segunda-feira, 31 de agosto de 2020

E TERMINA AGOSTO...

 ... assim, sem glória. Não houve escavações arqueológicas no Castelo de Moura. Não houve festas. Nem romarias. Não fui ao meu concelho como gostaria. Em setembro não haverá feira, nem as aulas começarão na terceira semana. Tempos estranhos.

Foi um mês de trabalho de terreno. De propostas e de apostas futuras. De continuação de recolhas e de registos. Alea jacta est, já lá dizia o outro senhor.

domingo, 30 de agosto de 2020

MUDEJAR CONIMBRICENSE

Uma parte do passado de Coimbra continua por valorizar, de forma global e assertiva. Cidade mediterrânica mais a norte, talvez uma certa vertente fradesca tenha contribuído para ocultar a presença do sul islâmico. Poucos conhecem a inscrição em língua árabe nos muros da Sé Velha, tal como é globalmente desconhecida a presença impactante dos azulejos sevilhanos no seu interior. O Museu Nacional de Machado de Castro tem, felizmente, um teto mudejar em exposição. O teto não pode ser deslocado do sítio. Mas há outros fragmentos, que serão vistos em Lisboa, que ilustram bem um período e uma arte.



sábado, 29 de agosto de 2020

PORFÍRIO PARDAL MONTEIRO, NA RUA PRIOR DO CRATO

Retomo a Volta a Portugal. Quarta paragem do primeiro dia: Rua do Prior do Crato. Com um nome grande da arquitetura portuguesa no século XX. Porfírio Pardal Monteiro começou a trabalhar, ainda muito jovem, na Caixa Geral de Depósitos. Desenhou quatro edifícios, que conheceram diferentes destinos:

Beja - é hoje uma capela da Igreja de Santa Maria.

Setúbal - demolido.

Alcântara - mantém-se em funções, muito modificado, mas com muitos traços originais, também.

Porto - mantém-se em funções.


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

POESIA NA LOURINHÃ

Retomo o périplo arquitetónico. No meio dos projetos e das fachadas, há outro Portugal que surge. Mesmo a chegar à Lourinhã, encontro esta placa:










LENHA BATATA

PARA AGRIA E DOCE

LAREIRA


No verso lê-se:

BATATA LENHA

AGRIA E DOCE PARA

LAREIRA


Em tempos que já lá vão o Jornal de Letras publicava coisas assim. Os autores eram apresentados como novos valores da poesia.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

SUDÃO ORIENTAL

Sudão - سُودَان [sûdân] é o plural de أَسْوَد [as-swad], que quer dizer negro. Antes designava toda uma parcela de África. Hoje é uma zona específica. De onde vem Nyanjam Malek. E não, a beleza não é "exótica". A beleza é.


Femme noire

Femme nue, femme noire
Vétue de ta couleur qui est vie, de ta forme qui est beauté
J'ai grandi à ton ombre ; la douceur de tes mains bandait mes yeux
Et voilà qu'au cœur de l'Eté et de Midi,
Je te découvre, Terre promise, du haut d'un haut col calciné
Et ta beauté me foudroie en plein cœur, comme l'éclair d'un aigle

Femme nue, femme obscure
Fruit mûr à la chair ferme, sombres extases du vin noir, bouche qui fais lyrique ma bouche
Savane aux horizons purs, savane qui frémis aux caresses ferventes du Vent d'Est
Tamtam sculpté, tamtam tendu qui gronde sous les doigts du vainqueur
Ta voix grave de contralto est le chant spirituel de l'Aimée

Femme noire, femme obscure
Huile que ne ride nul souffle, huile calme aux flancs de l'athlète, aux flancs des princes du Mali
Gazelle aux attaches célestes, les perles sont étoiles sur la nuit de ta peau.

Délices des jeux de l'Esprit, les reflets de l'or ronge ta peau qui se moire

A l'ombre de ta chevelure, s'éclaire mon angoisse aux soleils prochains de tes yeux.

Femme nue, femme noire
Je chante ta beauté qui passe, forme que je fixe dans l'Eternel
Avant que le destin jaloux ne te réduise en cendres pour nourrir les racines de la vie.

Léopold Sédar Senghor, Chants d'ombre


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

NOVO ÉS, VELHO SERÁS

Fotografia - Robert Mapplethorpe
 

Um texto importante, o de Carmen Garcia, no "Público". Na primeira pessoa e sem sentimentalismos fáceis. Direto ao tema.

