirinho para Nobre dos Santos.
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Fotografia do site da CGTP: www.cgtp.pt

sexta-feira, 28 de maio de 2010

É AMANHÃ!

É já amanhã.
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Lá estarei, com muitos camaradas e amigos, desfilando entre o Marquês e o Rossio. As medidas de austeridade propostas pelo governo são mais do mesmo. São, antes de mais, uma profunda injustiça. Quem paga a crise? Os trabalhadores. Quem é castigado com mais impostos? A classe média. Um especialista em economia já previa que "isto" iria durar 27 anos... NO MÍNIMO, acrescentarão os especuladores e os do FMI.
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Não deixa de ser uma cena de humor negro aquela dos ex-ministros das finanças irem falar com o Presidente da República dizer não sei o que sobre o estado a que chegámos. Fala dos ex-ministros das finanças de Portugal. Que, aparentemente, não tiveram nada a ver com isto...
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É hora de protestar. Todos ao Marquês!
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quinta-feira, 27 de maio de 2010

GEOGRAFIA PRESIDENCIAL

Ainda por causa de Teixeira Gomes: tanto ele como o actual presidente pertencem à região algarvia. Pergunta ao estilo trivial pursuit: de onde vêm os nossos presidentes?
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Tivémos, contando o actual, 18:
7 eram de Lisboa
3 do Algarve
2 dos Açores
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Os restantes distribuem-se por diversas regiões. Facto curioso: nunca tivémos nenhum presidente natural do Porto. Ou de Coimbra. E um nasceu no Rio de Janeiro.
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Este mapa do século XVII não deixa de ser curioso. Mostra-nos um país onde a região lisboeta surge representada de modo manifestamente exagerado. Um mapa premonitório?

MÁRIO SOARES POR JÚLIO POMAR

A evocação do aniversário do nascimento de Manuel Teixeira Gomes leva-me a um breve "desvio" às ligações entre presidentes da República e o meio artístico e cultural. É da praxe que a galeria da presidência tenha um retrato oficial, realizado por um artista nacional. Coube a Mário Soares a renovação desse conceito. Ao contrário do seu antecessor, cujo registo o mostra numa pose rígida e convencional, Mário Soares deixou-se retratar à vontade do pintor, o seu velho amigo Júlio Pomar (n. 1926). O quadro de Pomar, histriónico e provocador, mostra-nos um Soares popular e enérgico e é uma das grandes obras da pintura portuguesa da segunda metade do século XX. Poucos artistas teriam a coragem de o fazer. Poucos retratados teriam o savoir-faire de o aceitar.
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Jorge Sampaio escolheu Paula Rego. E Cavaco Silva? Aceitam-se apostas.
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ENTRE AS 4:34 E AS 4:46

Ao anónimo desconhecido que, pela madrugada, passou pelo blog bolçando insultos (os temas eram a Guiné-Bissau, o comandante Pedro Pires e a CDU em Moura):
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1) Achei sinceramente divertidas as suas afirmações;
2) Desde a ainda recente campanha eleitoral apara as autárquicas que não era mimoseado daquela forma, coisa que já estava a estranhar;
3) Bojardas daquelas não são, nem serão, publicadas;
4) Aconselho-lhe vivamente o lexotan;
5) Um resto de bom dia para si

MANUEL TEIXEIRA GOMES

Faz hoje 150 anos que nasceu Manuel Teixeira Gomes. Escritor e político, homem refinado e à frente do seu tempo produziu uma obra literária digna de registo, à qual já aqui fiz referência.
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Morreu no auto-exílio de Bougie (Argélia), em 1941. Celebremos, neste dia de comemoração, o seu amor pela vida. Tenho a certeza que apreciaria devidamente o texto de Russell Edson (n. 1935) e que uma amiga me mandou por mail:
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A mama

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Uma noite a mama de uma senhora entrou no quarto de
um homem e pôs-se a falar da sua irmã gémea.
A sua irmã gémea isto, a sua irmã gémea aquilo...
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Passado algum tempo o homem disse, então e tu, querida mama?
E a mama passou o resto da noite a falar dela própria.
Ela própria isto, ela própria aquilo...
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Passado algum tempo o homem beijou-lhe o mamilo, pediu desculpa e adormeceu...

RUSSEL EDSON

O espelho atormentado

Tradução: Guilherme Mendonça

publicado no blogue http://conta-meumconto.blogspot.com/
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O porto de Bougie, visto pela paleta do artista plástico Albert Marquet (1875-1947)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

COMANDANTE PEDRO PIRES

A cerimónia teve lugar hoje, às 15 horas. O comandante Pedro Pires, presidente da República de Cabo Verde recebeu o grau de doutor honoris causa, conferido pela Universidade Técnica de Lisboa.
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Os orgãos de comunicação lusitanos - Diário de Notícias à parte - ignoraram o facto. É pena, porque Pedro Pires (n. 1934) é uma figura de primeira linha na luta contra o colonialismo. Facto essencial, porque a luta de libertação dos povos da Guiné e de Cabo Verde foi também a luta da libertação do povo português. As razões de atribuição do grau estão expressas no site da UTL: "Este doutoramento é o reconhecimento do currículum do Comandante, um preito à boa governação de Cabo Verde no contexto africano e uma homenagem à Nação e ao povo cabo-verdiano."
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Mas Pedro Pires é, também presidente de um país pequeno e pobre. É um homem tímido e pouco dado ao espalhafato mediático. Ou está aí a razão do silêncio ou naqueles complexos pós-coloniais que ainda atormentam muito boa gente.
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O Diário de Notícias, na interessantíssima peça que lhe dedica, chama-lhe homem exemplar. As respostas à entrevista são marcadas pela ponderação e pela inteligência. Retenho esta frase: "Spínola foi completamente derrotado na Guiné".
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O Comandante Pedro Pires visitou o concelho de Moura em Julho de 2008.
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terça-feira, 25 de maio de 2010

JANELA INDISCRETA

O filme está no topo das minhas preferências hitchcockianas. Um fotógrafo em convalescença passa o tempo espreitando a vizinhança. Os gestos mais íntimos caem no seu olhar. O crime que testemunha é apenas parte daquela curiosidade tão humana sobre o que se passa para lá do que conhecemos, ou julgamos conhecer. Talvez seja o voyeurismo o que mais me agrada em Janela Indiscreta... Apesar da gélida Grace Kelly um toque de perversidade perpassa pelo filme.
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Não ganhou nenhum oscar, claro... Basta-lhe o prémio da imortalidade.
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Os clips deste filme são raros. E o pretexto é, aqui, um dos celebérrimos cameos de Alfred Hitchcock.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

FIM-DE-SEMANA MUSICAL - III: TROUBLE IN SÃO CARLOS

Dois em um: L'occasione fa il ladro, de Rossini, e Trouble in Tahiti, de Bernstein. O problema não esteve no díptico, à volta dos enganos e das angústias do amor, e ainda que pouco tivessem um a ver com o outro. Não esteve sequer no que aos espectadores foi oferecido. Depois das recentes pateadas, acabou por ser um momento de tranquilidade e, até, de qualidade. O problema não esteve, sequer, na clamorosa fífia de João Cipriano na ária D'ogni più sacro impegno, coisa que acontece aos melhores. O verdadeiro trouble esteve nos magotes de criancinhas que invadiram o São Carlos. Levado à ópera à força e sem o devido enquadramento por parte dos seus professores, deu o que deu: um permanente cochicho, entremeado pelo irritante som de garrafas de água a serem manuseadas. Aprende-se sempre qualquer coisa. Ópera aos domingos à tarde, nunca mais.