Era uma vez um lar

Como aluna de Enfermagem, ainda com insuficiente sentido crítico, fiz o melhor que consegui. Num esforço hercúleo para não fugir, franzi o sobrolho em concentração, coloquei um bocadinho de creme perfumado debaixo do nariz, tal como a minha orientadora tinha feito, e uma máscara. E depois passámos horas a fazer pensos.

A Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz, foi o primeiro lar onde entrei na vida, era ainda aluna de Enfermagem. Lembro-me dos tectos altos do edifício, da simpatia da funcionária que nos recebeu, vestida com uma bata azul e branca aos quadradinhos, e de uma sala de convívio que me pareceu gigante. Infelizmente as recordações boas terminam aqui. E começa o cenário dantesco.

Como aluna de Enfermagem, ainda com insuficiente sentido crítico, fiz o melhor que consegui. Num esforço hercúleo para não fugir, franzi o sobrolho em concentração, coloquei um bocadinho de creme perfumado debaixo do nariz, tal como a minha orientadora tinha feito, e uma máscara. E depois passámos horas a fazer pensos.

Tudo isto que vos conto aconteceu em 2009 e suponho que, ao longo destes 11 anos, muita coisa tenha mudado. Só que aparentemente não mudou o suficiente. E sabem qual é o verdadeiro problema, muito maior que qualquer trica política? É que este lar está longe de ser caso único.

Contei há dias, na minha página pessoal de Facebook, que no início da minha carreira comecei a fazer umas horas num lar de onde acabei por me despedir após ser repreendida aos gritos porque, num dia quente de Agosto, coloquei protector 50+ no rosto de um idoso de 80 anos que andava a trabalhar na horta. Aparentemente e segundo me gritaram, o protector era demasiado caro para ser utilizado assim. Ainda estou para perceber o que raio seria este “assim”, mas nesse dia percebi que, nestes casos, não pode existir um “se não os podes vencer, junta-te a eles”. A única solução, quando não conseguimos mudar as más práticas, é vir embora e denunciar. Mesmo que as denúncias caiam quase sempre em saco roto.


Sei que é importante que no caso de Reguengos se apurem responsabilidades. Também sei as coisas terríveis que os meus colegas lá viram e viveram. Sei do cheiro a urina, dos idosos só de fralda, do calor abrasador e da falta de condições. Mas também sei que é ainda mais importante que nos façamos ouvir agora, enquanto sociedade, para mudar de uma vez por todas o paradigma de muitos lares deste país.


Não vou cair no caminho fácil do “se fossem cães estava toda a gente indignada”, porque, além de ser um argumento vazio, me parece falacioso. Eu também me preocupo com os cães. E isso não quer dizer que não me preocupe com os idosos. Ou com as crianças. Preocupo-me com todos aqueles que, sendo frágeis, temos obrigação de proteger. E preocupo-me ainda mais quando percebo que falhamos.


Reguengos pode servir como bode expiatório, mas está longe de ser caso único. Pensem nos lares que conhecem, pensem em quantos deles têm quartos individuais, em quantos respeitam a sabedoria dos idosos, em vez de os infantilizar, pensem naquelas salas de estar que parecem antecâmaras da morte… E as imobilizações? Já pensaram sobre isso? Todos os estudos apontam que as imobilizações não reduzem de forma significativa o número de acidentes, mas, ainda assim, continuamos a ver em todo o lado idosos presos a camas, cadeirões e cadeiras de rodas.


Parece-me que é altura, enquanto sociedade, de levantarmos a voz e de exigirmos respeito e dignidade para com aqueles que nos deram a vida. É altura de não nos calarmos, de denunciarmos, de não deixarmos passar, de pressionarmos a Segurança Social para que faça inspecções surpresa e para que não feche mais os olhos.


A minha avó, que felizmente esteve sempre em casa connosco, dizia muitas vezes: “Filho és, pai serás, como fizeres assim encontrarás.” E eu acho que podemos adaptar esta frase para um “novo és, velho serás”.

A VINGANÇA DE SNOOP DOGG

Uma antiga embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas garante que Biden e os democratas querem transformar o país num estado socialista.

Socialista??? E depois o Snoop Dogg é marijuana a toda a hora, etc. e tal...


terça-feira, 25 de agosto de 2020

TOSCA SEXUAL

Não sou entendido em música, nem sequer melómano. Mas também não sou exatamente surdo... E também não sou puritano. Mas a Tosca de ontem à noite, no esplendor do Museu Nacional de Arte Antiga, deixou-me muitas dúvidas. A encenação, em especial.

Sexo (e droga) a mais? Sem justificação? Parece-me bem que sim.

No final do primeiro ato, há uma orgia LGBH.

No início do segundo ato há umas linhas de coca, depois cenas de sexo pouco consensual entre Scarpia e Tosca. Depois, vem uma morte em pleno coito, ao jeito de "Instinto fatal".

O terceiro ato foi um pouco mais pacato, valha-nos isso.

Viva Cavaradossi / Xavier Moreno.




domingo, 23 de agosto de 2020

SUDÃO OCIDENTAL

Do Mali chegam notícias perturbadoras. Jacques Majorelle (1886-1962) retratou a placidez doutros tempos de Bamaco, neste quadro de meados da década de 40 do século passado.

E agora, como estará Bamaco?

Haverá acácias e belas mulheres à sua sombra, nos domingos de Bamaco? As águas do Níger trarão frescura aos domingos de Bamaco? Correrá um pouco do harmattan, o terrível vento do deserto, nas ruas dos domingos de Bamaco? Soprará esse vento sobre as águas do Níger, por entre as acácias e as belas mulheres? Que oásis haverá?

Adicionar legenda


sábado, 22 de agosto de 2020

STARDUST MEMORIES Nº. 40: CUADRO FLAMENCO

Levei anos até encontrar este trecho do disco En la cueva. O flamenco, o cante jondo em especial, os fandangos de Huelva estão entre os mais belos sons do Mediterrâneo. Isso é certo, para mim.

Martins Scorsese fez um aproveitamento, absolutamente genial, destes sons no filme "Nova Iorque fora de horas". O frenesim do filme é igual ao som frenético do Cuadro Flamenco. E à voz de Manolo Leiva (1924-2012). E ainda a Manitas de Plata (1921-2014), menos canónico mas, ainda assim interessante. Um 3 em 1 mais que perfeito.

Memórias de outros tempos, da infância à juventude.



sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SQUIDS E GRILLED LIZARDS, NUM CERTO RESTAURANTE

Os romanos acreditavam no espírito do lugar. O genius loci. Aquele restaurante tinha um. Em tempos, o dono resolvia tirar, ao vivo, as dúvidas sobre tradução dos pratos em língua inglesa usando os parcos conhecimentos do autor do blogue. Ante um casal de séniores da pérfida Albion resolveu tirar dúvidas:

- Santiago, como é que se diz lulas?

- Squids.

Ato contínuo, virava-se para os ingleses e anunciava, cerimonioso:

- We have squids.

E depois, para mim:

- Então, e bacalhau?

- Codfish.

- We have codfish.

Eu ria até às lágrimas. Então, o proprietário, sempre sorridente e cerimonioso, apontou na minha direção e anunciou:

- He, mayor.

Só me lembrei do "Me, Tarzan, you, Jane" e ía tendo uma apoplexia, ante o olhar atónito dos bifes, que deviam pensar "pois, o Mediterrâneo é esta farra e esta desgraça".

Tempos depois, o restaurante mudou de gerência. Ia a entrar no estabelecimento, quando o novo dono, um jovem simpático e jovial, me mostrou a ementa: "já viu? traduzi para inglês!". Olhei o menu à porta, com atenção. Estaquei num ponto. Havia grilled lizards. Havia o quê? Lagartos grelhados... Supostamente, o meu amigo queria anunciar aquela parte do porco a que chamamos "lagartos". Publicitava, contudo, algo de completamente diferente. Ou seja lagartos, dos verdes mesmos, na grelha. Aconselhei-o "tira isso daí, antes que tenhas aqueles ingleses, que acham que somos todos uns bárbaros, à perna". Tirou e passou anunciar uma mais banal grilled meat, ou algo assim.

Foi há um par de anos. É por estas e por outras que uma certa terra da margem esquerda do Guadiana me dá cabo do sentido.



quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A CRUZ E O MARTÍRIO

Um grupo de franciscanos foi martirizado em Marrocos, no início de 1220. Esse foi o ponto de partida para um projeto que devia ter sido de uma forma e depois foi de outra. Que foi, afortunadamente, acolhido no Museu Nacional de Arte Antiga, onde da ideia inicial se passou a outra, bem mais abrangente e interessante.

Por entre as oscilações que estes processos sempre conhecem, há uma peça firme. A cruz do próprio MNAA, assim descrita por Joaquim Caetano no site Discover Islamic Art

Cruz flordelisada, com intersecção da haste e dos braços em quadrado, nó esférico achatado e haste tubular de encaixe. A decoração do campo da cruz é formada por uma fita contínua que contorna o perímetro de toda a peça e forma no seu interior losangos e triângulos preenchidos por motivos geométricos e florais. Nos cantos do quadrado onde se inscreve o centro da cruz desenham-se quatro octifóleos. O reverso é igualmente delimitado por uma fita, sendo os braços e a haste, preenchidos por entrelaçados geométricos de inspiração vegetalista. No centro forma-se uma grande circunferência decorada com entrelaçados geométricos, bastante complexos, formando múltiplos centros, que constituem o mais típico elemento islâmico da decoração da cruz. Não só a decoração, como a forte probabilidade de o metal ter sido extraído de uma mina norte-africana, parecem documentar nesta peça um trabalho de artista das comunidades islâmicas peninsulares, cristianizado ou não, mas trabalhando obviamente para os reinos cristãos ibéricos.