Oiça-se então o tenor rossiniano Rockwell Blake na ária acima citada:

FIM-DE-SEMANA MUSICAL - II: MAIS DO MESMO

Poque é que tem de ser tudo igual? Porque é que as casas de discos só vendem o que está na moda e aquilo que a moda nos vende? Porque é que aquilo que nos parece mais banal não está disponível? Nunca.
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Vai um cristão a uma grande loja de discos comprar umas coisas e nada. Nem Alcindo de Carvalho nem Manuel de Almeida. Nem os Vampire Weekend nem Billy Joel. Nem Diblo Dibala nem os Rolling Stones (!). Nem Dick Farney nem...
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Vai um bocejo pela falta de músico-diversidade?
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FIM-DE-SEMANA MUSICAL - I: O ELIXIR DA JUVENTUDE

Por motivos profissionais, muitos dos meus fins-de-semana têm sido passados entre Mértola e Lisboa. No meio do pouco sossego, há umas horas, que coincidem com as viagens, que me fazem sentir um pouco menos cota. À ida, um dj com ideias originais, Nuno Miguel, faz-me mudar um pouco a imagem que, por norma, tenho dos DJ. No regresso, um coyote à deriva nos desertos mostra o que quer dizer a palavra pop, e um pouco mais que isso. O tempo pára nessas horas, e até parece que recua um pouco.
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domingo, 23 de maio de 2010

REAL MADRID OU A MÁQUINA TRITURADORA

Miljan Miljanic, responsável vitorioso no Estrela Vermelha de Belgrado e que esteve quase a ser treinador do Benfica em 1974;
Alfredo di Stéfano, que ganhou campeonatos na Argentina e em Espanha;
Leo Beenhakker, que vencera o campeonato holandês;
Fabio Capello, que se saiu muito bem em Itália;
Guus Hiddink, que deixou saudades na Holanda;
Vanderlei Luxemburgo, com passado de prestígio no futebol brasileiro;
Juande Ramos, com obra feita em Sevilha;
Manuel Pellegrini, que venceu na América do Sul.
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Que têm estes nomes em comum? Todos orientaram o Real Madrid. Alguns até venceram provas de destaque. Nenhum deles venceu a Liga dos Campeões. Todos foram arrasados pela máquina de triturar treinadores do Real Madrid. José Mourinho é o alvo que se segue. Jorge Valdano já deve estar a olear a espingarda.
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sábado, 22 de maio de 2010

SILÊNCIO

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

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Octavio Paz
in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli
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Este poema de Octavio Paz (1914-1998) não está longe da desolação vazia das ruas de Praga, no Verão de 1968. As palavras são simples, a imagem também. Praga acabara de ser invadida e Josef Koudelka (n. 1938) limitou-se a estender o braço e a registar a hora. Simples. E genial.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O MESTRE E O SEU DISCÍPULO

Louis van Gaal


7 campeonatos (Holanda, Espanha e Alemanha)

1993-94, 1994-95, 1995-96, 1997-98, 1998-99, 2008-09, 2009-2010

3 Taças (Holanda, Espanha e Alemanha)

1992-93, 1997-98, 2009-10

3 Super-Taças (Holanda)

1992-93, 1993-94, 1994-95

1 Liga dos Campeões

1994-95 (Ajax)

1 Taça da UEFA

1991-92 (Ajax)

2 Super-Taças da UEFA (Holanda e Espanha)

1995, 1997

1 Taça Intercontinental

1995(Ajax)

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José Mourinho

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6 campeonatos (Portugal, Inglaterra e Itália)

2002-03, 2003-04, 2004-05, 2005-06, 2008-09, 2009-10

3 Taças (Portugal, Inglaterra e Itália)

2002-03, 2006-07, 2009-10

2 Super-Taças (Portugal e Itália)

2003, 2008

2 Taças da Liga (Inglaterra)

2004-05, 2006-07

1 Liga dos Campeões

2003-04 (Porto)