Este tipo de cruzes tinha uma dupla função, servindo como cruz de alçar, utilizada em procissões e funerais, mas podia igualmente ser assente em bases e funcionar como elemento do aparelho litúrgico do altar.

Uma peça de primeira linha para um projeto bem assente no martírio.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

HYDRA

Na televisão, passa uma série filmada em Corfu. Creio que é em Corfu, mas não me dei ao trabalho de confirmar. Recuo 14 anos e desemboco em Hydra e no Mosteiro do Profeta Elias, perto da cidade em linha reta, mas lá bem no alto.

Essa é uma memória de Hydra. As outras:

Que éramos bem mais novos (nós 43, a Luísa tinha 9, o Manuel ainda não chegara aos 13);

O porto;

Uma ilha sem carros;

Uma cidade que não é branca de postal turístico;

A árvore no meio da praça;

O restaurante Manolis, cuja dona nos atendia e depois recuava sem nos virar as costas, parecendo que deslizava sobre rodas;

A trovoada medonha que se abateu sobre a ilha;

Um poema de Sophia.

Há na manhã de Hydra uma claridade que é tua
Há nas coisas de Hydra uma concisão visual que é tua
Há nas coisas de Hydra a nitidez que penetra aquilo que é olhado por um deus
Aquilo que o olhar de um deus tornou impetuosamente presente -

Na manhã de Hydra
No café da praça em frente ao cais vi sobre as mesas
Uma disponibilidade transparente e nua
Que te pertence

O teu destino deveria ter passado neste porto
Onde tudo se torna impessoal e livre
Onde tudo é divino como convém ao real


Hydra, Julho de 1970


terça-feira, 18 de agosto de 2020

E ENQUANTO TRUDEAU SE MASCARAVA DE ALADINO...

... eu andava pelo matadouro de Bissau.

Este homem dançava à minha frente, interpondo-se, de tempos a tempos, entre a minha objetiva, os jagudis, as paredes e as vacas. Era uma dança lenta, que quase fazia lembrar os gestos do laamb dos lutadores senegaleses. No final, fez esta pose, um pouco à Travolta, e fiz-lhe uma fotografia. Ato contínuo, virou-se para mim, de braço e dedos esticados e gritou: "BRANCO! ÉS MALUCO!". As pessoas em volta riram. Eu também, não podendo deixar de pensar "pois, ele deve mesmo pensar que há centenas de coisas mais interessantes para fotografar em Bissau do que aves de rapina e paredes sujas de sangue...".

A polémica pífia à volta de disfarces carnavalescos desapareceu. A minha memória da África Ocidental permanece, bem vincada. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

UM PRÍNCIPE EM SÃO BARTOLOMEU DE MESSINES

No facebook de um velho amigo fui dar com esta preciosidade, que presumo ser autêntica:

Ou seja, um cidadão português convidava o Prof. Leite de Vasconcelos a deslocar-se a S. Bartolomeu de Messines, para contactar com seres de outros planetas. E logo em duas noites, 19 e 20 de dezembro de 1921 ("mais uma vez (...) pela recepção de signais demosntrativos").

Lembrei-me, de forma irresistível, de um diálogo do filme "Um príncipe me Nova Iorque"...

domingo, 16 de agosto de 2020

OUTSIDERS

A principal competição de clubes do futebol europeu anda por Lisboa. Dos quatro semi-finalistas, três têm pouca história: o Lyon e o Leipzig nunca ganharam nada, o PSG tem, como coroa de glória, a defunta Taça das Taças, em 1996. São os improváveis protagonistas das semi-finais. Nesta disputa franco-alemã, estes três são os outsiders.

Fico a torcer por eles. Gosto de outsiders.

sábado, 15 de agosto de 2020

SEPPUKU

Como já não tivéssemos problemas de sobra, eis que o PSD, um partido importante e necessário, resolve abrir as portas à extrema-direita. Que já começou a engolir o CDS e se prepara agora para alargar o território. Temos vento nefasto pela frente. E um pobre coitado à frente do PSD.


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AO JEITO CAMPOMAIORENSE

Desce-se uma rua, depois sobe-se outra, depois outra ainda. Depois, contorna-se o castelo. As certezas tremem e desaparecem. Afinal, parte do que o sr. Duarte Darmas desenhou mantém-se, sim. Outra parte foi levada pelos baluartes modernos.

O castelo tem quartéis, do mesmo género dos que tem Moura, mas menos espaventosos. Não menos bonitos, por certo. Quem mora no castelo é a comunidade cigana. No calor das 13 horas, um homem de fato claro, gravata, pasta castanha numa mão, um dossiê com desenhos na outra, deve parecer estranho. Um cão não gostou de mim. Uma pequenita, dos seus 10/12 anos, intrigada, não resiste e pergunta "você é dos Jeovás?". Mesmo junto ao castelo fica a Rua Direita. A placa toponímica dá-lhe outro nome, bem mais divertido.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

DUARTE DARMAS - O SITE E OS APOIOS


Aos poucos, o projeto (promovido pela MULTICULTI, e do qual sou autor) toma forma. O site agora tem o formato definido, com as cinco secções que o compõem. Dos 20 castelos, estão registados 13 (até final do mês de agosto essa tarefa estará terminada).

Para já, está aberta a secção onde se reproduzem as imagens desses 20 castelos, segundo foram vistas por Duarte Darmas, há cerca de 500 anos. Quais são os sítios abrangidos?

Alandroal
Alpalhão (Nisa)
Arronches
Assumar (Monforte)
Campo Maior
Castelo de Vide
Elvas
Juromenha (Alandroal)
Mértola
Monforte
Monsaraz (Reguengos de Monsaraz)
Montalvão (Nisa)
Moura
Mourão
Nisa
Noudar (Barrancos)
Olivença
Ouguela (Campo Maior)
Serpa
Terena (Alandroal)

O site tem também uma secção consagrada aos apoios. Ou seja, às entidades que tornaram possível este projeto e a quem é devido reconhecimento e agradecimento:

Apoios financeiros
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo
Caixa Geral de Depósitos
Turismo de Portugal
Direção Regional de Cultura do Alentejo
Continente
Cafés Delta
Câmara Municipal de Barrancos
Câmara Municipal de Campo Maior
Câmara Municipal de Castelo de Vide
Câmara Municipal de Elvas
Câmara Municipal de Mértola
Câmara Municipal de Mourão
Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz
Câmara Municipal de Serpa

Parcerias institucionais
Arquivo Nacional da Torre do Tombo / DGLAB
Turismo do Alentejo / ERT
Resialentejo
  

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

KID CREOLE: PARABÉNS SR. AUGUSTO!

O nome é mesmo Thomas August Darnell Browder, mas ficou conhecido como Kid Creole. Fez parte do meu panteão musical de juventude e foi fonte de inspiração para as minhas camisas. Aquela mescla de sons latinos, africanos e caribenhos tinha lugar cativo no meu espaço radiofónico na Associação de Estudantes de Letras. Um programa de escasso sucesso e de vida breve.  Fresh Fruit in Foreign Places (1981) e Tropical Gangsters (1982) ainda andam cá por casa. Hoje é dia de saírem à cena, para festejar os 70 anos do sr. August Darnell. Parabéns ao Kid Creole.

Não consegui encontrar um vídeo de jeito de "Musica americana", de Coati Mundi. Aqui fica o There's something wrong in paradise, com um som assim um bocadinho à Malcom McLaren.



terça-feira, 11 de agosto de 2020

SPUTNIK

Um professor do Técnico ficou célebre, no final dos anos 50 do século XX, por demonstrar, com abundantes argumentos técnicos, que era impossível os russos terem posto um satélite em órbita. Puseram mesmo, e o professor foi alvo de chacota generalizada.

Agora, é anunciada, pelos russos, uma vacina contra o covid. Sintomaticamente, deu-se-lhe o nome de SPUTNIK. O primeiro a dar sinal de vida foi José Milhazes. Aquilo é tudo propaganda, diz ele. Milhazes arrisca-se a ser o Varela desta história.

Aguardo, com natural interesse, o desenrolar dos acontecimentos. Oxalá a vacina resulte. A bem de todos nós. E, também, para ver a cara de José Milhazes.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

STARDUST MEMORIES Nº. 39: LOS ROMEROS DE LA PUEBLA

Talvez fosse por afinidade geográfica, a família de Paymogo "pendia mais" para Los marismeños e para Perlita de Huelva (n. 1939). A verdade e que sempre gostei mais dos Romero de la Puebla. Que eram da Del Río e não da De Guzmán.