1 Taça da UEFA

2002-03 (Porto)
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O jogo é amanhã. Os currículos de Van Gaal e Mourinho impressionam. Mourinho foi adjunto de Van Gaal no Barcelona. Por essa altura, os espanhóis divertiam-se a escarnecer do estilo do holandês e da sua mania de andar sempre com um bloco de apontamentos onde, a cada momento, anotava o que se ia passando no campo. Nuestros hermanos tendem a desconfiar e a troçar do que vem de fora (diziam eles que Raul era o melhor avançado do mundo e um dos melhores de Espanha...). Os métodos de Van Gaal deram campeonatos ao Barça, mas não a ambicionada Liga dos Campeões, que ganhara em 1992, sob o comando de Cruyff.
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Previsão fácil: se o Inter marcar primeiro vamos ter um desafio mais entorpecente que o Xanax.

ALVÍSSARAS

São estes os cinco quadros roubados do Museu de Arte Moderna de Paris. De cima para baixo:
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La femme à l'éventail - Amedeo Modigliani (1919)
L'olivier près de l'Estaque - Georges Braque (1906)
La pastorale - Henri Matisse (1905)
Nature morte au chandelier - Fernand Léger (1922)
Le pigeon aux petits pois - Pablo Picasso (1911-1912)
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O valor global das obras atinge os 100 milhões de euros. Olhando, em especial, as obras de Braque, Picasso e Matisse podemos dizer que os rapazes não têm mau gosto... Mas os danos são irreparáveis.
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Sobre o museu veja-se:
http://www.paris.fr/portail/Culture/Portal.lut?page_id=6450&document_type_id=5&document_id=15956&portlet_id=14555
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

NUMA TERRA UTÓPICA

Comprometera-me a participar num livro sobre a civilização islâmica, dirigido por uma conhecida académica palestiniana, Salma Khadra Jayyusi. Supostamente deveria recebê-la em Mértola. Razões de saúde adiaram a visita e mandou-me, para conhecer o sítio, um senhor já idoso que eu não conhecia. Fiquei com pena de não ter podido receber Salma Jayyusi, mas foi um verdadeiro prazer ter travado conhecimento com Trevor LeGassick. Professor de literatura árabe na Universidade de Michigan e profundo conhecedor da cultura do Médio Oriente (parece que agora já não é politicamente correcto dizer assim), Trevor entusiasmou-se genuinamente com o bairro islâmico, com o museu e com a mesquita. Almoçámos na Terra Utópica. É nesses momentos que melhor conhecemos as pessoas. Quando quis saber um pouco mais sobre o seu trabalho disse-me que se interessava pela biografia do Profeta. E que traduzia autores contemporâneos para a língua inglesa. "Quem?", perguntei. "Fui o primeiro tradutor de Naghib Mahfouz", respondeu, de forma quase sumida. Nessa altura ergui o copo e brindei a Naghib Mahfouz e ao Cairo. Sorriu e fez o mesmo.
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SABEDORIA CHINESA

UMA IMAGEM VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS.
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Fotografia no "Público" online de hoje.

terça-feira, 18 de maio de 2010

PECADO MORTAL

UMA NOTÍCIA TRISTE NO DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS
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A informação do encerramento do Museu da Cortiça de Silves, por falta de verbas, constitui uma péssima notícia, especialmente quando corre no Dia Internacional dos Museus. A direcção do ICOM Portugal não pode deixar de manifestar o profundo pesar que esta notícia nos causa, renovando o conteúdo do comunicado emitido em 15 de Dezembro de 2009, que se abaixo se transcreve. Fazemos votos para que este encerramento seja apenas temporário, até que sejam encontrados os meios que permitam o museu reabrir. E simultaneamente incentivamos todos os que acompanham e amam os museus para que reflictam no carácter paradigmático que este caso pode constituir: de como um museu tão celebrado, pela valia intrínseca das suas colecções e pelo projecto museológico que protagonizou, reconhecido com o prémio de “Melhor Museu Europeu do Ano”, pôde ser conduzido até ao estado em que se encontra. Que limites devem existir para a gestão empresarial privada de colecções de indiscutível interesse público ? Que limites para as parcerias público-privadas ? Que limites, enfim, para a progressiva alienação das responsabilidades do Estado na área dos museus, a que temos vindo assistir, em nome do liberalismo social ?
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Luís Raposo
Presidente do ICOM Portugal
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Fotografia: Manuel Ramos

Já em tempos tinha aludido a este tema. A triste notícia confirma-se agora.