Os Romeros de la Puebla passaram gerações e dobraram o século. Quando o tempo avança, começamos a querer voltar aos lugares de origem. A frase foi-me disparada, há uns 10 anos, por Antonio Malpica Cuello, no sul de França. Penso muitas vezes nisso. Com a agravante de ter uma dispersa geografia sentimental.

Aqui ficam os Romeros de la Puebla, nestas alturas em que um certa estética campestre anda a ser recuperada.



LA LOGIQUE DE LA POMME DE TERRE

Que é como quem diz, a lógica da batata.

Esta descoberta do "Jornal de Notícias" é fantástica. As maior parte do nosso tecido económico está no litoral. Portanto...


domingo, 9 de agosto de 2020

SEMPRE AOS DOMINGOS

Nunca tive oportunidade de visitar o novo museu da Acrópole. Pode ser que um dia...

Entretanto, e enquanto se prepara trabalho, põe-se às avessas o título de um filme outrora célebre e revê-se o museu antigo, via Elliott Erwitt (n. 1928). Que por ali andou em 1963, quando as máscaras eram outras.


DE VLAMINCK, REVISTO E SEM COR

Dir-se-ia que não tenho mais nada que fazer, e não é verdade. Mas andando à volta dos fauvistas, encontrei uma obra de Maurice de Vlaminck (1876-1958) que me levou ao ocioso exercício de "como será hoje?". O sítio, em Bougival, não é difícil de encontrar. O colorido, ao jeito de Olinda, da paleta de De Vlaminck, deu lugar a uma realidade menos festiva.

Este exercício comparativo, e a arqueologia visual dos sítios, estão no centro de vários trabalhos. Resultados a publicar nos próximos meses.


sábado, 8 de agosto de 2020

SÍNDROME RONNIE ALLEN

Ronnie Allen (1929-2001) foi treinador do Sporting em 1972/73. Tinha um estilo algo exuberante, esbracejava e gritava ordens. Dizia que queria homens e não meninos dentro do campo. Os adeptos, a princípio, acharam que sim. Com o Ronnie Allen é que era. A época foi péssima. Em abril de 1973, o Sporting era 5º. Ronnie Allen foi despedido. O episódio Ronnie Allen ficou-me na memória porque os amigos do meu pai, maioritariamente sportinguistas, no início da época achavam que "sim senhor, assim é que é". Afinal não era, era só espalhafato a fingir capacidade de liderança.

Lembro-me muitas vezes deste género de treinadores. Que aliam o espalhafato à incompetência. Tantas vezes que me lembro disto. Por causa do futebol, mas não só do futebol.

Na fotografia não está Ronnie Allen, clarifico

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

ÁGUA – PATRIMÓNIO DE MOURA (CINCO ANOS DEPOIS)

Tenho, ao longo dos anos, somado experiências, no âmbito das exposições, que considero particularmente gratificantes. Desde “Moura na época romana” até às que estão “em fase de montagem” (o covid é quem mais ordena...), contam-se quase 20 projetos, ao longo de 30 anos, e com passagens por terras africanas e americanas.

É-me difícil dizer qual foi o que mais me agradou ou o mais completo. Ou aquele em que colhi mais ensinamentos. Talvez o de maior impacto público tenha sido “Portugal Islâmico” (1998), por ter sido a primeira síntese arqueológica daquele período. Ou o que mais me tenha impressionado tenha sido “Lusa: a matriz portuguesa” (2007), no Rio de Janeiro, por ter ultrapassado a inimaginável fasquia dos 750.000 visitantes.

Feito o balanço, e agora com três exposições em fase de preparação, a aguardar luz verde dos melhores dias que virão, talvez a experiência mais marcante tenha sido “Água – património de Moura”. Em primeiro lugar, pelo desafio de conceber um guião e de o pôr em prática, ao mesmo tempo que desempenhava outras tarefas, bem mais complexas, de resto. Depois, pela especificidade e caráter volátil do tema. Houve uma opção de base, que mantenho e continuo a considerar válida. Do ponto de vista conceptual, creio que muitos museus locais têm muito a ganhar com abordagens "não-diacrónicas" das coleções ou do património local. Daí que a água fosse vista na sua intemporalidade, explicando-se a importância decisiva que o aquífero Moura-Ficalho tem em todo este território.