SEM SOMBRA DE PECADO

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Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longamente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

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Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me na alma, sangram-me os sentidos.
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Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo -
Luto, estrebucho...Em vão! Silvo pra além...

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Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...

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Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?

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Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante -
Manhã tão forte que me anoiteceu.
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O beijo (1892), de Toulouse-Lautrec (1864-1901), e Álcool (1913), de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), vão dirigidos, em jeito de dedicatória, a todos os beatos falsos, e aos da política em primeiro lugar.

OLIVOMOURA - III: NÚMEROS

Vamos a alguns números da OLIVOMOURA e da FEIRA DO BOVINO MERTOLENGO:
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Nº de pavilhões - 3

Nº de expositores – 73
Nº de stands – 149
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Tasquinhas – 16
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Animais:
Nº de bovinos de raça mertolenga – 77
Nº de éguas cruzadas e PSL – 16
Nº de poldros - 8
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Feira Anual de Maio:
Stands de automóveis – 8
Feirantes – 51
Restaurantes (comissões de festas) – 5
Bares e farturas – 8
Divertimentos – 7

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Terminada a Feira de Maio é a de Setembro que começa a tomar forma. Os números que aqui, de forma rápida se apresentam, não espelham de modo fiel o programa de actividades que teve lugar nem dão conta dos milhares de visitantes que passaram pelo Parque de Feiras e Exposições. Fico satisfeito pela dinâmica crescente que as feiras nos nosso concelho têm vindo a gerar. Haverá sempre quem veja a árvore mas não a floresta, mas a realidade e a dinâmica que a autarquia tem vindo a imprimir a este sector mostra que estamos no caminho certo. Como nos encarregaremos de continuar a demonstrar.
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MARIJUANA

When I was in England, I experimented with marijuana a time or two, and I didn't like it. I didn't inhale and never tried it again. – Bill Clinton

Fumei [um] charro. Mas devo dizer que não senti nada de especial… – António José Seguro
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Das duas, duas: mentirosos e incompetentes.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

POBRECITO...

Alguém imagina o primeiro-ministro de Espanha a falar português? A tentar, sequer? Ninguém, pois não?
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Não se percebe porque raio os nossos governantes insistem naquele espectáculo deplorável. José Sócrates hoje esmerou-se. Fez uma figura ridícula, de subalterno deslumbrado. Como o olhar que se lhe lê nesta fotografia. Ser saloio é coisa que não se aprende nem se desaprende. É-se, simplesmente.
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LEITÃO DE BARROS

Fui, ao longo de semanas, publicando excertos de filmes. Dos preferidos por outros e daqueles que eu gosto. Quando chegamos ao cinema português a coisa complica-se. A nossa 7ª arte nunca foi nem artesanato nem indústria, quando deixou de ser popular passou a ser popularucha. De uma aborrecidíssima militância de outrora passou-se à telenovelização de histórias e maneiras de filmar. Ou então a tratados de semiótica pretensiosos e ilegíveis. Desolado, olho para trás e só consigo ver três ou quatro nomes maiores: Leitão de Barros (1896-1967) e Manoel de Oliveira (n. 1908). Mas também João César Monteiro e Paulo Rocha O primeiro tem, com frequência, um toque de elegância e sensualidade muito particulares. O segundo, goste-se ou não, sabe o que é cinema e tem uma ideia concreta do que quer que o seu cinema seja. E é injusto que se reduza a sua obra à caricatura.
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De Leitão de Barros talvez escolhesse Maria do Mar (1930). Quanto a Manoel de Oliveira não tenho dúvidas: A caça (1964) e Francisca (1981),
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Excerto de Maria do Mar

domingo, 16 de maio de 2010

A CROÁCIA, LÁ LONGE

O anúncio andou muito tempo pela CNN. É um brilhante exemplo do que quer dizer concisão e capacidade de transmitir uma mensagem. A publicidade e a imagem serão sempre o meu violon d'Ingres... Junte-se a este aspecto confessional o desejo de conhecer a Croácia. Por causa do seu vínculo ao mundo bizantino, por causa do prof. Baltazar e apesar da sombra dos ustachis (sim, as assombrações pesam-me). Com a crise instalada, ainda não vai ser desta.

A música deste spot é de Djelo Jusic (n. 1939), um dos mais populares músicos croatas.


sexta-feira, 14 de maio de 2010

OLIVOMOURA - I: MÉRITO ACADÉMICO

Foi apresentado, no âmbito da OLIVOMOURA, o Prémio de Mérito Académico Olivomoura 2012. Trata-se de uma inovação no âmbito deste certame e que teve como promotores a ADEMO (Associação para o Desenvolvimento dos Municípios Olivícolas Portugueses), o CEPAAL (Centro de Estudos e Promoção dos Azeites do Alentejo) e a DRAPAL (Direccção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo).
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O prémio tem como objectivo distinguir um trabalho académico (mestrado ou doutoramento) que tenha este domínio como tema. Do ponto de vista prático esse reconhecimento será traduzido na atribuição de um prémio pecuniário e na publicação da dissertação. A Feira Nacional de Olivicultura associa assim uma indispensável componente de investigação científica à promoção de uma das mais importantes actividades económicas da nossa região.
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Estas três entidades, em conjunto com a Câmara Municipal, irão agora divulgar e promover o prémio junto das entidades de ensino superior. O vencedor da primeira edição será divulgado na próxima OLIVOMOURA.
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OLIVOMOURA - II: PRÉMIO NACIONAL DE AZEITE

Foram esta tarde anunciados, no decorrer da 11ª edição da OLIVOMOURA, os prémios do Concurso Nacional do Azeite Virgem Extra. Foram distinguidas as seguintes entidades:
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Azeite Virgem Extra
1º - Soc. Agrícola Ouro Vegetal Lda. (Abrantes)
2º - Coop. de Olivicultores de Valpaços CRL. (Valpaços)
3º - João Portugal Ramos Azeites S.A. (Estremoz)
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Azeite Modo de Produção Biológico
1º - Casa Agrícola Roboredo Madeira S.A. (Almendra)
2º - Coop. de Olivicultores de Valpaços CRL. (Valpaços)
3º - Coop. Agrícola de Moura e Barrancos (Moura)
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Azeite Denominação de Origem Protegida
1º - Quinta Vale do Conde Lda. (Mirandela)
2º - Coop. de Olivicultores de Valpaços CRL. (Valpaços)
3º - Casa Agrícola Roboredo Madeira S.A. (Almendra)
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Não posso deixar de registar o notável resultado dos azeites transmontanos, que arrebataram 6 dos 9 prémios em disputa, entre os quais dois primeiros lugares.
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quinta-feira, 13 de maio de 2010

MOURA-BISSAU

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E hoje é o dia de ser apresentado o livrinho Moura-Bissau.
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A edição é da Câmara Municipal de Moura e enquadra-se na visita do presidente da Câmara de Bissau ao concelho de Moura.
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Para além dos textos dos autarcas Armando Napoco e José Maria Pós-de-Mina (com versão em crioulo guineense de Odete Semedo), há um outro da minha autoria, e que se conjuga com as 32 imagens recolhidas. Foram 16 em cada cidade.
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As cidades são um palimpsesto. As cidades escrevem-se no tempo e são a escrita do tempo. As cidades escrevem-se devagar, ao longo de séculos ou de milénios. Os séculos mudam-nas, apagam e reescrevem as suas páginas. Que são refeitas vezes sem conta. De dia e de noite, porque as cidades são, como as consoantes do alifato, solares e lunares. Os dias de Bissau e as noites de Moura fazem parte dessa escrita, que nem sempre é linear. E que nunca é silenciosa.