O edifício tinha dificuldades logísticas, e de percurso, que foram superadas, com esforço e numa permanente procura de soluções. Resolvemos aproveitar os espaços circundantes, apesar do seu ar precário e inacabado. Assumiu-se aí um certo estilo “arte povera”, que tão bem resultou nas sucessivas exposições (uma sobre aquedutos, outra com fotografias de José Manuel Rodrigues) que ali se montaram. Tal como foi gratificante receber no local João Neto, Pedro Inácio, Jorge Calado, Alexandre Pomar, entre muitos outros, em sucessivos debates. Programas de animação vocacionadas para o público infantil completaram o leque da programação.

Durante dois anos, “Água - património de Moura” esteve patente ao público. O local foi visitado por colegas autarcas de Portugal, Espanha, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Claro que cabe aqui especial menção a visita do Presidente da República Portuguesa. Tal como cabe destaque para os vários prémios com que a exposição foi distinguida.

Faço questão de assinalar a data. E de recordar os nomes dos que estiveram com o projeto: Marisa Bacalhau, Vanessa Gaspar, Patrícia Novo, Francisco Mota Veiga e a Terraculta, Jorge Silva, António Viana, Vítor Vajão, Jorge Murteira, Manuel Passinhas da Palma, José Finha, a equipa de arqueologia (Mário Romero, Luísa Almeida, Marta Coeho) e vários etc. 

Um lustro passou. Aquele projeto deixou marcas fundas. A minha vida profissional tomaria outro caminho. Faço questão de recordar aquela exposição. Em especial numa altura em que leio tantas declarações de amor ao tema "museus". Com alguma frequência, vindas de quem não tem a mais remota ideia do que está a dizer.


Crónica em "A Planície"

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

NÃO VALE TUDO...

Recentemente, um ex-vereador do Partido Socialista acusou-me de esconder faturas para alterar a transparência das contas. Uma afirmação típica de quem a profere. Eis a resposta, ontem publicada em "A Planície".

AS CONTAS DO MUNICÍPIO – DIREITO DE RESPOSTA

 

Os longos, enfadonhos e “técnicos” artigos de António José Gomes não me fazem perder muito tempo de leitura. Aquela conversa pseudo-séria sobre a economia local não leva a lado nenhum. E, no momento e no local próprios, se dirá o que deve ser dito sobre pagamentos, despesas correntes, investimentos e obras. Destas muito pouco se tem visto e, assim, sem quase nada se fazer, bem se pode pagar dívida...

Mas há um ponto inadmissível, no artigo de António Gomes. É quando diz que “nesse tempo [mandato da CDU, quando fui presidente] as facturas dos fornecedores eram frequentemente guardadas na gaveta em vez de lança-las no sistema. Era uma forma de contornar os limites impostos pela lei, mas adulterava completamente a transparência das contas”.

A desonestidade intelectual de António Gomes torna-se um clássico e revela uma criatura pouca idónea:

1)   A contabilidade de uma Câmara Municipal não é a de uma mercearia dos anos 50 do século passado;

2)   Importaria que se explicitasse quem terá mandado esconder faturas (o pelouro financeiro era meu e sou pouco dado a brincadeiras);

3) Já agora, também seria interessante saber o nome de quem, tão pressurosamente, lhe disse este tipo de enormidades;

4) Na aplicação da contabilidade é possível cruzar a informação entre a data do documento e a data do lançamento. Nem sempre é possível fazer esse lançamento por ausência de fundos disponíveis (e não por qualquer manobra, habilidade ou intenção de contornar a lei);

5) Seria interessante, já agora, mostrar esses valores (incluindo os do atual mandato). Para se saber qual o montante da gaveta e qual a sua verdadeira relevância.



quarta-feira, 5 de agosto de 2020

FAKE FUNDING

Um vídeo espantoso. Do autor das já célebres frases "passa pela cabeça de alguém ir aprender para a Universidade de Évora? Ou para a da Beira Interior? Ou para a do Algarve?".

Não vale a pena fazer grandes comentários. A não ser este: o que no vídeo se diz sobre as bolsas governamentais para doutoramentos é falso.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

DAS AMENDOEIRAS EM FLOR A DACAR

Ao ver esta fotografia da francesa Charlotte Lapalus, algures no Lac Rose, lembrei-me das minhas mais que longínquas aulas de Língua Árabe. Numa delas, o Prof. Cunha Serra referiu uma das favoritas de um dos califas, conhecida como vara de bambú, pela sua figura esguia e exótica.

Não tenho a certeza que se tratasse da célebre Zahara, uma senhora do norte, que está na origem da nossa lenda das amendoeiras em flor. Mas o perfil não se devia afastar muito do desta mulher.

A fotografia de moda não tem que ser banal ou ostensiva.

Ver - http://charlottelapalus.com

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

LUTA ECONÓMICA E AMBIENTAL

Os pescadores prestam, e até agora ninguém explicou a razão contrária, um serviço ao Ambiente. E são dinamizadores da atividade económica. Então, qual é que é o problema? E porque carga de água estão a ser penalizados?

É nestas alturas que os poderes políticos e públicos têm de vir à linha da frente. Ou isso dá muito transtorno?

REGRESSO

Foi tudo mandado para casa em meados de março. Passaram quatro meses e meio. O tal de teletrabalho levou-me a mergulhar no trabalho muito mais que 7 horas por dia. Regressei à base, brevemente, em meados de junho, para recolher materiais e preparar trabalho de campo. Retorno amanhã - o cartão de acesso caducou, a palavra-passe do computador idem... -, para tentar preparar as próximas semanas e os próximos meses.

E agora?

Como vai ser com os projetos em suspenso? Com os livros maquetados e por imprimir? E agora, como vai ser com as aulas, com a tenebrosa perspetiva de ser tudo outra vez à distância? Como vai ser com a família? Como vai ser no local de trabalho, entre o confinamento e o conforto do gabinete e a necessidade de resolver coisas?

São problemas menores, disso me convenço. Com o desemprego a alastrar, com a economia a afundar-se, com nuvens negras no horizonte, não tenho, na minha relativa segurança, o direito ao mais pequeno lamento.

Lisboa é uma cidade bonita? Sim, das mais belas entre as que conheço. Hoje mesmo constatei isso, sentado no silêncio do Largo da Academia Nacional de Belas-Artes. A 175 kms da casa de Mértola, a 160 kms. da casa da Salúquia. Está na altura de, na melhor companhia, aproveitar estes dias de regresso. Numa cidade com menos gente e num agosto que vai ser ainda mais sossegado.

domingo, 2 de agosto de 2020

SOUSTONS, LA VILLE ET LA FÊTE

Faz hoje um ano, podíamos andar assim. Na rua, abraçados, animados, nos copos e festejando. Estávamos no sul de França, em Soustons. A corrida correra muito bem e o Real de Moura tinha elevado a fasquia, por aí acima.

Vários amigos vieram hoje recordar a data, no facebook. As saudades destas coisas dão cabo da gente...

Tomber la chemise? Sempre!
O copo reciclável ainda está cá por casa. Levo-o na próxima, e não é por forretice.


HÁ 26...

Recentemente, percorri todo o Entre Douro e Minho, em trabalho, Quase nunca andei fora de auto-estradas. Não havia vila ou pequena cidade que não tivesse uma auto-estrada a curta distância. Um exagero? Não sei dizer. Notei apenas que muitas delas tinham pouquíssima circulação.

A litoralização do país acentua-se e leva o chamado "interior" a pique. A anedota da A26 é um exemplo claro da arrogância Lisboa-Porto face ao resto. Ontem, enfiei pela A26. Queria saber que colossal distância motivara aquela novela. São 12 (doze) quilómetros, senhores. É preciso dizer mais?

sábado, 1 de agosto de 2020

SOZINHO NA RUA, NO DIA 1 DE AGOSTO DE 1970

Andava brincando no Jardim da Porta Nova, quando chegou a noite. Os dias de verão eram todos uns iguais aos outros. Felizes, tranquilos e iguais. Voltei para casa. Bati à porta. Nada. Nem um som dentro de casa. O postigo fechado, coisa rara. Rumei a casa dos meus tios, a escassos 50 metros. Nada também. Ninguém em casa. Já era noite cerrada. Fui à Sociedade dos Azeites, onde o meu avô era porteiro. Nada também. A porta da casa estava fechada, coisas que nunca acontecera. Intrigado e sem saber que fazer (aos 7 anos não temos grande experiência de vida...), regressei ao jardim. Pacatamente, sentei-me num banco. Fiquei à espera, não sei bem de quê. "Onde terão ido todos, assim ao mesmo tempo?". Nem a minha irmã, que só falava espanhol na altura (o que me dava sempre jeito, para a atazanar, mas naquele momento até eu falaria na língua da família de lá com ela), dava sinais de vida. Passou uma hora, depois outra. Eu sempre pacato e silencioso, no banco do jardim. Nem Manoel de Oliveira se lembraria de uma coisa assim.

Já seriam umas onze da noite, quando apareceram todos de roldão no jardim. Em passo apressado, que na altura ninguém tinha carro. Nascera o meu primo Pedro e tinham ido todos para o Hospital de Moura, ver a criança. Deixar de ter protagonismo e passar a ser ator secundário é isto.

Foi no dia 1 de agosto de 1970. Faz hoje 50 anos.

Parabéns, Pedro!