Os sítios não são um acaso da sorte ou do destino. Os primeiros a chegar foram, ao mesmo tempo, geólogos e geógrafos e arquitectos e urbanistas. Não sabiam que o eram, mas esse é o detalhe menos importante da história. Preferiram pontos altos e a proximidade dos rios, para se protegerem das ameaças que conheciam e, sobretudo, das que não conheciam.

As ruas das cidades contam-nos a história das cidades, e a vida de quem lá viveu. Os séculos sobrepõem-se e anulam-se, como na face de um velho palimpsesto. Cada troço de rua, cada esquina, cada porta nos conta uma história ou parte de uma história. Dentro de uma cidade esconde-se sempre outra, com o que ficou de tempos idos a ler-se, por vezes com dificuldade, por entre o que foi cortado e acrescentado ao longo dos séculos. Onde havia uma pequena rua exige-se agora uma passagem larga para circularem automóveis, onde estava o regato fez-se uma via rápida, onde havia um pequeno cais há agora um aterro e o porto novo, para navios grandes, fez-se mais além, mais perto do mar. Essas alterações pressentem-se, mas nem sempre são claras, na luz baça e quente das manhãs de Bissau ou na escuridão recortada e fria das madrugadas de Moura.

As cidades coloniais são obra de militares, traçadas com a régua do poder. As plantas dessas cidade, vistas só em planta, são um enredo de ruas, direitas e com rigidez castrense. Aí fica Bissau velho, mas a nós há-de parecer-nos quase novo, com linhas direitas e precisas e sem muita gente à vista. Onde o braço do poder não chegou uma lassidão curvilínea apoderou-se do desenho das ruas. Surgem nomes de sons estranhos a ouvidos europeus: Missirá e Bandim, para oeste, Pefiné e Amedalai, para noroeste. Vivem nesses bairros pessoas que nos chamam à passagem. Uma vez e outra.

Bissau é cidade recente. Há uns séculos atrás ninguém passeava ao longo da corrente rápida do Geba porque a cidade ainda não existia. Os primeiros que chegaram, há muitos anos, encostaram-se ao litoral, e nele copiaram tudo o que sabiam da maneira de fazer fortificações, de desenhar ruas e de construir cidades. Por aí ficaram. Terra dentro e rio acima era o desconhecido. Aí ficava o coração das trevas.

Agora é Inverno em Bissau, aceitemos que 35º possam ser Inverno, e por isso o tempo é muito seco. O calor ainda vem longe e mais longe ainda está a chuva. Tenho dificuldade em imaginar como serão os dias de Verão, com a chuva que não pára, os mosquitos e um calor terrível, que só conhecemos dos compêndios de geografia.

O dia cansou-se e, mais a norte, vem a noite. Na noite cheia de luz do norte fica Moura. Em tempos, os viajantes reconheciam as cidades pelo perfil que se recortava no horizonte. A sombra escura do castelo que se desenhava ao longe era, muitas vezes, o único ponto de abrigo em território hostil. O desenho das sombras da noite de Moura não mudou em muitos séculos. À noite, mais que nunca, é preciso olhar a luz para ver as sombras. O dédalo do norte é mais ordenado que o do sul. Ou parece sê-lo. As casas do norte também têm paredes em terra. Mas a cor da terra é aí coberta pelo véu da cal. E, assim, as paredes brancas contrastam mais com a pele escura da noite.

Quando nos afastamos para as ruas laterais, onde há sempre menos gente, as cidades parecem-nos mais velhas e gastas. Mas não é assim em todas as cidades e em todos os sítios, com os prédios antigos com rugas traçadas pelo ar salgado ou pela secura do interior? Não é assim em todos os sítios que foram uma coisa e deixaram de o ser? Há casas onde viveu gente e agora não mora ninguém, o que faz delas apenas um conjunto de muros abandonados e a memória de glórias usadas e esquecidas. As cidades são isso, também.

No outro dia, quando a noite já não era noite e o dia ainda só espreitava, as ruas estavam desertas e sem um som. Nos largos apenas se ouvia o rumor dos papéis que o vento levantava e depois íam pousar no mesmo sítio, exactamente no mesmo sítio. Alguns toldos balouçavam devagar com a primeira aragem da manhã, enquanto as luzes se iam apagando devagar e ficando sem préstimo. Moura parecia ter ficado deserta e sido varrida da face da Terra. Onde estão “os que há pouco dançavam, cantavam e riam ao pé das fogueiras acesas?”

Chove a norte e a sul. A água do norte lança brilho sobre o deserto das calçadas. A sul chovem, na perpendicular, raios de um sol impiedoso. Não pára de chover. Num sítio porque é um Inverno de sol, no outro porque o Inverno é frio e de chuva.

Um dia, vão ficar para trás as sombras e o frio. Nesse dia quando voltarmos a encontrar o caminho do sul, iremos em direcção a um inverno de sol. Onde haverá acácias e bonitas mulheres, cujas pulseiras rivalizam com a curva do Geba, antes deste se perder no coração das trevas.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

JOSÉ MIGUEL

Espero que ainda sejas vivo, José Miguel. Porque os anos passam e agora já terás uns 75. E há uns 15 que não sei de ti. Logo hoje, José Miguel, me lembrei de ti, no dia em que o teu adorado Atleti ganhou uma competição das grandes. A primeira vez que vi um jogo à noite foi contigo e com o João. Convencer o João não foi coisa fácil, mas levaste a melhor e fomos ver o Atlético contra o Austria de Viena. No dia 16 de Setembro de 1970. O Atlético ganhou 2-0. Havia um repórter teu amigo que nos fez uma fotografia depois do segundo golo. Lá estou eu, no meio dos grandes, todo orgulhoso, na minha primeira noite de futebol europeu. Não nos esquecemos dessas coisas porque um puto de 7 anos nunca está à espera que os grandes o tratem com atenção.
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Há muitos anos que não sei de ti e da Paquita, com o seu sorriso esfíngico. A última vez, haverá uns 15 anos, fui ter contigo ao apartamento da Calle del Doctor Castelo. Zangaste-te quando te tratei por usted e depois fomos beber imperiais num bar que havia (ainda haverá?) na esquina da Avda. Menéndez Pelayo com a Calle del Doce de Octubre. Espero que ainda estejas entre nós, porque a festa que estarás a fazer nesta altura não será nada discreta.
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À tua e ao Atleti, José Miguel!
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DIZ-ME A TUA FONTE, DIR-TE-EI QUEM ÉS

O computador no qual escrevo estas palavras tem cerca de 300 tipos de letras. O blogger reduz o espectro a umas meras 8 alternativas. A minha opção vai pelo trebuchet ms, um tipo repousante e fácil de ler.
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Os psicólogos que se divirtam a descodificar as nossas opções. Durante muitos anos usei o courier new, talvez numa reminiscência das antigas máquinas de escrever, que me faziam lembrar o jornalista que nunca fui. Recusei quase sempre as fontes de perfil mais clássico, como o garamond ou o palatino. Numa tese tive de usar uma variante da times, chamada jaghbub, a única que permite as transliterações do alifato.
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Acham isto uma questão de lana caprina? Então leiam o artigo de Joel Alas, na última Única/Expresso, sobre a história da times new roman. A páginas tantas está esta frase espantosa: "no meio tipográfico não existe maior insulto do que a acusação de plágio". Quem diria?
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Querem ver um sortido alargado de fontes? Tentem www.itcfonts.com
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